Medo do futuro

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10 de fevereiro de 2024
"Meu pai ficou desesperado agora que eu contei que dia 16 acaba o tempo para a minha matrícula na universidade. Ele quer que eu faça logo a minha matrícula. Odeio ter que repetir as coisas para o meu pai, mas eu disse que não quero fazer faculdade, não quero mais nada. Sem elas eu não vou conseguir fazer isso."

7h30 na segunda-feira Jeongin já estava na casa de Clarice conversando com o pai da garota na cozinha.
-E também, amanhã é feriado então não precisa vir.
-Certo - Jeongin respondeu enquanto Antônio tomava seu café.
-Yang, você faz faculdade, não é?
-Sim, faço sim.
-Então você que sabe melhor dessas coisas, acha que consegue convencer minha filha a se matricular na faculdade?
-Ela fez algum vestibular?
-Sim, ela passou na USP - Jeongin arregalou os olhos.
-Nossa…
-Ela sempre quis fazer faculdade, acho que ela vai se arrepender se não entrar - Jeongin concordou acenando com a cabeça.
-Posso tentar, acha que ela vai me ouvir?
-Bom, você conseguiu fazer ela comer todas as refeições, coisa que nem a mãe dela conseguia - Jeongin riu sem graça lembrando do motivo que fez Clarice comer.
***
Onze horas, Jeongin foi até o quarto e bateu à porta.
-Hora de acordar, kit kat! - Ele falou levemente animado.
 Apesar de tudo, ele estava gostando da tarefa de cuidar de sua amiga de infância. Há muito tempo que Jeongin queria se aproximar das irmãs, mas elas sempre o ignoravam quando ele passava por elas, principalmente Clarice.
-Vem tomar café ou almoçar já que é quase meio dia - ele falou olhando para o celular.
Enquanto esperava ele viu que tinha uma porta balançando com o Vento e foi olhar. Ele se aproximou e segurou a maçaneta, porém, antes de fechar, ele deu uma olhada dentro do cômodo. Era um quarto, cheio de livros, todo roxo com um abajur que projetava estrelas no teto preto. Ele entrou e desligou o abajur.
-O que tá fazendo aí? - Ele se virou para a porta.
-Eu só vim des…
-Sai logo daí - Ela falou brava. Ele obedeceu e fechou a porta do quarto ao sair.
-Não estava fazendo nada de errado - ele disse colocando as mãos para cima - só fui desligar o abajur.
-Tanto faz, só não entra aí  - ela começou a ir em direção a escada
-Era o quarto da sua irmã, não é? Ela devia gostar muito de ler - Ela parou e Jeongin já estava esperando uma frase grosseira ou um tapa.
-Ela lia bastante, era muito inteligente e corajosa. Merecia viver mais do que eu que não sirvo para nada - Jeongin se aproximou dela.
-Você merece viver, você pode não achar mas é verdade.
-Você não me conhece.
-Não preciso - Ele colocou a mão no ombro dela - preciso conversar com você depois do café.

***

Depois de ter tomado seu café, Jeongin chamou Clarice para ir com ele para a sala. Chegando lá Clarice se sentou em uma poltrona e Jeongin se sentou no sofá próximo a ela.
-Seu pai me contou que você passou no vestibular da USP - Ele falou calmo mexendo com os dedos.
-Isso não é da sua conta - A garota falou sem expressão.
-Claro que é, como eu posso deixar passar que você não quer fazer sua matrícula na USP!
-...Eu perdi minha mãe e…
-Sim você perdeu, eu sei! E quer perder mais isso também? Pode fazer bem para você fazer faculdade… imagino que a sua irmã ia querer que fizesse, ou eu tô errado?
-Não, não tá - Ela respondeu e mordeu os lábios ao sentir seus olhos encherem de água - Eu… não consigo continuar… sem elas aqui.
-Continuar o que? 
-A viver - ela olhou para ele - eu tenho muito medo… de tudo… só elas me entendiam.
Jeongin a ouvia se sentindo frustrado e triste. 
-Olha, pensa bem em se matricular tudo bem, se ficar com medo de qualquer coisa é só me chamar, me empresta seu celular? - Clarice entre soluços desbloqueou o próprio celular e o entregou.
-O que vai fazer?
-Salvar meu número - Ele falou enquanto digitava - pronto, agora pode me mandar mensagem sempre que sentir medo - ele entregou o celular da garota.
-Acha mesmo que pode ajudar?
-Eu posso tentar - eles se entreolharam.
-Posso ir pro meu quarto?
-Não quer assistir alguma coisa?
-Eu quero ficar sozinha
-Tá certo - ele apoiou as costas no sofá e Clarice subiu para o quarto.

