SKY
Que droga de trabalho.
Foi a primeira coisa que Sky pensou enquanto se preparava. A missão daquela noite era simples em teoria, mas absurda em essência: sequestrar uma garota. E não, ela não estava exatamente de acordo com aquilo, mas também não tinha escolha. Nunca teve. Ou fazia, ou fazia. Simples assim.
Enquanto limpava a arma e acoplava o silenciador, pensou em como tinha parado naquela situação. Não houve bifurcações no caminho, nenhuma escolha real. Seu pai a internara numa escola militar como quem se livra de um fardo. E, para distrair a mente da vida de merda que levava, Sky treinou. Treinou tanto que se destacou. E quando você se destaca num lugar como aquele, alguém sempre nota.
Apesar do desempenho impecável, foi esquecida ali dentro. Não tinha amigos. O pai sumiu sem deixar rastro desde o dia em que a trancou no portão. Sem parentes, sem visitas. Era apenas um nome numa ficha. Até completar dezoito anos e ser convocada pelo sargento para fazer o trabalho sujo, aquele que ninguém admitia existir. "Extra-oficiais", foi o termo que ele usou, mas ela sabia o significado real: criminosos.
E que outra opção ela teria? Nenhuma. Era uma ninguém, vinda do nada. E ninguém que vem do nada recebe ofertas melhores.
Anos de treino lapidaram suas habilidades até o ponto de ser quase impecável. A força física, o domínio de armas, o sangue frio. Era a melhor em campo, e isso lhe rendia algo que nunca teve: respeito. Dinheiro. E algum controle sobre a própria vida.
Agora, com trinta anos, Sky encarava o que devia ser sua milésima missão. Talvez mais. Não importava. Por vezes, se perguntava como seria se tivesse tido outra vida. Um pai de verdade. Uma mãe. Uma casa. Mas, apesar do cenário sombrio em que se encontrava, não odiava sua vida. Era perigosa, claro. Sangrenta, muitas vezes. Mas pagava bem. E, mais importante, ela era boa nisso.
Só às vezes deixava a mente fugir, imaginando uma existência diferente. Longe de armas, longe de sangue, longe do risco iminente. Mas isso era uma fantasia. E ela não era do tipo que alimentava fantasias.
De volta à missão.
Por mais contraditório que fosse, o sequestro era para proteger a garota. Ela deu uma última olhada no dossiê, como se já não tivesse decorado cada detalhe. Rachel Bishopp. Vinte e três anos. Alvo de algum perigo que não lhe fora explicado. Mas importante o bastante para colocarem Sky como guarda-costas temporária.
Olhou para a foto e se perguntou, sem querer saber a resposta, como uma garota tão bonita havia se metido em algo assim. Mas não era da sua conta. Sua tarefa era simples: remover a garota do ponto A, conduzi-la ao ponto B, mantê-la segura até poder levá-la ao ponto C. Fim de missão. Dinheiro fácil.
Ou quase isso.
O problema é que Sky era a encarregada de ficar com ela. Uma semana inteira. Sete malditos dias bancando babá.
Ela passou pelo inferno para chegar onde estava. E não tinha o menor interesse em cuidar de garotinhas em risco.
- Tudo pronto? - A voz firme de Judy ecoou na sala de armas no exato momento em que Sky encaixava a última pistola no coldre.
Ela se virou devagar, respondendo com um aceno breve e seco.
- Sim, senhora.
Judy era a nova comandante. Filha de seu antigo chefe. Herdou o posto, a influência, o poder. Nepotismo puro, mas Sky não se importava. Que diferença fazia? Judy não a intimidava. Nem no campo de batalha. Nem fora dele.
- Lembre-se. Extração limpa. - reforçou Judy, se aproximando com aquele ar de quem se acha no controle. - Sem chamar atenção. Sem assustar a garota. E sem ceder aos caprichos dela. Rachel pode ser... difícil de lidar.

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Contos Lésbicos
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