Parte 5

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______________ [11 e 13] ______________

As viagens de carro eram longas e, nos últimos anos, não tinham sido um problema, porque ele tinha certeza de que Pat estaria lá e isso o animava. Porém, desta vez, Pran sentia uma mistura de angústia e apreensão e tentava não criar expectativas, pois, se Pat não viesse, seria menos doloroso.

Pran colocou a mochila nas costas e seguiu seu pai, que carregava duas malas pequenas, enquanto sua mãe ria da filha, que falava, corria e saltava ao seu lado.

Assim que sua família entrou na recepção, as covinhas se formaram nas bochechas de Pran, porque Pat estava encostado na parede enquanto os pais dele faziam check-in. Ele segurava o celular com as duas mãos, entretido com a tela, e Pran parou de sorrir e esperou que o amigo o visse.

Ele parecia mais alto e mais forte e Pran olhou para baixo e pensou que, diferente do amigo, somente a sua barriga parecia um pouco maior. Pran puxou a camiseta para esconder seu corpo. As amigas da sua mãe sempre diziam que ele era fofinho e isso o irritava e agora, ao se comparar com Pat, isso o deixava muito mais bravo.

Sua irmã ainda contava alguma coisa animadamente para a mãe e quase esbarrou nele, mesmo assim, Pat não se moveu e Pran percebeu que ele usava fones de ouvido.

Talvez ele não lembrasse mais de Pran.

Será que ele ainda tinha a foto deles?

O rapaz da recepção não era o mesmo do ano passado e Pran ficou aliviado. Ele tinha medo de que alguém lembrasse da criança patética que passou uma semana inteira de férias sentada na poltrona nojenta ao lado do balcão da recepção do hotel.

Pat não havia se mexido e nem olhado para sua direção. Ele era um dos meninos grandes agora e Pran era só um garoto gordinho, eles não iriam mais brincar.

Sua barriga fez um barulho estranho e ele a segurou com as duas mãos, sem saber se era fome ou vontade de ir ao banheiro. A mochila, jogada sobre um dos ombros, pareceu mais pesada do que quando caminhou pelo estacionamento.

Desatento, cheio de pensamentos agitando sua cabeça, Pran não ouviu os passos se aproximando por trás dele e somente olhou para o lado depois que sentiu um empurrão o desequilibrar.

O ombro de Pat tinha batido com força nas suas costas e quando Pran se virou assustado e viu quem era, o amigo colocou o dedo indicador em frente aos lábios, sinalizando para que se calasse e sorriu. Antes que ele pudesse reagir, Pat virou para frente e continuou seguindo os pais.

No primeiro dia, Pat ficou sentado ao lado da família o tempo todo e Pran passou perto dele algumas vezes, mas ele só olhava para o celular.

Essas férias estavam muito chatas, já que sua  irmã ficava o tempo todo com a mãe e Pran não tinha muito o que fazer. Definitivamente, Pat não queria mais brincar, afinal brincar é coisa de criança e eles não eram crianças. Pat não era. De longe, Pran acreditava ter visto uma sombra sobre seu lábio e pensou que podia ser um bigode.

“Pode ser sorvete, porque ele se suja pra comer.”

Pran tinha andado até o jardim perto do parquinho e batia num arbusto com um graveto que tinha encontrado caído no chão.

“Seu pai vai te bater se você continuar estragando as coisas assim!”

Suas pernas tremeram ao ouvir a voz dele, mesmo assim, Pran não se virou para olhá-lo.

“Meu pai não me bate!” Pran falou bravo.

“Sorte sua!” Pat suspirou.

Pran não conseguiu evitar e sondou o amigo. Ele tinha se perdido naquele lugar onde guardava o choro e Pran se sentiu culpado.

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