Não contei a Pedro sobre a possibilidade de eu voltar. Ele está muito ocupado e mal aparece aqui. As vezes vejo notícias sobre ele no jornal ou pelas fofocas das criadas.
Como aconteceu aquela confusão, Amélia se afastou. Então eu não tenho ninguém para conversar. Meu passatempo tem sido escrever músicas. Letras que falam sobre toda essa minha experiência, letras que falam sobre Pedro.
— Não, isso não rima! – Falo para mim mesmo. Já era noite e eu escrevia a luz de velas, ainda não havia eletricidade e lâmpadas. Só ano que vem Thomas Edison vai inventar a lâmpada.
Ouço batidas na porta e eu vou atender.
— Pedro? – Pergunto. É tarde da noite, ele devia estar dormindo.
— Eu preciso sair desse lugar por um instante e preciso de companhia. – Fala rápido e me puxa para fora do quarto.
Ele não parece bem.
Sigo o moreno até o estábulo. Ele carregava uma garrafa de alguma bebida que acredito ser alcoólica, vai até um lugar onde não havia cavalos e se atira contra os fenos. Me sento ao lado dele e o observo em cada movimento.
— Eu não aguento mais... Eu não quero ser rei, eu não quero me casar, eu não quero nada disso! – Fala e bebe um gole da garrafa, fazendo careta. Ele me entrega e bebo também, reconhecendo o gosto de whisky.
— Eu não sei o que te dizer, mas eu posso te ouvir... – Falo e ele me olha.
— Eu só estou cansado!
— Se você não quiser ser rei, não seja! Desista – Aconselho, mas não sei se é o certo.
— Eu não posso! – Abaixa a cabeça e bebe mais um gole. – Você pode cantar pra mim? Por favor!
— Claro! Quer algo alegre, ou mais suave?
— Alegria! – Penso em alguma música e logo começo a cantar.
Ele sorri no momento que escuta minha voz e isso me anima. Ele gosta de me ouvir cantar, lhe deixa melhor.
( ... )
— E como você fez para cantar? – Pergunta rindo. Já estávamos bem bêbados e riamos de coisas idiotas. Havia contado a história de um dia que estava me apresentando e uma fã me deu uma bebida que amortecia a língua.
— Simplesmente não cantei aquela música, era impossível, virei chacota entre os meus fãs naquela época. – Ele não entende e franze o cenho. – É tipo piada.
Ele ri, atirando a cabeça para trás e colocando as mãos na barriga. E eu o acompanho. A gente vai parando de rir aos poucos e ficamos olhando para o teto.
— Se eu não conseguisse terminar um discurso por essa razão, também viraria chacota.
— Entraria para os livros de história como o rei bobo. – Comento e ele solta uma risada nasalada, virando o olhar para mim.
Estamos perto, muito perto, e a boca dele parece muito convidativa. Estava levemente úmida por causa da bebida e isso me faz ter desejos insanos. Os olhos dele estão mais brilhantes que o normal e a pupila está dilatada.
— Você... – Começo, olhando para todo o seu rosto e ponderando se devo ou não beijá-lo.
— Eu... – Fala, no mesmo tom que eu. E então eu resolvo arriscar, seguro em seu rosto, o puxando para mim, e o beijo.
Não é algo desesperado, só um selinho, mas é suficiente para o meu corpo entrar em combustão. Ele não sabe onde colocar as mãos, ele nunca havia beijado antes, mas é bom, muito bom.
Eu seguro na nuca dele, o puxando para mais perto de mim. Mas então ele me empurra e se afasta, se levantando num pulo e caminhando de um lado para o outro.
— Isso não podia ter acontecido! Isso é errado! – A sua fala faz meu coração doer. – Mas é um erro tão bom... – Me olha, mas logo desvia o olhar. – Dois homens não podem ficar juntos! É pecado! – Reviro os olhos.
— Não é errado, muito menos pecado. – Argumento. – Pedro, preste atenção! – Ele volta a me olhar – Eu gosto de você!
— Não... Meu Deus! Não! – Fala. – Esquece que isso aconteceu! Não deveria ter acontecido... Você não pode gostar de mim. – Sai do estábulo, me deixando sozinho.
Eu sei que é difícil para ele. Este tempo é preconceituoso. Mas ele gosta de mim, eu sei disso. No fundo ele sabe que isso não é errado...
Por que tem que ser tudo tão difícil?
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Alinhamento Milenar (Pejão)
FanfictionJão vivia uma vida de festas. Curtindo a sua vida de solteiro, junto com sua banda. Até que acidentalmente, por algum erro, ele vai parar em outro tempo. Um outro século para ser mais específico, um século onde ainda existia monarquia.