EM suspenso

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     Dylan


      Ela era minha luz em um mundo mergulhado na escuridão do crime. Uma rosa rara em meio ao concreto cinzento das ruas sujas da cidade. Seu sorriso era meu refúgio, sua presença era minha paz. Mas agora, tudo o que resta é o vazio escuro que se instalou em meu peito, como uma sombra que nunca se dissipará.O telefone tocou naquela noite, uma chamada que anunciava o fim da minha vida como eu a conhecia. A voz no outro lado da linha era fria, impiedosa, informando-me da emboscada que havia ceifado a vida dela, a única pessoa que me fazia sentir algo além do frio da minha própria alma.A dor que se seguiu foi como um soco no estômago, um golpe que me deixou sem ar, sem rumo. Meu coração se partiu em mil pedaços, cada um deles uma faca afiada que perfurava mais fundo na ferida da minha alma. E eu, um homem que nunca temeu a morte, me vi de joelhos, implorando por uma chance de tê-la de volta.A raiva veio em seguida, uma tempestade furiosa que consumiu tudo em seu caminho. Jurei vingança contra aqueles que ousaram tirar ela de mim, prometi que pagariam com sangue pelo que fizeram. Mas mesmo a promessa de vingança não é capaz de aplacar a dor lancinante que me consome dia e noite.Agora, caminho pelas ruas escuras , meu coração um poço sem fundo de desespero e dor. Cada sombra é um lembrete da ausência dela, cada passo é uma luta contra o peso insuportável do luto. E eu, um mafioso sem coração, me vejo chorando lágrimas de sangue pela perda do amor da minha vida, uma dor que nenhum poder neste mundo pode aliviar.

     A solidão é como uma ferida aberta na alma, uma dor que corta mais fundo do que qualquer faca já fez. Sinto cada dia escorrer como areia por entre meus dedos calejados, enquanto tento desesperadamente segurar os fragmentos do que um dia foi a minha felicidade.

 Ela se foi, levando consigo o brilho dos meus dias e a luz das minhas noites. Cada amanhecer é um golpe cruel, uma lembrança implacável de que não mais acordarei ao som da sua risada doce, nem sentirei o calor reconfortante do seu corpo junto ao meu.Viver já não tem o mesmo sabor, nem a mesma razão de ser. As noites são as piores. O silêncio ecoa com os murmúrios dos fantasmas do passado, sussurrando palavras de saudade que cortam como lâminas afiadas. Sinto o peso da sua ausência como um fardo insuportável, uma cruz que carrego nos ombros como um condenado à espera da redenção.E como dói. Cada batida do meu coração é um eco da dor que se instalou em meu peito, uma ferida que nunca cicatrizará completamente. Às vezes, fecho os olhos e posso jurar que ainda sinto o perfume do seu cabelo, o toque suave dos seus dedos na minha pele áspera.Mas não passa de ilusão. Ela se foi, levando consigo parte de mim, deixando para trás apenas lembranças que se desfazem como fumaça ao vento. E eu, mero mortal, me vejo perdido em um mar de desespero, lutando contra as ondas que ameaçam me engolir a qualquer momento.E assim, aqui estou eu, um homem destruído pela dor da perda, clamando por um alívio que sei que nunca virá. Pois a morte pode levar o corpo, mas nunca levará o amor que sinto por ela, uma chama que queima eternamente em meu peito, iluminando a escuridão da minha existência solitária.

     Perder a minha noiva e a nossa filha... É como se o mundo tivesse desabado sobre mim, como se a própria vida tivesse sido arrancada dos meus dedos. Eu me vejo cercado por sombras, por memórias que queimam como brasas, me lembrando do que poderia ter sido e nunca será.

Era para ser um momento de alegria, de promessas de um futuro juntos. Mas tudo desmoronou em um instante, como castelo de cartas ao sabor do vento cruel . A dor é como uma bala cravada no meu peito, dilacerando a esperança que um dia ousei alimentar.          Agora, estou perdido em um mar de arrependimento e desespero. Cada dia é uma luta para encontrar sentido, para encontrar uma razão para continuar respirando. Mas mesmo nas sombras mais densas, há uma pequena fresta de luz, uma chance, talvez, de um recomeço.Preciso deixar para trás esse passado sombrio, essa vida de violência e desespero. Preciso me redimir, encontrar um propósito que vá além do poder e da vingança que me consumiu por tanto tempo. Talvez, em algum lugar, haja uma chance de redenção, de construir algo novo sobre as ruínas do que perdi.Não será fácil, eu sei. Os fantasmas do meu passado virão me assombrar, tentando me puxar de volta para as profundezas da escuridão. Mas eu devo resistir, devo lutar por uma vida que valha a pena viver, mesmo que seja apenas para honrar a memória daquelas que se foram.Então, aqui estou eu, um mafioso sem rumo, procurando por uma luz no fim do túnel, clamando por uma segunda chance que talvez nunca mereça. Mas é tudo que tenho agora, essa frágil esperança de que o amanhã possa ser melhor do que o hoje.

     Aceitar uma nova casa, uma nova "família"... É como pisar em território desconhecido, onde cada canto guarda segredos e cada parede sussurra os suspiros daqueles que vieram antes de mim. A casa que agora é minha não é apenas um amontoado de tijolos e argamassa, mas um testemunho silencioso das tragédias que se desenrolaram entre suas paredes.As memórias do antigo dono ainda pairam no ar, como sombras inquietas que se recusam a partir. Ele perdeu tudo, sua fortuna, sua honra, sua própria vida, sucumbindo ao peso esmagador das dívidas e da traição. E agora, aqui estou eu, o novo senhor desta morada sombria, encarando as consequências de suas escolhas e as marcas deixadas por sua partida.                                                  Mas, apesar de tudo, há uma estranha sensação de dever, de responsabilidade, que se apodera de mim. Essa castelo, essas mulheres que chamam este lugar de lar, dependem de mim para protegê-las, para guiá-las através das sombras que se escondem nos cantos mais escuros. E eu aceito esse fardo, essa incumbência que o destino jogou em meus ombros, com uma mistura de resignação e determinação.A esposa e a filha  são estranhas para mim, como figuras de um sonho distante que de repente se tornaram reais. Elas carregam o peso do luto, a dor da perda, em seus olhares cansados e em seus gestos hesitantes. Mas também há uma centelha de esperança, de possibilidade, que brilha em seus corações feridos.  Eu sei que não será fácil. Haverá desconfiança, ressentimento, talvez até mesmo hostilidade, à medida que nos ajustamos a essa nova realidade. Mas eu estou determinado a fazer o que for preciso para tornar este lugar no que um dia ele já foi, um refúgio seguro onde possamos viver em paz e construir um novo futuro juntos.  Então, que venham as noites escuras e os dias incertos. Estou pronto para enfrentar o desafio, para abraçar essa nova vida com todas as suas dores e promessas. Pois, no fim das contas, é aqui que pertenço agora, neste castelo frio e assombrado pelo passado, mas regado pela possibilidade de um recomeço.

Os medos de Dylan - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora