Piloto de Fuga

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- Acho que tô precisando de uma tatuagem nova. - Liv comentou enquanto olhava para seus braços tatuados.

- Você tá ficando sem espaço, se enxerga. - Pamela respondeu sem um pingo de paciência, o que não era uma surpresa. - Me passa a chave inglesa. - a mão dela foi a única coisa que saiu debaixo do carro.

Bufando, Liv se levantou e foi até a caixa de ferramentas que estava perto de Pamela, mas ela era preguiçosa demais para pegar. Liv não reclamaria, no entanto. Pamela sempre fazia qualquer serviço que ela pedia em seu carro e deixava ela pagar depois mesmo lhe dando aquele descontinho de amizade.

Ela entregou a ferramenta para Pamela e se aproximou de seu carro que estava um pouco elevado em uma plataforma para esse pequeno reparo. Enquanto alisava a lataria verde impecável, ela sorria. Aquele carro era seu filho. Seu bebê. Algo que ela valorizava mais do que qualquer pessoa que passasse por sua vida e isso incluía as namoradas que ela já teve.

Os poucos relacionamentos sérios que ela teve sempre acabavam pelo mesmo motivo de sempre: seu vício em corridas de rua. Aquela era uma coisa que Liv sabia bem que às vezes passava dos limites, ela vivia para seu carro e para as corridas, mas era a única coisa que ela tinha que a mantinha viva e ela nunca estaria disposta a abrir mão. Por ninguém. Nunca.

E se isso significava ficar sozinha pra sempre, que seja.

- Fiquei sabendo que a corrida de hoje vai valer uma bolada. - Pamela comentou tirando Liv de seu devaneio, mas as mãos continuaram acariciando seu bebê.

- Doze mil. Mas o risco é alto, como é de se esperar. Não é uma corrida pra amadores, isso é certo.

- Quanto você tá pagando pra entrar?

- Quatro mil.

- Muita grana. Acho que você tem que ganhar pelo menos em terceiro pra valer a pena.

- Eu vou terminar em primeiro. Eu tô sentindo que hoje é o meu dia, Pam.

Pamela deu uma risadinha que deixou Liv completamente irritada.

- O que foi?!

- Primeiro lugar? É sua primeira corrida de alto risco e você sabe que faz meses que aquela Scar é a favorita e sempre termina em primeiro. O carro dela é tunado até o talo e ela dirige como uma piloto de fuga.

- Eu não tô nem aí pra essa tal de Scar. Ela não me mete medo como faz com o resto. Eu venho estudando a forma que ela pilota há um tempo e vou te dizer, ela não é isso tudo que falam. - ok, aquilo era uma grande mentira. A forma que Scar dirigia era perfeita, mas ela nunca assumiria isso. - Eu tô confiante. - Liv deu murrinhos no ar, como se estivesse se preparando pra uma luta.

- A única coisa que eu sei dela além dela estar faturando uma grana com as corridas é que se o carisma ajudasse, ela sempre ficaria em último.

- Ela poderia ser a miss simpatia, eu ainda iria ganhar dela. Eu vou ganhar dela.

- Você sabia que o nome dela só é Scar por causa da cicatriz que ela tem no rosto? Eu pensava que era a abreviação de Scarlett.

- Eu não tô nem aí. - Liv falou com desdém. Nada disso importava. A única coisa importante era ganhar a corrida desta noite.

Pamela saiu debaixo de seu carro e se levantou, limpando as mãos sujas de graxas em seu macacão escuro.

- Bom, terminamos aqui. Vê se não estraga essa belezinha nessa corrida, eu trabalhei duro pra deixar ela perfeita na medida do possível.

- Não se preocupe. Valeu, Pam. - Liv a cumprimentou com um aperto de mão descontraído e um breve abraço. - Você tá fedendo.

- E você tá me devendo. Ainda mais.

Contos LésbicosOnde histórias criam vida. Descubra agora