Os medos de Dylan - Livro Dois

SEM TÍTULO

Hades

      Eu era só uma criança quando meu pai começou com as dívidas.

Minha mãe fazia o possível—e muitas vezes o impossível—para que nunca faltasse nada, para que a fome não batesse à nossa porta. Mas, no final, meu pai conseguiu destruir tudo. 

   Ele morreu há cerca de nove meses, talvez mais—já perdi a conta. E por que falo disso com tanta tranquilidade? Porque meu pai não era exatamente um pai ruim... apenas não era bom. Ele era omisso, imprudente, sem escrúpulos, e a lista de "elogios" poderia continuar. Talvez eu lide bem demais com situações ruins. É quase estranho.

O que sobrou foi uma viúva de meia-idade com o talento peculiar de beber conhaque como se fosse um velho marinheiro e uma jovem de vinte e poucos anos que mal sabe segurar uma faca, quanto mais uma arma. E tudo isso dentro de uma família mafiosa. Que piada nós somos!

Meu nome é Hades. Sim, isso mesmo. Mas todo mundo me chama de Hell, o que, convenhamos, não melhora muito as coisas. Meu pai achou que seria engraçado quando eu crescesse. Bem, adivinha só? Não é.

Eu faço Direito na universidade estadual, aqui perto. É curioso, porque essa foi mais uma decisão do meu pai, pensando no "bem dos negócios". Uma advogada criminal, alguém que garantisse que ele ou qualquer afiliado do castelo nunca acabasse atrás das grades. E, de certa forma, funcionou. Estou no último ano, já atuo há algum tempo, e deveria ser um verdadeiro tubarão na profissão. Mas não sou. E acreditem eu tentei ... mas não é meu estilo! 

Direito não é só sobre ataques diretos ou cortes certeiros; é estratégia, é sobre ser mais inteligente e dedicado que o promotor do outro lado da mesa. E, claro, é sobre dinheiro. Dinheiro move as pessoas, sempre. Minha vida parece incrível, não é? Talvez fosse, se não fosse eu vivendo nela.

Faço o que me mandam, é verdade. Sigo o roteiro. Mas, às vezes, tudo o que eu queria era estar longe daqui, vivendo como uma pessoa normal. Sem corpos no jardim às cinco da manhã de um sábado.