Parte 1

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______________ [06 e ??] ______________

Não parecia um castelo.

Sua irmã queria um castelo e eles começaram a juntar os baldes de areia, mas isso não parecia um castelo. Ele precisava pegar mais água no mar e, se ele fosse até lá, teria aquela sensação estranha da areia viscosa entrando entre os dedos dos seus pés.

Ele tentava dar forma ao monte de areia, mas sua paciência já estava se esgotando porque sua construção ficava desmoronando toda hora. Ele olhou para o mar e respirou fundo e só conseguia pensar que se molhasse os pés, a areia iria grudar neles ao andar de volta até onde estava construindo.

Não parecia um castelo, era um monte de areia desmoronando.

E ninguém podia ajudá-lo.

Ele olhou para onde os pais estavam e sua irmã dormia no colo da mãe. Ela tinha desistido e o abandonado no meio da brincadeira.

Ele tinha seis anos e sua irmã, quatro. Por mais que ele se irritasse com ela algumas vezes, seu papel como irmão mais velho era cuidar dela.

Se ela queria um castelo, ele faria um castelo.

O amontoado de areia em que ele trabalhava já estava estranho antes da bola cair sobre sua construção, depois disso, as coisas ficaram ainda piores.

Ele assustou com o impacto da bola e se jogou para trás, caindo de bunda no chão. Agora sua bermuda estava cheia de grãos de areia e seu coração batia acelerado.

“Desculpa!” Um garoto mais ou menos da sua altura se aproximou e se curvou “Eu chutei forte demais e... eu não... eu não queria... estragar o seu... o seu… o que é isso?”

Ele se agachou ao seu lado, abraçou os joelhos e olhou para aquele monte de areia disforme e destruído e tentou entender o que via.

“Era um castelo!”

“Ahh!” O garoto franziu a sobrancelha “De longe eu achei que era um banco.”

Os olhos dele eram sérios e não parecia estar zombando das suas habilidades.

“Era um castelo para minha irmã.” Ele olhou para trás de novo e a irmã continuava dormindo e seus pais conversavam, sem nem olhar para ele.

“Meu irmão não quis brincar comigo.” O garoto disse “Quer que eu te ajude?”

O garoto se ajoelhou e começou a encher o baldinho de areia.

“Não é assim.” Ele puxou o balde da mão do garoto e o esvaziou “Precisa de água.”

“Você não estava usando água antes.”

O garoto era irritante e tinha um olhar que o desafiava e agora parecia estar zombando um pouco.

“Eu não…” Ele não podia dizer que não foi buscar a água porque não queria se sujar, ia parecer que ele era fresco “Minha mãe não deixa eu chegar perto da água.” Ele mentiu.

“Eu pego!” O garoto tomou o balde das suas mãos e saiu correndo jogando areia para trás conforme batia os pés no chão.

Ao voltar, o garoto andava rápido demais e balançava o balde, espalhando água para todos os lados e ele pensava se ainda teria alguma coisa dentro dele quando chegasse.

“Aqui! Onde eu coloco?”

Ele notou que os pés do garoto tinham uma crosta de areia grudada e  além dele não se importar com isso, ainda parecia muito feliz em poder ajudar.

“Pode deixar aqui.”

Na verdade, ele não fazia ideia de como recomeçar a construção e olhava, completamente perdido, para a pá e as forminhas de estrela e peixes da irmã.

Castelo de areiaOnde histórias criam vida. Descubra agora