Parte 7

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Pran estava emburrado no banco de trás do carro porque ele e o pai haviam discutido mais uma vez sobre o celular. Não era justo ele ser o único aluno da escola a não ter um aparelho novo.

Seu pai dizia que telefone tem uma finalidade: falar. Qualquer outra coisa é supérfluo e desnecessário e, por causa disso, Pran nem levava o aparelho que tinha para a escola com receio de zombarem dele. Era melhor dizer que não tinha um a mostrar aquela velharia para os colegas.

Se ele tivesse um celular novo, ele poderia falar com Pat.

Com o seu celular velho ele também poderia, só faltava coragem.

Ele tinha criado uma conta na rede social que os colegas usavam, o problema era que ele só  podia usar o computador da escola. Ele até tinha procurado pelo amigo e via suas fotos e postagens, no entanto, faltava coragem para adicioná-lo. Depois era só pedir o número do telefone e eles poderiam conversar.

Eles iriam conversar sobre o quê?

Nas fotos, Pat estava sempre rodeado de amigos e ia para jogos e festas, o que ele teria para contar da sua vida?  Pran mal saía de casa e tinha só um amigo, que era tão recluso quanto ele.

Se seu celular fosse bom, ele poderia tirar uma foto nova com Pat. Será que ele aceitaria tirar uma foto com a boca suja de sorvete de novo? Pran sorriu ao pensar no amigo, que não era mais uma criança, com a boca suja de sorvete.

“Por que você está sorrindo assim, filho?” Seu pai o via pelo espelho retrovisor “Olha lá, acho que ele está pensando na namoradinha da escola.”

“Não estou não, pai!” Pran fechou a cara. Ele não sabia que o pai o sondava.

“Ninguém gosta do Pran na escola, pai!” Sua irmã falou e mostrou a língua para ele.

“Não fala assim, filha!” Sua mãe a repreendeu.

“Só estou dizendo a verdade!” Ela ainda tinha um sorriso triunfal.

No ultimo aniversário dela, a menina tinha pedido para a madrinha um telefone celular e ganhou, mesmo contra a vontade dos pais. Quando Pran reclamou da irmã ter um aparelho sendo mais nova do que ele, seus pais a proibiram de levar para a escola e permitiram que ela usasse somente por uma hora por dia.

Por causa disso, ela direcionou sua fúria para o irmão, se ele não fosse um bebê chorão, ela poderia mostrar para as amigas que tinha um celular melhor do que o delas.

Pran desceu do carro e seguiu os pais para o hotel. O percurso do estacionamento até a recepção não era longo, contudo, na percepção de Pran, pareciam ter poucos carros e poucas pessoas por ali.

Ele mordeu a junta do dedo indicador, tentando amenizar a ansiedade, e sua mãe segurou seu pulso, fazendo-o parar.

“Tudo bem, filho?” Ela perguntou, com receio de que o comportamento estranho do filho voltasse.

“Sim!” Ele sorriu para tranquilizá-la e colocou as mãos nos bolsos da bermuda.

A vontade de se morder aumentava a cada segundo, junto com sua angústia por não conseguir achar Pat em nenhum lugar próximo.

Sua mãe e sua irmã caminharam pelo corredor, rumo ao quarto, e Pran deixou os ombros caírem para frente, se sentindo chateado e derrotado. Ele deu alguns passos atrás delas até ser parado por seu pai.

O senhor Kirdpan não gostava de como as coisas estavam com o filho, visto que os dois sempre tiveram uma boa relação. Ele não queria perder isso por causa de uma bobagem de celular.

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⏰ Última atualização: Jul 14 ⏰

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