Izabel

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14 de fevereiro de 2024:
“Nós conversamos bastante hoje, foi legal. Estou me sentindo meio culpada de me sentir bem conversando com ele, eu não deveria estar bem sem minha irmã e minha mãe aqui.”

Jeongin gostou de ver que até o final daquela semana Clarice não teve nenhuma crise. Ela parecia ligeiramente diferente, estava interessada em conversar ou simplesmente ficar perto dele. Ele acreditava que ela finalmente estava o vendo como um amigo e não como um estranho. 
No fim de semana, Jeongin mandou mensagem para Clarice por estar preocupado com como ela estava passando o dia. Ela gostou de receber a mensagem mas se sentiu culpada logo em seguida, então ela apenas lhe deu uma resposta curta e não falou mais nada.
Mais uma semana começou e tudo parecia bem, Clarice passou a segunda-feira assistindo filme com Jeongin e até o ajudou com a louça. O rapaz estava feliz com a companhia dela mas tinha medo que a qualquer momento a garota entrasse em crise e se afastasse dele.

Era 10 horas da manhã do dia 20 de fevereiro, aniversário de Izabel - irmã de Clarice. Seu Antônio foi até a casa do Jeongin chamá-lo. O garoto abriu o portão meio confuso.
-Bom dia, seu Antônio! - Ele disse calmo.
-Bom dia, rapaz! - Antônio acenou com a cabeça.
-O sr tá arrumado, está de saída?
-Pois é, eu vou no cemitério… - O homem engoliu seco - vai ter uma missa pelo aniversário da minha filha mais nova - Antônio tentou não olhar para Jeongin para evitar que o garoto visse seus olhos marejados.
-A Clarice também vai? - Jeongin perguntou já imaginando como estava o emocional dela naquele dia.
Antonio fungou.
-Ela não gosta de missa, ela não é mais religiosa, sabe? - Jeongin acenou com a cabeça - ela quis ficar em casa mas eu não queria que ela acordasse sozinha, tudo bem para você ficar um pouco com ela? Eu te pago o dia de hoje.
-Imagina, Clarice é minha amiga, o sr não precisa pagar. Eu fico com ela sim.
-Amigos, é?... Que bom - Antônio sorriu.
Jeongin esperou seu Antônio sair de carro e em seguida foi para a casa dele. O lugar estava silencioso. Quando deu meio dia, ele decidiu ir até o andar de cima ver se Clarice já tinha acordado. Ao terminar de subir as escadas, Jeongin viu que a porta do quarto dela estava aberta. Ele se aproximou e a chamou, mas ninguém respondeu. Ele entrou no quarto e percebeu que realmente não tinha ninguém. O rapaz se perguntou “se ela não está no quarto dela e nem lá embaixo, onde ela está?” Neste momento ele se lembrou de Izabel e imaginou que Clarice só podia estar no quarto da irmã. Ele tentou entrar lá mas a porta estava trancada. Ele quis deixar quieto mas sabia que Clarice não estava em condições de ficar trancada sozinha.
-Bom dia, Kit kat! -Ele ouviu ela se mexendo na cama - pode abrir aqui pra mim?
-Vai embora! 
-Parece que hoje não é seu melhor dia, não é?
-O que tá fazendo aqui, Jeongin? Hoje meu pai não trabalha - A garota falou meio ríspida.
-Você sabe por que eu estou aqui… sei que hoje é um dia tenso, mas só abre a porta.
-Por que?
-Eu quero te ver - Clarice sentiu uma pontada no peito ao ouvir ele falar daquele jeito. Ele colocou a mão no peito, se sentou e olhou para a porta. Ela queria abrir.
-Você não faz ideia de que dia é hoje…
-Eu sei, eu tô aqui com você - O garoto falou firme.
Clarice destrancou a porta e abriu. Ela o encarava com uma expressão brava.
-Oi, Kit kat! - Ele disse calmo.
-Pronto, já me viu, agora sai daqui! - Ela tentou fechar a porta, mas Jeongin colocou o pé no batente impedindo a porta de fechar. Ela abriu de novo - O que você quer de mim?
-Por que não quer aceitar que não está sozinha? - Ele a olhou com uma expressão triste - Seu pai e eu queremos te ajudar a melhorar, mas você simplesmente não aceita…
-Você não sabe do que eu preciso.
-Acho que você também não, pelo que eu vi nas últimas semanas - a expressão da garota se abrandou.
-Eu só quero ficar no quarto da bel… sozinha.
-Tudo bem, a gente fica sozinho juntos - Ele disse entrando no quarto.
Clarice apenas o observava com as sobrancelhas franzidas enquanto ele se sentava na cadeira da escrivaninha da sua irmã. Ela respirou fundo.
-Você é muito intrometido - Clarice resmungava enquanto encostava a porta e ia se sentar na cama.
-Esse quarto é bonito… ela devia gostar de roxo, não é? - Ele tentou puxar assunto.
-Sim, ela gostava - A garota respondeu com uma expressão deprimida.
-E a sua cor preferida?- A garota o olhou com a sobrancelha franzida e ele riu - Eu sei que você me perguntou isso uma vez, mas eu não sei o que responder, gosto de muitas cores.
A garota ficou em silêncio.
-Tem alguma lembrança boa da sua irmã?
-Tenho muitas - Ela respondeu de cabeça baixa.
Ela ficou em silêncio por alguns momentos e sorriu.
-Ela odiava abraços - ela riu com os olhos marejados - sempre que eu tentava dar um abraço, ela me xingava.
-Coisa de irmão, você não ficava triste, né?
-Não, era divertido irritar ela - os dois riram - eu achei que ela fosse ficar comigo pra sempre - a garota soluçou e voltou a chorar.
-Elas vão estar com você pra sempre, no seu coração, na sua memória…
-Mas eu queria elas aqui… comigo - Ela disse colocando as mãos no rosto.
Jeongin se levantou e foi se sentar ao lado dela na cama.
-O que você… - Antes de terminar de falar, Jeongin a abraçou de lado. Clarice só conseguiu voltar a chorar.
-Eu sei que é difícil, mas você não está sozinha… é isso que importa.
A garota chorou desesperadamente por alguns minutos nos braços de Jeongin até que se acalmou e só ficou soluçando. Quando viu que ela estava mais calma, ele a desfez o abraço.
-Quer comer alguma coisa?
-Quero morrer - A jovem respondeu secando os olhos com um paninho.
-Come primeiro, depois cê vê isso… - Os dois riram, mas ela desfez o sorriso ao sentir a mão de Jeongin na sua. Ela se assustou pois sentiu como se tivesse levado um choque.
-O que foi? - O garoto perguntou ao ver o rosto surpreso de Clarice.
-O que você tá fazendo? - Ela olhou para a mão de Jeongin que a segurava e ele olhou também.
-Ah… tô te levando para comer, não posso segurar sua mão?
-P-pode, eu acho.
Ele sorriu e puxou gentilmente Clarice pela mão até a cozinha. Porém, chegando nos últimos degraus da escada, Clarice tropeçou e ao cair puxou Jeongin pela mão. Os dois caíram juntos. Clarice olhou nos olhos de Jeongin que estava em cima dela, e sem aviso, Jeongin sorriu para ela. Ele sorria bastante, mas naquele momento o sorriso dele pareceu fazer o tempo parar e ela só conseguia sentir o próprio coração pulsando.
-Você tá bem, Kit kat? - Ele perguntou fazendo a garota sair de seu transe.
-O que… ah sim, eu tô bem - Ela disse enquanto ele a ajudava a levantar.
-O que aconteceu? - Ele perguntou rindo.
-Eu tropecei… por que tá rindo?
-É que sua cara de confusa foi muito engraçada - Ele riu.
-Aff, besta.
Os dois seguiram para a cozinha.
-Senta aí, eu vou colocar sua comida. - Ele disse indo até a geladeira.
-Por que? 
-Só estou tentando te fazer um agrado já que seu dia tá triste - A garota se sentou à mesa em silêncio - E também, eu achei inconveniente só vir aqui e comer da sua comida, então eu coloco pra você também… e depois você lava a louça - ele a olhou de canto de olho.
-Tá bom… - a menina falou hesitante.
-Eu tô brincando - ele riu.
-Não, tudo bem, eu lavo - Ele a olhou surpreso.
-Se você diz.
Durante o almoço, Jeongin percebeu que às vezes Clarice o encarava, mas sempre que ele olhava de volta, ela olhava para outro lado.
-Eu sei que está me olhando, Kit kat - Ele disse e a menina olhou para o prato - quer falar alguma coisa?
-Não, nada.
-Quer assistir um filme juntos depois do almoço? - A pergunta de Jeongin fez Clarice sentir uma pequena empolgação, que conteve.
-Acho que vou ficar no quarto da minha irmã.
-Vai se trancar de novo?
-Eu deixo a porta aberta -Ela retrucou.
-Eu vou ficar com você, até seu pai chegar.
-Problema seu - A garota disse e se levantou para colocar seu prato e talheres na pia.
Jeongin olhou para ela e viu que ela estava pegando o detergente.
-Kit kat, não precisa lavar a louça!
-Mas eu já aceitei…
-Não vai lavar não, deixa que eu faço isso! -Ele foi até ela.
-Não estou com paciência para discutir sobre quem vai lavar a louça, Jeongin.
-Só aceita que é eu e vai lidar com seu luto - A garota só obedeceu e foi pro quarto de Izabel.
Quando seu Antônio chegou, ele procurou os jovens pelo andar de baixo, mas não encontrou ninguém. Ele, então, subiu para os quartos e encontrou Clarice dormindo na cama e Jeongin sentado na cadeira mexendo no celular no quarto de Izabel.
- Ah, oi seu Antônio! -Ele olhou para o homem parado à porta.
-Ela ficou tranquila?
-Chorou bastante mas não tentou nada.
-Entendi - Jeongin percebeu os olhos vermelhos do senhor, provavelmente ele também havia chorado bastante - obrigado pelo favor - Antônio se virou para sair.
-Vocês conversam sobre elas? - O senhor olhou para Jeongin com a sobrancelha franzida mas logo relaxou o rosto.
-Não… acho que não temos coragem.
-O senhor deveria tentar conversar mais com ela, ela só tem o senhor.
-E eu só tenho ela.

At my worst - Yang Jeongin (I.N)Onde histórias criam vida. Descubra agora