CAP 9 - Sob os mesmos detalhes

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Daenerys encurvou-se sobre uma banca de especiarias, rolou os dedos pelos vidros e potes de formatos diversos, enquanto o vendedor a encarava do outro lado da banca. Ela afastou-se, se locomovendo em direção a Rua do Ferro, onde já havia um certo número de pessoas escoradas contra as paredes, observando-a.
Não era necessário que ela procurasse visualmente a presença de Sir Harwin, tendo em mente que o cavaleiro a acompanhava de perto, o que anulava qualquer tipo de proximidade incômoda que qualquer morador tentasse estabelecer.
Mesmo que inconscientemente, caminhava mais leve, sabendo que não correria riscos. No entanto, ainda se ressentia da atitude do Strong na colina.

Não havia um destino específico que ela almejasse chegar, entretanto, seu objetivo era estar perto do povo. "Observar e assumir" era o que buscava. Estava entre todos, enxergando, mesmo que superficialmente, suas dificuldades e sentimentos de pavor e represália. Quanto mais adentrava as estranhas de King's Landing, mas forte se tornava o cheiro de abandono que lhe impregnava.

Suas botas estavam cobertas de lama quando se deu conta de que entrava na Baixada das Pulgas - Harwin provavelmente a informou sobre onde estavam, mas ela não conseguia escutá-lo com clareza -. Era um lugar abrutalhado, até mesmo para a imundice que situava a cidade. Cercado por vielas e construções inóspitas, mercadorias espalhadas aos dois lados das ruas, bordéis ao ar livre expostos mais adentro. Harwin tomou o lado direito de Dany, privando-a de ver a luxúria humana em sua mais pura e selvagem forma.

- Se quiser voltar, a qualquer momento... - Harwin abordou a ideia. - Basta dizer-me.

- Eu direi. - A princesa se omitiu do olhar dele, assim como se desviou de ver momentos considerados impróprios para seus olhos.

Adentraram uma viela tortuosa que chamou a atenção da Targaryen. Havia uma construção antiga e enrijecida pelo tempo e desleixo, esvaindo risadas finas de seu interior. Ela não pode deixar de entrar o local - o que era curiosamente fácil, pois apenas um portão enferrujado o guardava - atravessando um corredor estreito até chegar ao pátio aberto.
Um grupo de crianças pequenas se divertia, até perceberem a presença da princesa. A septã responsável também pareceu percebê-la, pois logo veio até onde ela estava.

- Deve ser a Princesa Daenerys, estou certa? - Era uma mulher de elevada altura. Tinha olhos verdes, assim como a mata, e bochechas rubras. Pouco se via dela, já que suas vestes lhe cobriam quase por inteira.

- Certamente. Espero não estar atrapalhando o dia das crianças. - Dany pousou ambas as mãos sobre o próprio estômago, visando a estrutura gasta do orfanato.

- Isso seria impossível, Vossa Alteza. Sua presença é extremamente benéfica. - A septã encurvou-se em respeito. - Sou a Septã Calida, responsável pelas crianças que aqui vivem. Como pode ver não é um lugar agradável para sua presença, mas posso lhe garantir que é repleto de amor, embora aparente desleixo.

- Não é necessário que se preocupe com o que penso. Estou aqui unicamente para ouvi-los e ver-lhes. - Os olhos felinos da mais velha brilharam de esperança, enquanto lhe apontava um tablado em que algumas meninas se sentavam para brincar com suas bonecas improvisadas com trapos.

Dany foi lentamente até lá, reconhecendo que a maioria das crianças não deveria ter mais do que dez anos. O som da armadura pesada de Harwin ecoou atrás dela, mas naquele momento, aquilo não lhe prendeu a atenção.
A aparência dos garotos e garotas era de extrema diversidade. Grande parte deles eram bastante esbeltos, mas se era dificultoso enxergá-los por baixo das feridas ralas e manchas nódoas.

- Somente crianças pequenas vivem aqui? - A Targaryen indagou.

- Em sua grande maioria. Quando maiores, os meninos geralmente se vão em busca de trabalhos que possam lhe arranjar um teto e um punhado de pão. E as garotas, ao beirar os doze, também seguem seus caminhos dentre as poucas opções que existem. - Calida acariciou os cabelos loiros de uma das garotas, tentando disfarçar o ar sugestivo que pesou. - Tento ajudá-los ao máximo, mas a fome, frio e doenças são constantes.

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