SOJA

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Cassandra precisava tomar uma rápida decisão porque a pessoa que matou ainda estava por ali, mas ela não fazia a menor ideia de para onde ir primeiro. A multidão que se evadia era perigosa, incontrolável, não tinha como parar os indivíduos para verificar um por um. Respirou fundo e olhou atrás do palco. Não tinha nada de diferente por ali. Teve a ideia de subir para a área dos camarotes e ver quem ainda estava por lá. A resposta era ninguém, todas as pessoas já tinham saído. Bufou, frustrada. Porém viu naquele lugar vazio uma oportunidade de entrar onde não tinha conseguido acesso antes.

O camarote onde Inezita esteve ainda conservava sua bolsa em um canto. Cassandra não podia mexer na evidência porque não tinha luvas, mesmo assim tratou de olhar com cuidado. Havia comidas e garrafas de bebida sobre uma mesa, dois grandes sofás forrados com mantas, sendo que um era sofá cama e estava aberto. Usando um pano de prato, Cassandra empurrou a porta do banheiro e encontrou pinos de cocaína mal descartados. A investigadora revirou os olhos. Não era novidade para ela ver ricos consumindo ilícitos como água.

Teria que deixar o resto nas mãos da perícia.

Entrou no demais camarotes e não achou nada de distinto além de um cigarro de maconha e um binóculos. Provavelmente para enxergar o palco.

A investigadora saiu do camarote e entrou no banheiro. Ouviu seus passos ecoando. Não viu a sombra atrás da porta que, com agilidade, enfiou um saco preto em sua cabeça. Cassandra tomou um chute na parte de trás do joelho e caiu. Uma corda foi puxada, a boca do saco se estreitou de forma perigosa ao redor do seu pescoço. Outra pessoa atou as mãos da investigadora, com uma presilha lacre de plástico. Ela estava se debatendo e desferindo golpes, mas logo lhe prenderam os tornozelos também.

— Quem são vocês?! — Questionou aos berros. — Socorro!

Logo enfiaram um chumaço de papel higiênico molhado na boca da mulher. Carregaram a detetive agitada, como se fosse um porco morto, e arremessaram-na na traseira de uma camionete. Quando a mulher conseguiu cuspir o papel, já sentia o ar quente e úmido da noite, e o vento, com cheiro de terra molhada. Cassandra tentava se soltar, em vão, porque não conseguia, já que não tinha condições propícias.

Ficou quieta tratando de armar um plano. Desesperada, pois não imaginava que poderia ser alvo daquela maneira. Praguejava mentalmente e se amaldiçoava. Arrependeu-se de ter sido inocente diante das proporções que aquilo estava tomando. Precisava ser mais rápida, se sobrevivesse. A chance era mínima, mas, talvez... Quem sabe era o dia de sorte dela.

O que a deixava mais irritada era que sabiam quem era responsável pela investigação e talvez Marília a tirasse do comando antes de terminar. Seria o mesmo que assinar seu certificado de incompetência.

Depois de algum tempo a camionete parou e cassandra ouviu barulho de porta e de lona sendo arrastada. Onde quer que estivessem, estava frio demais e terrivelmente silencioso.

Cassandra ouviu um som de plástico sendo arrastado e em breve a puxaram pelo pé. Seu coração acelerou.

— Quem são vocês? Por quê estão fazendo isso? — Perguntou antes de lhe sapecarem um tapa no rosto.

Doeu muito. Quem fez tinha a manha para machucar mais.

— Malditos. — Cassandra cuspiu sangue advindo de um corte na parte interna de sua bochecha, feliz porque não era um de seus dentes que estava indo embora.

Ela foi empurrada e caiu sobre alguma espécie vegetal e terra. Sua pele ficou cheia de pequenas lacerações.

Em silêncio, as duas pessoas que tinham trazido ela até ali entraram na camionete e partiram. Cassandra sentiu o desespero do abandono no exato momento em que se viu absolutamente sozinha no meio do nada. Gritou por socorro, mas não parecia haver alguém por perto. Não ouvia sons. O que durou pouco, porque começou a ouvir a presença de animais. Era mais complicado.

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora