Bailes não são nada parecidos com as festas do século XXI! Bailes são chatos, mas pelo menos tem música.
Pedro ficou totalmente afastado de mim, cumprindo seu papel de príncipe. E eu fiquei abandonado no meio do salão, o observando de longe.
A noiva dele é bonita, uma garota alta, só um pouco mais baixa que ele, de cabelos loiros e olhos castanhos. Vão ter filhos lindos! Nossa, deu dor de cabeça só de pensar nisso! Ele parece se divertir com ela e talvez eu estivesse enganado sobre a sua sexualidade. Tomara que sejam felizes!
Tomo um gole do que parece ser um champanhe, e olho em volta, procurando mais alguém. Eu não conheço ninguém, só o alfaiate, aquele cara da mansão, que pelo jeito é da alta sociedade para estar aqui, Amélia, que está trabalhando, e Pedro, que está ocupado. Alguém toca no meu ombro e eu me viro.
— Oi – É a noiva de Pedro – Você deve ser o João! – Fala animada e eu assinto.
— Sim, sou eu! Você é a noiva do Pedro, né? – Ela faz uma careta.
— Duas coisas – Faz dois com os dedos – É horrível ser conhecida como noiva de alguém. Eu sou mais que isso! – Gostei dela – E eu não sou noiva dele.
— Não é?
— Meus pais querem, mas eu vou convencer eles a esquecerem isso. – Sussurra. – Eu não quero me casar, não por causa da alteza, mas eu não quero isso com ninguém.
Que garota legal! De repente, ela se tornou uma ótima pessoa na minha visão.
— Então, qual é o seu nome?
— Maria Luísa! – Estende a mão e eu fico sem entender – Ah, certo, você não é deste século! Você deveria beijar minha mão, mas eu entendo. É chato!
— Pedro contou para você? – Pergunto.
Achei que fosse um segredo nosso.— Sim – Poxa! – Estão todos dançando, então como estamos os dois aqui, vamos dançar?
— Eu não sei dançar isso. – Tento contestar, mas ela me puxa até o centro do salão. E eu tento seguir os passos das outras pessoas, até que não é difícil.
É só lembrar dos filmes de época que você assistiu, Jão! Tipo, Orgulho e Preconceito. Noto alguns olhares e eu entendo, vou ser conhecido como o talarico que está dançando com a noiva do amigo. Uau!
— Você está indo bem! – Elogia em certo momento, quando se aproxima junto com as outras garotas.
A música finalmente acaba e eu me afasto. Não quero mais encrenca e uma fama de talarico na conta.
— Se divertiu? – Pedro chega me assustando.
— Eu tentei seguir os outros caras, mas não sei se fui bem. – Falo – Acho que vão pensar que eu sou talarico, não é?
— O que é talarico?
— Esquece... Mas fique claro que ela veio falar comigo e foi só isso! Aí ela me chamou para dançar e... – Ele sorri.
— Tá tudo bem! Não é com você que tenho que tomar cuidado, e sim com ela. – Franzo o cenho. – Ela que pode te roubar de mim! – Fala e se afasta, me deixando paralisado para trás.
Espera... Não! Ele acabou de flertar comigo? Não! Não é possível! É possível?
( ... )
Tá, talvez seja possível...
Sim, eu fiquei bastante tempo pensando nisso. Qual é? Eu não tenho nada para fazer a não ser pensar.
Pedro está dançando com Maria e ele parece saber como faz isso. Pego algum lanche que passa por mim e fico observando os dois.
Eu tô confuso!
Acho que eu preciso de ar fresco! Saio para o jardim e fico andando por aí olhando a lua, já que não havia muita iluminação.
Será que eu estou gostando do Pedro? Eu conheço ele há tão pouco tempo!
Isso é complicado! Eu nunca gostei de ninguém, não dessa forma, e a pessoa que eu fui gostar é uma impossível para mim. Será que é alguma maldição por eu ter ficado com muitas pessoas? Faria sentido!
Ouço alguns barulhos de beijo e eu me escondo atrás de um arbusto para ver quem são.
É o senhor da mansão e uma outra moça, mas eles tão se agarrando muito. Pelo desespero, ela deve ser amante dele. Não é uma cena legal, então me sento no gramado e fico olhando a lua. Ignorando os barulhos nojentos.
Meu celular acabou a bateria alguns dias atrás e agora nem isso pode me tirar do tédio. Então fico só sonhando acordado. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas os barulhos finalmente pararam.
— Achei você! – Pedro chega me assustando pela segunda vez no dia. Maria estava com ele.
— Vocês estavam procurando por mim? – Pergunto e os dois sentam ao meu lado, me deixando no meio.
— Está chato lá, só ficam falando do casamento, que não vai acontecer. Aí sua Alteza real sentiu sua falta e viemos te procurar. – Maria explica e eu olho para Pedro, que estava vermelho.
— Não desconfiaram que vocês... Iam... –
Não completo, porque Maria entende.— Não! Todos sabem como eu sou pura e não faria isso num baile. – Pedro arregala os olhos e eu rio nasalado.
— O que você fazia? – Pedro pergunta.
— Olhava a lua enquanto um pornô acontecia atrás de mim.
— O que é pornô? – Pergunta.
— É... Coisas que adultos fazem. – Falo como se estivesse explicando para uma criança.
— Que nojo! Atrás de você?! Esses libertinos! – Maria parece indignada.
— Eu só ignorei... Estava pensando em outras coisas mesmo. – Olho para Pedro rapidamente e nossos olhares se encontram.
— Do que será que é feita a lua? – Maria pergunta e nós quebramos o nosso olhar.
— De um tipo de pedra que não tem na Terra. – Explico e eles me olham. – Ah, o homem já pisou lá!
— O que? – Pedro pergunta chocado e a cara de Maria é impagável.
— É! Em mil novecentos e bolinha, os americanos pisaram lá pela primeira vez!
— Poxa, não foram os brasileiros. – Maria faz uma careta.
— Um dia eu conto toda a história para vocês. – Volto a olhar para o céu. – Olhem, uma estrela cadente! – Aponto e fecho os olhos para fazer um pedido.
Eu desejo voltar para o meu tempo!
Abro os meus olhos e viro para Pedro, que me olhava. Se eu voltar para 2024 vou ter que deixá-lo para trás. E eu não quero isso...
— Todo dia a gente acorda e diz que vai ser bom, e o impossível diz que sim, que o nosso fim já tá aqui... – Cantarolo baixinho.
— É sua? – Pedro pergunta.
— Não... Quem me dera!
— Bom... Vou voltar para o baile! – Maria se levanta e sai, nos deixando a sós num silêncio confortável.
Eu queria perguntar para ele sobre o que falou lá dentro, mas acho que não seria certo. Ele tem muita coisa em jogo e não vai me responder a verdade.
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Alinhamento Milenar (Pejão)
FanfictionJão vivia uma vida de festas. Curtindo a sua vida de solteiro, junto com sua banda. Até que acidentalmente, por algum erro, ele vai parar em outro tempo. Um outro século para ser mais específico, um século onde ainda existia monarquia.