Uma coisa que Vidia amava em sua vida humana eram poemas.
Além dos musicais que ela fugia e assistia sozinha pois sabia que demoraria até que notasse sua ausência. Mesmo que esteja afastada agora, a Fada Veloz ainda mantém este sonho de cantar em uma das apresentações das Fadas. Isto não seria a realização de um sonho?
(...)
(Anos atrás)
Era uma noite quente nas montanhas de Seeonee quando um Lobo grande acordou ao lado de sua companheira após um breve descanso. Seus filhotes recém-nascidos ainda dormiam em um sono profundo e o Lobo logo percebeu que sua esposa, uma Loba apenas um pouco menor que ele, havia se mantido acordada em alerta para seus filhotes.
Ele a cumprimentou com um gesto íntimo de carinho que ambos já estavam confortáveis e levantou-se. Bocejou e esticou suas patas para se livrar da sensação de dormência nos dedos. Um dos filhotes se mexeu e chorou, o que fez a Loba de pelo cinzento levantar-se e correr em direção de seu filhote.
"Tudo bem, querido. Estou aqui." Disse a mãe para seu filhote após se transformar. O Lobo observou sua esposa em sua forma humana e decidiu mudar de forma também. Agora dois humanos adultos se encontravam no quarto espaçoso. Prestativo, o homem caminhou até seu guarda-roupa compartilhado e pegou um vestido para sua esposa e um conjunto para si mesmo. Ela agradeceu e o vestiu, ambos apresentáveis quando alguém bateu à porta.
"Perdoe a intromissão, Alfa, mas há notícias sobre Shere Khan."
Poucas coisas assustavam os Lobos, principalmente uma mantilha tão forte e estável quanto a que eles pertenciam, mas Shere Khan não era um ser comum. Ele era um Homem-Tigre. Ele era único em sua classificação, tão antigo quanto Kaa e talvez tão poderoso quanto ela, mas próximo em convivência com os outros, o que o tornava perigoso e uma ameaça aos mais novos. O Alfa e sua companheira compartilharam expressões de alerta ao ouvir aquelas palavras.
"Quais são as notícias?" O Alfa perguntou.
"Ele saiu para caçar esta tarde, mas não um boi ou um cervo, como deveria ser, mas uma família humana." O Lobo menor falou com pavor e o casal logo entendeu o perigo que se aproximava com aquelas poucas palavras.
Uma família humana.
(...)
(Atualmente)
A primeira coisa que ficaria marcada em sua mente seria aquela imagem. Como sua primeira lembrança assim que acordou de seu renascimento ou sua lembrança de quando sentiu a liberdade esmagar seu corpo com o vento morno da primavera, antes que ela soubesse que podia moldar este detalhe para seu próprio agrado.
Era uma floresta limpa. Viva, saudável. O verde onde folhas e gramas ficavam brilhava tanto depois de uma chuva na madrugada que pareciam diamantes, marrons nos troncos e caules das árvores pareciam tão intactos como se ninguém nunca tivesse tentado feri-la, e um azul pacífico no rio que podia ver correr cristalino pelo reflexo do sol, como se houvessem gemas boiando na água purificada abençoada pela lua.
Quase parecia mágica.
Se não fosse humana.
Sabia pouco sobre os moradores que residiam perto da floresta que estava prestes a adentrar, apenas que eram pessoas simples, caçavam suas refeições e complementavam com aquilo que plantavam. Talvez fosse por isso que a floresta se encontrava tão saudável a ponto de parecer purificada de cima, por que eles não pareciam ter condições de adentrar mais dentro dela do que o explicitamente necessário.
Ela pairou no céu por mais um momento. Respirando fundo e fechando os olhos. Sete meses. Levaria um bom tempo, nada muito difícil para uma fada que não envelhecia, mas demais para alguém cuja mente ainda era humana em muitos sentidos. Ela desceu.
Foi pouco antes de chegar ao solo que parou. Seus olhos se estreitaram. Ela olhou ao redor. Foi estranho. Como se houvesse algo flutuando no ar, algo que lhe deixava em alerta, mas não sabia identificar o que era exatamente nem de onde vinha. Por via das dúvidas, ela voltou ao tamanho pixie. A ajudava a se sentir menos ameaça, menos vista. Se era efetivo ou não, não saberia. Ou talvez sim.
Ainda pairava no ar, ao seu redor, acima e abaixo dela, mas pensando que não chegaria a lugar nenhum com suspeitas, Vidia seguiu em frente com seu objetivo, aliviada com os animais que encontrou pelo caminho, como se sua existência a lembrasse que ela não estava sozinha. Os pequeninos, esquilos, porcos-espinhos, cobras, javalis e até um grupo de cervos se alimentando, olharam para ela com curiosidade, alguns mexendo suas orelhas ou narizes. Fofos. Ela sorriu e acenou, como se eles fossem mágicos e pudessem entender.
Demorou um pouco até que ela encontrou o primeiro dos vinte e seis fujões que ela tinha vindo recuperar. Um dos vinte e seis gnomos brincalhões e teimosos. Aquelas criaturas teimosas não facilitariam para ela. Ainda lutariam depois de terem sido pegos. Urgh, até o pensamento disso a cansou. E mal tinha começado. Ah, que maravilha.
O gnomo correu. Criaturinha astuta. Vidia voou atrás, voltando ao seu tamanho humano normal ao perceber que seria mais fácil assim. Ela usou o vento ao seu favor, mas não o usou para trazer o gnomo até ela, seria melhor evitar usar sua magia por enquanto. Voltas e mais voltas, perseguindo o pequeno ser como um gato atrás do rato. O gnomo riu e Vidia dobrou a velocidade.
"Te peguei!"
E, rapidamente, guardou o pequeno ser dentro da bolsa mágica onde estaria seguro e confortável. Huh, foi fácil. Comparado ao que ela estava esperando. Gnomos costumavam ser ardilosos e suas brincadeiras inofensivo para eles costumavam ser perigosas para todos ao seu redor. Eram crianças inconsequentes, então porque uma simples corrida antes de ser pego?
Grrrr.
Sua espinha gelou. Seu corpo ficando tenso com os novos sons que surgiam ao seu redor, como se estivessem a cercando. Ela guardou suas asas. Péssima ideia. Mas não podia permitir que nenhum humano soubesse de sua existência. Atrás das árvores e entre as plantas, olhos dourados brilhavam e Vidia tremeu mais uma vez.
Até que saiu.
Seus olhos se arregalaram e sua respiração parou.
Eram lobos. Mas não simples lobos. Ela conhecia os lobos do mundo humano e não eram assim. Não, estes eram maiores. Muito maiores. Quase gigantes. Maiores que a própria Vidia. Olhos brilhantes que pareciam sobrenaturais. Assustadores. Ela quis fugir. Outro rosnado soou do outro lado e Vidia pulou de susto. O que eram estes animais? Com certeza não eram lobos comuns! Um deles se lançou contra ela, parando a poucos centímetros, como um aviso. Seus dentes afiados tremendo entre os rosnados e latidos. Outro a empurrou. E mais uma vez, na mesma direção. Logo ficou óbvio: eles queriam levá-la para algum lugar.
Vidia entrou em pânico. Sua mente correndo em várias direções diferentes, as consequências se lutasse, mesmo se voasse, sentia algo vindo destes lobos e estava no território deles. As consequências se obedecesse, o que eles planejavam fazer com ela. Poderia usar sua magia contra eles? Para se defender, seria justo, certo?
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Pixie Hollow - Vidia e o Talento Raro
FantasyO que é um talento raro? "Vidia observou junto com todos ali enquanto a nova fada buscava seu talento dentre as opções. Vagamente, ela lembrou de si mesma, mas afastou aquela lembrança. A loira foi até a flor que brilhava sobre o Pó Rosa que identi...