CAP 1 - É isso que sou para você?

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103 d.C









Winterfell - Westeros










- Diga que não quero vê-lo. - A voz de Daenerys saiu em um soluço abafado contra os incontáveis travesseiros a qual ela estava com o rosto enfiado.

- Sabe que não posso dizer isso, princesa. - Meistre Ranfey aproximou-se da garotinha perdida no emaranhado de lençóis, sentando-se na ponta da cama. - Acima de tudo, ele é seu rei. Se ele quer vê-la, assim o fará.

- Não pode dizer que caí do navio e me afoguei no mar enquanto estávamos vindo?

- Eu não me atreveria, Vossa Graça. - Daenerys esperneou fazendo com que a barra de seu vestido subisse um pouco e revelasse seus tornozelos. Ranfey cheio de solenidade, apenas ajeitou a vestimenta da garota, antes de continuar com suas tentativas de convencê-la. - Assim como perdeu sua mãe, ele perdeu a esposa dele. Ambos estão cercados pelo luto, então por que negar os sentimentos de seu pai?

Ela virou-se com tanta fúria para encará-lo que seus cabelos esparramaram-se sobre seu rosto inchado.

- Ele tem outra esposa para consolá-lo em seu luto. - Ranfey esticou a mão enrugada para tirar os fios dos olhos dela, gentilmente colocando-os para trás de suas orelhas. - Não tenho outra mãe. - A última frase saiu em um sussurro embargado. - Ela era tudo que eu tinha.

- Tenho certeza de que a Rainha Aemma fará de tudo para que não se sinta tão sozinha nesse processo, princesa. - O velho Ranfey conhecia perfeitamente a natureza da pequena Princesa da Tormenta, e nutria um carinho paternal para com ela. Seu coração enchia-se de amargor vendo a melancolia a qual ela o olhava. - É um momento para se permitir ser acolhida.

Daenerys não queria ser acolhida.
A única coisa que desejava naquele momento era ser deixada em sua própria companhia, sem ninguém para tentar convencê-la a aproximar-se do rei ou sua esposa.

- Se sendo uma princesa eu sequer posso decidir se quero ou não, encontrar alguém, de que me serve esse título? - A raiva voltou a ocupar o rosto dela, diluindo qualquer vestígio de tristeza que houvesse ali antes.

- Pode decidir não ir de encontro a algum lorde ou lady. Mas não funciona assim quando se trata do rei. - Explicou o velho. - O Rei Viserys Targaryen viajou de King's Landing até Winterfell para velar o corpo de sua querida esposa. Ele não precisa lidar com o estresse de sua filha irredutível e desobediente. - Ele levantou-se olhando para ela de maneira dura, como fazia quando ela tinha metade do tamanho que alcançava agora. - Algumas criadas irão vir e auxiliá-la.

Daenerys agarrou um dos travesseiros e o jogou contra o chão assim que o Meistre saiu do quarto.
Se toda aquela conversa trouxe alguma clareza para os pensamentos da garota, ela não demonstrou.
As pobres criadas tiveram de segurá-la para que uma delas amarrasse os fios prateados em uma trança simples - tudo o que pode ser feito perante a agitação da princesa -.

O castelo de Winterfell era pouco iluminado por tochas crepitantes que ficavam acesas desde as primeiras horas do dia. O Norte era um lugar úmido e gélido, e por algum infortúnio, era época dos primeiros sinais do inverno.

A mãe de Daenerys, era filha da Princesa Viserra Targaryen - filha do Rei Jaehaerys, predecessor de Viserys - com o velho Lorde Theomore Manderly. Por esse motivo era bem-visto que a cerimônia fúnebre fosse em sua casa de nascimento.
Mas aquilo irritava a pequena princesa, que mal via a hora de voltar para Pedra do Dragão.

Porquanto o caixão com o corpo da primeira esposa do rei era levado para as criptas abaixo do castelo, uma ou outra pessoa lhe afagava o topo da cabeça tentando consolá-la.
Daenerys esgueirou-se entre os homens enormes vestidos em mantos de pele, resmungando quando era empurrada para trás.
Naquele momento o fardo da realidade caiu sobre seus ombros, a fazendo perceber que era um adeus definitivo.
Só veria sua mãe novamente em seus sonhos, o que era injusto, pois não eram reais o suficiente.

O carrasco da tormenta Onde histórias criam vida. Descubra agora