***

No meio da tarde, Jeongin estava cochilando quando ouviu um barulho alto de vidro quebrando. Ele acordou rápido e foi até o quarto de Clarice. A porta estava apenas encostada então ele apenas entrou. Ao abrir ele viu Clarice chorando e com as mãos sangrando. 
-O que você fez, Clarice? - Ele se aproximou olhando para as mãos dela, percebendo que ela apertava cacos de vidro.
-Eu sou uma inútil - Ela levou um caco para perto do pescoço.
-Não, Clarice! - Ele pulou atrás dela e segurou os braços dela.
-Me solta, Jeongin! 
-De jeito nenhum, se acalma primeiro - Ele falou tendo que colocar mais força nos braços para segurá-la.
-Me deixa acabar com isso! - Ela se debateu
-Você estava tranquila, o que aconteceu? 
-Eu não tenho ninguém e estou com medo, isso que aconteceu!  - Ela falou alto.
-Clarice, escuta! Eu não conheço todas as suas dores mas eu tô aqui, você não tá sozinha! - Clarice parou de se debater.
A garota ficou chorando em silêncio enquanto Jeongin segurava suas mãos ensanguentadas.
-Dói muito.
-O que? - Jeongin perguntou baixinho.
-O medo, a saudade, tudo…
-Vai passar, só respira…
Eles ficaram ali por alguns minutos.
-Quer que eu te solte? - Ele perguntou.
-Não - Ela juntou os braços de Jeongin em volta dela - Não sinto o abraço de alguém desde o funeral delas - Jeongin sentiu seus olhos esquentarem e uma lágrima trilhar seu rosto.
Clarice olhou para trás e ficou encarando o rosto de Jeongin bem de perto. Os dois se entreolharam em silêncio.
-Temos que cuidar das suas mãos - ele deu uma olhada nos cortes.
Clarice acompanhou Jeongin até a cozinha onde ele lavou as mãos dela. Pegou um kit de primeiros socorros que estava na sala, limpou e cobriu com gaze os cortes.
-Eu vou no seu quarto limpar aquele vidro todo e você fica na sala - Clarice estava tão abatida que apenas obedeceu.
Vinte minutos depois, Jeongin voltou para a sala.
-Pode voltar pro seu quarto se quiser… tá assistindo o que? - Ele olhou para a TV.
-Jogos mortais.
-Que mau gosto - Jeongin falou fazendo careta - além disso, não combina com você… você é muito fofinha.
-O que?
-Verdade, ou não percebeu que tem bochechas tão grandes e fofas que dá vontade de apertar - ele sinaliza com as mãos em direção às bochechas dela.
-Chega, eu vou pra cozinha - Ela se levantou.
-Por que?
-Porque você não tá lá.
Jeongin sentou no sofá rindo.

***

Quando seu Antônio chegou, Jeongin contou que sua filha teve uma crise. O homem parecia bravo ao saber da notícia. O garoto foi para casa e o sr. Almeida subiu para ver a filha.
Ele abriu a porta do quarto dela e viu a jovem deitada mexendo no celular com as mãos enfaixadas. Ele parou na frente dela esperando ela dar-lhe atenção.
-Fala, seu Antônio! - A garota disse ainda no celular.
-O que eu faço com você? 
Ela o encarou e depois voltou a olhar o celular.
-Ainda bem que Jeongin estava aqui, não quero nem imaginar… quer saber, Você não vai trazer mais copo nem nada de vidro para esse quarto, entendeu?
-Ok 
-E se você voltar pra terapia?
-Não quero.
-Por que? 
-Eu não consigo passar por isso de novo.
-Quer que eu faça o que? Quer que eu te interne? - Ele falou levemente exaltado.
-Seria legal - a garota ironiza ainda no celular.
-Olha, sinceramente, não sei o que fazer.
Seu Antônio sai dali e deixa a garota sozinha novamente.

At my worst - Yang Jeongin (I.N)Onde histórias criam vida. Descubra agora