chapter two

71 11 0
                                    

Meu peito apertava com cada memória desagradável que sua presença trazia à tona. O ar parecia mais pesado, a música ao fundo apenas um zumbido distante.

Ele continuava a me encarar, os olhos escurecidos não apenas pela iluminação da boate, mas por uma frieza que parecia tê-lo consumido ao longo dos anos. Fiquei me perguntando o que mais ele teria feito da vida, além de tocar nessa banda.

— Talvez você devesse parar de reviver velhas feridas, Changbin. Não é saudável, sabe? — Provocava, mantendo minha voz firme, embora um tremor sutil a traísse.

Changbin soltou uma risada baixa, quase inaudível sobre o som da música. Ele deu um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós. O cheiro de couro e algum perfume caro me atingiu, lembranças de uma época em que essa proximidade era algo que eu valorizava.

— Sempre o mesmo Hyunjin, tentando dar lições de moral. Mas me diga, você realmente seguiu em frente, ou só está se escondendo atrás de uma nova máscara?

O barista interrompeu brevemente a tensão entre nós ao colocar os drinks na mesa. Agradeci com um aceno de cabeça e peguei os copos. Antes que pudesse me virar para sair, Changbin segurou meu braço, sua pegada mais firme do que o necessário.

— Eu não estou aqui para reviver o passado, Hyunjin. — Sua voz baixa carregava um desafio. — Mas às vezes, o passado nos encontra, não é mesmo?

Soltando meu braço bruscamente, peguei os drinks com uma mão firme, esforçando-me para não mostrar qualquer emoção.

— Changbin, talvez um dia você aprenda que algumas coisas são melhores deixadas para trás. Mas, aparentemente, hoje não é esse dia.

Deixando-o ali com a última palavra, afastei-me rapidamente, a adrenalina misturando-se com um turbilhão de emoções não resolvidas.

Voltei para onde Felix me esperava. Ele olhou para mim com uma expressão preocupada, claramente percebendo que algo estava errado.

— O que aconteceu, Hyun? Você está pálido.

— Nada que eu não possa lidar. — Forcei um sorriso e entreguei-lhe um dos copos. — Vamos tentar aproveitar o resto da noite, certo?

Felix assentiu, mas seu olhar ainda estava cheio de perguntas que ele decidiu guardar para si. Juntos, nos misturamos à multidão que dançava, tentando afogar as memórias e as palavras de Changbin no ritmo ensurdecedor da música.

Porém, à medida que a noite avançava, a imagem de Changbin no palco, e suas palavras finais, me perseguiram como um fantasma que eu não conseguia exorcizar. Sabia que, cedo ou tarde, teríamos que enfrentar nosso passado de forma definitiva. Mas por agora, tudo o que eu queria era esquecer e me perder naquela noite, mesmo sabendo que era apenas uma ilusão temporária.

À medida que a noite avançava e a música da boate se tornava uma memória distante, Felix e eu decidimos que era hora de ir embora. O ar fresco da noite parecia revigorante após o calor e o caos do ambiente interno, e a caminhada até o carro foi silenciosa, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Assim que entramos no carro, Felix lançou um olhar preocupado em minha direção.

— Você tem certeza de que está bem, Hyunjin? — perguntou ele, ligando o motor.

— Estou melhor agora que estamos saindo de lá. — Respondi, tentando parecer mais convincente do que realmente me sentia.

Durante o trajeto até a casa de Felix, o silêncio entre nós era confortável, mas carregado. Sabia que ele queria perguntar mais, desvendar o que tinha acontecido entre mim e Changbin, mas ele respeitava meu espaço, sabendo que eu falaria quando estivesse pronto.

Chegando em seu apartamento, Felix foi direto para o chuveiro enquanto eu me deixava cair no sofá, ainda processando a noite. Pouco depois, segui seu exemplo e tomei um banho rápido, deixando a água quente lavar a tensão do meu corpo.

Vestidos em pijamas confortáveis, reunimo-nos na cozinha, onde Felix preparou alguns lanches rápidos – batatas fritas, pipoca e alguns doces que ele sempre guardava para ocasiões de filme ou longas conversas.

Com tudo pronto, nos acomodamos no sofá, a luz suave do abajur criando um ambiente acolhedor.

— Hyun, se quiser falar sobre o que aconteceu... Eu estou aqui. — Felix disse, me passando uma tigela de pipoca.

Respirei fundo, agradecendo mentalmente por ter um amigo como ele.

— Changbin era meu melhor amigo, sabe? Ele se assumiu pra mim há um tempo. Era algo super pessoal, e eu guardei segredo, claro. Mas de alguma forma todo mundo descobriu e ele achou que fui eu que contei, — expliquei, frustrado, agarrando outro punhado de batatinhas.

Felix me olhou, confuso. — Mas você não contou, né?

— Nunca! Mas ele não acreditou. E como vingança, resolveu espalhar todos os meus segredos. E cara, ele não pegou leve.

Felix riu. — Parece coisa de série de drama.

— É, mas sem os cortes convenientes e as soluções rápidas, — disse, tentando sorrir. — E ver ele hoje, depois de tanto tempo, só complicou as coisas.

— Dá tempo ao tempo, — Felix sugeriu, tomando um gole do seu refrigerante.

— Preciso de um relógio bem resistente então, — brinquei, buscando manter o clima leve.

A noite seguiu entre risadas e mais conversas casuais, o que ajudou a desanuviar o clima pesado. Felix sempre tinha esse dom.

— Valeu por hoje, Lix. — comentei, enquanto nos ajeitávamos no sofá, já sentindo o peso do sono.

— Sempre aqui, Hyun. Não deixa o passado te puxar pra baixo, ok? — Felix respondeu, antes de apagar a luz.

Acabamos adormecendo ali mesmo, com o sofá se tornando um refúgio perfeito depois de um dia tão intenso. Ter um amigo como Felix tornava qualquer situação complicada um pouco mais fácil de lidar.



----

Estrelinha? 

Beijão do Ninho !

BLAME - HYUNBINOnde histórias criam vida. Descubra agora