Prólogo

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As aves costumam migrar para sobreviver. E apesar de correrem riscos, a maioria dos migrantes em larga escala se desloca durante a noite e utiliza as estrelas como referência. Elas utilizam vários tipos de “bússolas”, na busca de se orientarem em suas rotas durante os deslocamentos migratórios. Como o Sol, as estrelas, o próprio instinto.

E mudar de território, pode significar reconstruir uma casa, rever as fontes de alimento, construir novos laços de confiança com os seres vivos da região. Significa começar de novo.

Os primeiros dias de adaptação de uma ave podem ser duros. Elas podem ter dificuldades em se comunicar, tornando complexa sua adaptação ao ambiente. Podem cair de troncos altos, se confundirem no percurso.

Entretanto, um dia o Sol irá nascer e elas saberão exatamente como se comunicar. Irão ter decorado quais troncos são ocos e não se podem firmar, e quais são firmes como rocha, onde seus ninhos serão aconchegantes e duradouros.

Mais um dia se iniciou desde o pesadelo. O dia que não parecia real onde Ysaline viu seu emprego, seu relacionamento e amizades correrem todos para o mesmo ralo.

Por palavras não ditas, histórias contadas do modo errôneo e relações tão rasas como deixar areia de praia cair de suas mãos.

Abrindo os olhos, o horário do celular revelou o número seis. Respirando fundo, levantou da cama vestindo as pantufas. O outono não era bem a estação favorita naquele momento. O frio batendo na janela, as folhas caindo pelo vento. O frio perfeito... Pra' dormir.

Em questão de meia hora, a roupa estava pronta. Uma calça social bege com a blusa rosa escuro. O cabelo definido e a maquiagem leve pela manhã.

Relaxa mãe. Eu já peguei tudo. ... Eu sei que você vai demorar pra' voltar, mas eu tô me cuidando. ... Sim ela tá. Não se... Tá bom, mãe. Pode deixar. - Dizia em um tom sem paciência a voz que vinha da cozinha.

— É a mamãe? - A garota perguntou, recebendo um "sim" da irmã que não queria continuar a ligação. — Tá bom, mãe. Eu preciso ir, a escola não vai esperar você terminar a ligação. - Disse em tom de humor, colocando a mochila nas costas e desligando o celular.

— Pulou da cama? - Perguntou, descendo as escadas e pegando sua bolsa.

— Eu precisei. A gente tem ensaio pra' peça de sábado. - Tasha comentou.

Tasha Dolga. Pele negra e olhos castanho claro. Cabelo crespo, preso em dois coques estilo afro puffs. Irmã mais nova de Ysaline, a qual era uma parte fundamental de seu dia.

— Qual o tema desse ano? - Pegava disse coisas, fechando a porta da frente por fora.

— Esse ano é Alice no País das Maravilhas.

— Olha, esse é um tema divertido. Qual papel você pegou? - As irmãs conversavam, andando juntamente até o ponto de ônibus mais próximo.

A rua era calma, dado o horário. Perfeita para   uma caminhada matinal como algumas pessoas faziam, ou ir caminhando até o trabalho ou escola de maneira despreocupada com trânsito.

— É, eles disseram que sempre que fazem dá certo e já tinha cenários prontos. Eu acabei ficando com o papel de lebre.

— Você escolheu a lagarta?

— Escolhi. Pra' mim ela é a mais irada dali. - Ela riu, até ver o ônibus escolar chegando. — Até mais tarde, mana.

— Até, Tasha. Não se esquece de pedir comida quando for pra' casa, vou chegar tarde hoje.

— Tranquilo. - A garota concordava, subindo no ônibus enquanto alguns amigos a recebiam.

Ysaline por sua vez esperou mais alguns minutos. A música em seus fones sem fio fez com que dez minutos passassem em apenas três. Em questão de vinte, já estava parada no elevador do prédio.

Mensagens Para Uma Flor SilvestreOnde histórias criam vida. Descubra agora