Hades
Todos já tinham ouvido falar sobre o que o jovem Greyson havia se tornado, e eu não era exceção, mas nada poderia me preparar para o que vejo agora.
Ele parece uma estátua viva de dor e sofrimento, uma figura que carrega tragédias invisíveis em cada linha do rosto. Seus olhos, antes vivos e intensos, agora são poços de escuridão, refletindo toda a solidão e o peso que ele guarda.
Eu sou Hades, ou Hell, como alguns preferem me chamar. E, na presença dele, me sinto pequena, quase invisível. Meus cabelos negros, pesados e desarrumados, caem sobre meus ombros, enquanto meu olhar sereno tenta se perder na calmaria. Me escondo nas sombras, atrás de livros, como se isso pudesse me apagar, tornar-me menos notada, menos vulnerável.
Ele é o Rei de Espadas, o mestre do castelo. Sua presença é tão intensa que parece moldar o ambiente, impondo um silêncio pesado ao seu redor. Há algo nele que me atrai, um desejo que queima de forma perigosa dentro de mim, mas sei que preciso manter distância. Seu jeito ríspido e sua postura firme são lembretes constantes de quem ele é e do mundo sombrio que habita.
Ele não é apenas um homem marcado pelo luto. É um líder temido, uma força implacável entre criminosos, e, por mais que isso devesse me afastar, uma parte de mim não consegue deixar de se perguntar... e se as coisas fossem diferentes? E se ele não fosse o Rei de Espadas e eu não fosse apenas uma peça nesse jogo sombrio? Mas isso é só fantasia. Por enquanto, devo esconder esses pensamentos, mantê-los enterrados, enquanto sigo minha dança discreta pelos corredores escuros deste castelo.
Estou distraída, perdida nas páginas de um livro, quando esbarro nele por acidente. Meu coração dispara, e a vergonha me consome. Como pude ser tão descuidada? Eu não deveria estar aqui. Maldita a hora em que decidi ler escondida!
Minha voz sai apressada e nervosa:
— Senhor... ah, desculpe-me! Eu... ainda estou me acostumando à sua presença aqui. Geralmente, esse horário é tão tranquilo. Não costumava ter ninguém no castelo.Ele me encara por um momento antes de responder, com um tom mais gentil do que eu esperava:
— Não há necessidade de desculpas, senhorita Dedrov. Sei que é um ajuste difícil para todos nós. Pode me chamar de Dylan.Hesito, ainda me sentindo desconfortável, mas tento parecer natural:
— Claro, senhor Dylan. Como desejar. É só... estranho, sabe? Meu pai sempre foi quem comandou este lugar, e agora é você...Ele me interrompe, sua voz endurecendo levemente:
— Eu entendo. Mas as coisas mudaram. Agora, as regras são diferentes. Este castelo é meu, devido à... irresponsabilidade do seu pai.Ele parece se arrepender imediatamente da última frase, como se quisesse recuar, mas não diz nada para suavizar. Sinto o peso de suas palavras, mas também a realidade por trás delas.
Com a voz um pouco mais firme, pergunto:
— Entendi... E essas novas regras, elas envolvem exatamente o quê?Ele suspira antes de responder, seu tom voltando a ser controlado:
— Nenhum estranho é permitido dentro dos muros do castelo. É uma questão de segurança para todos nós.Eu assinto, tentando parecer compreensiva, embora uma inquietação cresça dentro de mim:
— Entendi... Eu prometo respeitar isso. Só... queria entender melhor.Ele me olha com mais suavidade desta vez:
— Está tudo bem, senhorita Dedrov. Sei que isso é difícil para você. Mas precisamos seguir em frente, fazer o que é melhor para todos.Eu baixo os olhos por um momento, sentindo a sinceridade em sua voz:
— Sim, claro... Eu só... não quero causar problemas.Ele sorri levemente, algo quase imperceptível, mas suficiente para fazer meu coração bater mais rápido:
— Você não está causando problemas, senhorita Dedrov. Você é parte deste castelo tanto quanto eu agora.Minha voz sai mais baixa, quase um sussurro:
— Eu... agradeço isso, senhor Dylan. Mas... tudo isso ainda é tão novo para mim. E, com o frio lá fora, não consigo me sentir em casa, mesmo que este lugar seja, de fato, meu lar.Ele me observa por um momento, como se tentasse entender o que se passa dentro de mim, antes de dizer:
— Eu sei. O inverno aqui pode ser implacável. Mas faremos o possível para tornar este lugar mais acolhedor. Para todos nós.Sorrio de forma hesitante, tentando disfarçar o que sinto:
— Obrigada... E, se precisar de algo, estarei por perto. Eu... quero ajudar no que puder.Ele inclina a cabeça, como se estivesse considerando minhas palavras com mais cuidado do que o necessário:
— Agradeço isso, senhorita Dedrov. Talvez possamos conversar mais sobre isso em outro momento. Por agora, cuide de si mesma e mantenha-se segura aqui dentro.— Sim, senhor. Farei isso. Obrigada.
Enquanto ele se afasta, algo dentro de mim permanece inquieto. Dylan Greyson tem uma reputação temível, conhecido por sua violência e falta de piedade. Mas o homem com quem acabei de falar não parecia cruel. Havia algo mais, algo que sugeria que ele era mais uma alma perdida do que um monstro sem remorso.
Ainda assim, com curiosidade e admiração, decido que minha melhor aposta é manter essas emoções para mim. Dylan Greyson não é apenas perigoso... ele é um limite que eu não posso cruzar. Afinal, eu sou filha de quem sou.
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Os medos de Dylan - Livro Dois
RomanceDylan sempre foi um cara divertido, risonho, cheio de vida. Mas isso foi antes dela. Antes de sua partida levar tudo com ela: a felicidade, a luz, e o próprio Dylan. Agora, ele é apenas um Greyson, endurecido pela perda. A dor não diminuiu, o vazio...