IMPORTANTE: a cena a seguir terá como referência a obra de victoriagargaro
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Palavras: 500A diferença entre entrar num portal por vontade própria e ser puxado para ele é a mesma de escolher se jogar contra uma janela de vidro e ser empurrado contra ela.
No segundo caso, o corpo não está pronto, mesmo que chegue a desejar escapar para longe de uma verdade traumatizante ⎯⎯ assistir o amor de sua vida ser devorado pela dor. Entretanto, a mudança indesejada bagunça seu cérebro. Átomos lutando para permanecer conectados, nervos em chamas, com tantos sentidos tentando se adaptar ao mesmo tempo, tudo em volta parece decorrer em câmera lenta.
Porém, dessa vez, está diferente. Enquanto Oihio se distancia lentamente do mundo anterior, ainda puxado pela mão do desconhecido, vê o portal, antes como uma rachadura no meio da realidade, substituído por algo como uma entrada de caverna, envolta por musgo escuro. Seu centro é um redemoinho arroxeado, como o brilho da pele de Oihio, e filetes de eletricidade se fazem emitir do portal, saltando entre as lascas de vidro que acompanham os arredores do Viajante em pleno ar, desfazendo-se na velocidade de um pensamento e deixando para trás fagulhas róseas bruxuleantes.
Quanto mais se distancia do portal, mais detalhes Oihio assimila desse mundo. Em volta do buraco musguento, vidro cobre uma complexa estrutura de concreto, como a lateral de um prédio de luxo, tomado ao mesmo tempo por areia e ferrugem, assim como a paisagem apocalíptica refletida: sob um céu flamejando nuvens alaranjadas, ruínas urbanas cobrem boa parte do solo, e o que não está tomado pelos escombros carcomidos do que foi uma cidade é invadido por dunas de areia. Não há vegetação à vista. Não há rios, automóveis ou luz além do voraz astro rei. A própria paisagem, ainda que paisagens não emitam sons, está preenchida por um silêncio tão mórbido que pesa, e pesa como a pergunta que todo ser se faz ao se sentir mortalmente solitário: tem alguém aí?
Sem controle, Oihio começa a girar. Em vez do céu, passa a olhar para o chão, uma praça de azulejos portugueses desgastados cheia de humanos vestidos para o armagedon que saíram de dentro do prédio, olhando justamente para a janela onde o portal se formara. Aquele que acaba de aparecer, o único vestido com roupa de alfaiataria, também tem uma presença diferente, move-se diferente e olha para Oihio de um jeito diferente. Não é daquele mundo, percebe, como ele, mas não é um Viajante.
Então entende. Tudo de um só vez, o acerta em cheio como se uma janela o golpeasse: as falhas na realidade, os mundos acabando antes da hora, Ioi sendo possuído, tudo começa a fazer um terrível sentido, e, pela segunda vez em poucos segundos, a verdade se torna aterradora o suficiente para que queira dela fugir. Por sorte, à sua frente, sente outro portal se abrir. Tenta olhar para seu captor, mas a luz da abertura é demais para ver algo além de uma silhueta.
Dessa vez, é por vontade própria que Oihio atravessa a passagem entre mundos.
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OIHIO
Short Story.。.:*・゜゚・*☆ Viajantes: uma raça de seres de poder quase infinito que atravessam os mundos e alteram a realidade a seu bel prazer. Mas, independente do quão poderoso alguém é, nada é de graça. Que preço os Viajantes tem que pagar por tanta liberdade...