CAP 3 - Mistérios constituintes

386 45 0
                                    


Viserys estava parado em frente a grande fogueira acendida no meio do acampamento, observando as chamas consumirem a madeira que lhes dava forma, com uma taça meio cheia de vinho em sua mão.
Por mais que a noite cobrisse a extensão do céu com sua escuridão, o homem não conseguia simplesmente fechar os olhos e adormecer, com sua cabeça latejando ao pensar em suas filhas e tudo o que poderia acontecer por conta de suas futuras decisões.
Preocupado e bêbado, quase alucinante.

Alicent alimentava Aegon quando viu que seu marido não estava deitado, então deixou o garoto a mercê das servas e foi para onde o rei havia seguido.
Ainda usando seu gracioso vestido vermelho - não teve tempo para trocá-lo durante o dia - ela aproximou-se deslizando a mão em círculos por sua barriga enquanto se aproximava de Viserys.

- Está tudo bem, Vossa Graça? - A voz mansa e atenciosa dela chamou-lhe a atenção, fazendo com que afastasse a taça de vinho de seus lábios no mesmo instante em que a ergueu.

Ele a olhou por um instante antes de voltar a encarar as chamas perante eles, deixando um silêncio se instaurar por minutos até que finalmente criasse forças para responder.

- Eu... pretendia nomear Rhaenyra para proteger o reino contra Daemon. - Ele explicou. - Ela era minha única filha que esteve aqui o tempo todo. Seria um ato de amor. - A jovem encarou-o esperando que ele terminasse sem interrupções. - Porquanto nunca tive esperanças de que Daenerys retornaria, não com vida. Quando ela partiu para Essos, tinha apenas treze anos. Enviei inúmeros homens para as Terras Fluviais, Campina e até mesmo as Terras da Coroa, mas não a encontraram. Ela não estava em lugar nenhum.

- Fez o que pode para ajudá-la em um momento difícil.

- E então, dois meses depois, ela me envia uma carta informando que está em Qarth. - Era como se ele falasse para Alicent escutar, mas conversasse consigo mesmo. - Pode acreditar nisso? Qarth, bem longe de Westeros.

- A princesa Daenerys tem uma alma livre.

- Sim, ela tem. Isso é uma faca de dois gumes. - Ele temeu ser julgado, porém, sua esposa ainda tentava entender sua preocupação, dando-lhe um sorriso fino em compreensão.

- Por que não a buscou de volta? Era perigoso para alguém da idade dela viver sozinha por aí. - A rainha tinha conhecimento dos conselhos que o rei recebeu para não fazer isso, mas sempre guardou dentro de si uma imensa curiosidade sobre os motivos para a decisão dele.

- Tive medo do tipo de reação que ela poderia ter. - Viserys respirava profundamente por conta da fumaça que chegava às suas narinas, com lágrimas de desgosto alcançando seus olhos. - Eu achava que seria melhor permitir que ela vivesse da maneira que achasse melhor. Há vários exemplos em minha família de que não se pode mudar a natureza de alguém. - Alguns cavaleiros passaram há alguns metros deles, o que fez ela se lembrar de que estava tarde, porém não teve espaço para falar nada. - Achei que ela morreria.

As palavras dele escaparam de seus lábios antes mesmo que ele pensasse se queria dizê-las. Dificultava controlar suas emoções considerando o alto nível de álcool em seu corpo.

- Mas ao invés disso, se ela se ergueu como uma protetora das Cidades Livres. Uma garotinha protegendo inúmeras pessoas. - Uma risada rouca escapuliu dele, e foi difícil controlá-la para continuar o que tinha a dizer. - Sei que muitas coisas ruins devem ter lhe acontecido e nunca chegou a me contar. Mas ela foi forte e sobreviveu. Por conta própria. - Seus olhos foram ao encontro do líquido escuro no fundo da taça de prata. - Porém não estava aqui.

- Eu sei, meu rei. - As mãos dela alcançaram os ombros do marido, deslizando por eles carinhosamente. O pequeno momento de silêncio sendo interrompido por sua pergunta. - Pretendia casar Rhaenyra primeiro para que ela tivesse uma reivindicação mais forte para o trono? - O rosto dele empalideceu ao encontrar o olhar da Hightower.

O carrasco da tormenta Onde histórias criam vida. Descubra agora