- Oii gatinha, solteira? - Disse Lis, vindo em minha direção.
- Boba. - Sorri curto.
- Eu já pedi o Uber, daqui a pouco ele chega. Como passou o dia?
- Bem, e você?
- Mulher nem te conto.
Dei uma risada anasalada pela forma dela de dizer.
- Sabe aquela piriguete da Selena? Você acredita que ela ousou dar encima do meu futuro marido na minha frente?
- Seu futuro marido?
- É, o Cassiano, amiga.
- Ah sim, é porque fica difícil saber quem é seu "futuro marido" já que você gosta de um diferente toda semana.
- Flora! - Olhava indignada.
- Mentindo eu não tô. - Sorri leve.
- Não sou desse jeito.
- Esqueceu do filho do padeiro que você se "apaixonou" - Entonei a palavra com deboche - a umas semanas atrás? Que você disse " ah seu pai é padeiro? Sim? É porque ele acabou de fazer meu sonho." Aquilo foi uma dor de ver e ouvir Lis.
Ela deu uma de suas gargalhadas altas e contagiantes, me fazendo rir também.
- É que eu não gosto de perder tempo, sabe? - Sorria enquanto falava.
- Claro. - Ria de volta.
Enfim, nosso carro chegou, entramos e o moço deu a partida.
Olhando pela janela do carro, via as luzes amareladas dos postes como um borrão rápido pela velocidade do veículo, a lua escondida pelas nuvens escuras.
Cada esquina que se passava era perceptível a diferença das casas, antes eram casas pequenas em bairros mas simples, agora passávamos por grandes prédios, cada um mais chique que o outro, alguns tão imensos que não se enxergava a ponta.
A cada momento que estávamos mais perto da cobertura do Sr. Gallagher, mais ansiosa eu ficava.
Me distraí antes com as brincadeiras de Lis, mas agora tudo está mais tenso. Esfregava minhas mãos no vestido, minha respiração começou a desregular, e num ato inconsciente comecei a mordiscar a parte interna da minha bochecha, uma mania muito desagradável e até dolorosa minha.
Eu mantinha minha feição calma, foram anos de prática para não deixar transparecer tanto, para os outros não deixava, mas quando fui perceber, uma das minhas mãos que estava no meu vestido, Lis a segurava.
Ela não dizia nada, porque se falasse algo seria pior, ela mantinha uma conversa com o motorista, enquanto apertava minha mão, significando " se acalme ".
O carro então parou de repente ( ou só não tinha percebido que havíamos chegado ), na frente de um prédio enorme e luxuoso, era cheio de janelas grandes por fora, fazendo que refletisse o céu e a lua, que agora já saiu do esconderijo.
Um homem alto de terno, abriu as portas do carro, dando espaço para mim e Lis descer.
- Obrigada! - Disse Lis.
Andando vi pessoas com roupas estonteantes, com certeza um brinco de alguma madame pagaria as contas da minha casa.
- Chegamos - Sussurrou Lis pra mim. - Agora respire fundo, esqueça os pensamentos ruins, e pare de morder a sua bochecha antes que sangre. Vai tudo ocorrer bem.
Cruzou seu braço com o meu. Com um ar todo confiante, compostura, Lis me guiou para dentro, passando pelos seguranças, entregando o convite que recebera para passarmos. Subimos pelo elevador, que não foi muito demorado.
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POR ONDE ANDA O POETA?
RomanceOutono, uma época linda para se apaixonar, para viver, para se despedir, para encontrar. Flora Schmit, uma garota simples, de vida monótona, se vê intrigada por um poeta que pouco se fala e pouco se vê. Um escritor misterioso, uma jovem mulher obs...