primeiras vezes

1K 100 24
                                    

Esse eu escrevi pensando numa coisa fofinha e virou outra kkkkkk

É de antes do Canadá mas se encaixa nesse universo.

Me falem se você odiarem 🥺

••

Três vezes que elas fizeram coisas juntas pela primeira vez. E uma vez em que fizeram algo pela última vez.

1.

Natália se sente tonta. A festa está muito lotada, o calor é insuportável, e as margueritas que ela bebeu há muito deixaram de ser interessantes. Ela está usando uma sandália alta demais para sua sanidade mental, e tenta, sem muito sucesso, se equilibrar no que parecem ser dois pés esquerdos.

Ao se segurar na parede, percebe a cena a sua frente: Carol vidrada em Bruno, as duas mãos nos braços dele.

Sua vista está meio embaçada, mas do seu lugar ela consegue ver quando seu irmão, muito grosseiramente, a empurra e se afasta.

Natália sente o coração acelerar ao ver a maneira como o rosto de Carol se contorce, as mãos perdidas, os olhos procurando algo para se esconder. Ela sabe que a amiga bebeu demais e se prepara mentalmente para ajudá-la - visto que não está muito melhor do que ela.

"Carolzinha! Ei."

Carol a encara assustada. Os olhos vítreos por causa das lágrimas não derramadas. Ela se aproxima meio cambaleante da amiga e segura seu braço, puxando-a para a varanda.

"Eu..." Ela limpa as lágrimas. "Por que ele me trata assim?"

"Oh, Carol, é porque ele é um idiota de marca maior, isso sim."

Os soluços dificultam ouvir o que vem a seguir.

"Mas eu não entendo. Eu faço tudo certo e mesmo assim ele não me enxerga."

"Carol. Ei, ei." Natália segura as mãos da amiga. "Você tá hiperventilando. Olha pra mim."

É quando sente o mundo se dividir em dois. Ela vê Bruno, na escada, com oito anos, colocando o pé para que ela caia. Ela ouve a voz dele, você é burra. Ela vê os buracos na parede que ele fez aos 15 anos porque ela arrumou uma namoradinha. Natália sente medo. Medo porque ela sabe quem é a pessoa por quem Carol está chorando. E ela sabe também quem Carol é.

A menina que sempre divide sanduíches de frango com ela, que a ajudou a aprender o que era past simple, nouns e afins. Quem lhe disse pela primeira vez em anos, que a achava a menina mais bonita do curso de inglês. Ela se sentia vista por Carol. E queria vomitar pela perspetiva do asqueroso de seu irmão fazê-la sofrer tanto assim.

"Eu estou aqui com você, Carolzinha. Sempre." O aperto dela em sua mão fica mais forte. "Meu irmão não sabe valorizar as pessoas que o amam. Ele nunca..." Limpa a garganta. "Ele nunca me viu também. Mas quer saber? Você não precisa passar por isso. Olha aqui." Natália leva a mão ao rosto e empina seu queixo. "Você é maravilhosa. A melhor que eu conheço. Ouviu?"

"Obrigada, Nat. Eu..." Ela respira fundo. "Obrigada." E a abraça.

É a primeira vez que elas ficam tão próximas. Natália só consegue pensar em como ela é confortável, seu cheiro excluindo automaticamente tudo que há em volta. Natália apoia o queixo em em sua cabeça, o rosto de Carol contra o peito dela.

Ela nunca gostou de contato físico. Odiava que os pais lhe beijassem, que os tios apertassem suas bochechas, que as amigas fossem efusivamente carinhosas com ela. Mas Carol é diferente. Ela se sente bem, mais do que bem, em ser abraçada pela amiga.

duetos | narolOnde histórias criam vida. Descubra agora