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"Não posso te envolver mais nisso. Me perdoe pelo meu egoísmo, não era dessa forma que eu queria que acabasse. Sinto muito minha flor."

Era o que estava escrito naquele papel, enquanto eu afirmava a mim mesma, "você não faria isso", e lágrimas salgadas escorriam pelo meu rosto, meu peito se contorcendo enquanto pensava nas inúmeras situações que ele voltaria para mim.

Mas antes disso tudo acontecer, preciso te contar os detalhes, contar como minha vida se revirou por completo, quando as histórias que eu lia, se tornavam realidade bem diante do meu nariz, quando o poeta se apaixonou pela poesia, quando o amor se tornou história, a nossa história.

O tempo estava esfriando em Florença, afinal, o outono enfim tinha começado.

Na praça de Piazzale Michelangelo, haviam crianças pulando em montes de folhas, idosos sentados conversando sobre a vida e seus problemas, alguns casais passeando aproveitando o tempo juntos.

Enquanto a mim, estava sentada na grama, apoiada numa árvore sem folhas, com um bom livro na mão, com o fone tocando Je te laisserai des mots de Patrick Watson baixo no fone.

O tempo estava mais frio do que gostaria, e o meu suéter não estava me protegendo muito.

Era fim de tarde, o pôr do sol já era substituído pela estrelas, não havia percebido mas tinha passado do tempo de voltar para casa, não porque estava muito atarefada ou com pressa, só não gostava de ficar muito na rua, saía o suficiente para não parecer uma anti-social.

Andei de forma lenta, admirando a vista, naquela praça o pôr do sol ficava ainda mais bonito, quase como uma pintura. Caminhei por um tempo, sentido a brisa da noite chegando, eventualmente cheguei em casa.

Era uma casa simples, com tons neutros, que não chamaria tanta atenção se não fosse pelo grande jardim aparente.

Minha mãe, Amélia Schmit, era uma amante da natureza, dava para notar por conta das vinheiras de rosas escalando as paredes, as flores chamativas e algumas árvores pequenas. Ela sempre amou plantas, era sua terapia, e não seria eu a tirar isso dela.

Quando minha mãe me avistou, deu um sorriso, estava suja de terra, quase como se fosse atacada pelas suas samambaias.

- Flora, minha flor!! - Disse vindo em minha direção.

- Oi, mãe. - Sorri curto ao vê-la.

- Está de noite, não costuma chegar nesse horário. Está bem? Está com fome? Fiz pasta para você.

- Só me distrai com o horário, estou bem, e sim, estou com fome, obrigada. - Fiz questão de responder cada pergunta, uma coisa que puxei da minha mãe, preocupação e curiosidade excessiva.

Dona Amélia não era muito velha, pelo menos não de aparência, ela gostava de se cuidar e se vestir bem, com seu cabelo curto e seus olhos tão lindos como uma floresta.

Além de minha mãe, que é um trabalho difícil, trabalha num restaurante pequeno especializado em comida alemã, que, por curiosidade, é nosso país natal.

Não é uma das memórias de que eu mais gosto de falar, minha mãe também prefere esquecer. O que aconteceu na Alemanha, fica lá.

Dona Amélia tirou suas luvas e avental e foi se lavar para podermos jantar juntas.

- Então... - Olhava para mim de uma forma sugestiva, como se quisesse perguntar algo, mas queria que eu tocasse no assunto primeiro, conhecia bem aquele olhar.

- Nada.

- Eles não aceitaram seu currículo? - Disse num tom de chateio.

- Para ser sincera, mãe, acho que eles nem olharam.

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