Bebidas e enjôo
A cidade onde moro é pequena, pouco populosa e mais ou menos agitada. Bom, aqui mesmo só fica agitado quando tem festas, isso quando o prefeito para de roubar o dinheiro dos pobres coitados e economiza para tentar dar festas para esses mesmos pobres coitados.
Desde que eu me entendo por gente, lembro que sempre ou quase sempre foi assim. Não é uma cidade grande, então todo mundo aqui conhece todo mundo. Sabe, às vezes me dá até mesmo um nervoso não ter pessoas novas; sempre ver os mesmos rostos conhecidos, pura aflição.
As tardes aqui são lentas, calorosas e lentas. As vezes faz tanto calor que somos obrigados a ter pelo menos dois ventiladores no mesmo cômodo, e nosso bolso que aguente a conta para pagar no final do mês.
Falando em cômodo, estou na sala de casa, vendo meu irmão de seis anos brincar sentado no chão. Ele montava e desmontava aquelas peças grandes de montar, sabe? Não, não é Lego. Até porque, se fosse Lego, já não existiriam mais na mão do meu irmão, o temido "come-brinquedos", já que eles não duram o que deveriam durar; meu irmão costuma quebrá-los antes que possam ser gastos.
- Lucas? - ouço ele me chamar, finjo não ouvir - Lucas? - de novo - Lucas? - mais uma vez.
A questão é que se eu não responder, ele não irá parar de falar meu nome, e enquanto eu não me pronunciar, ele não diz o que quer.
- O que foi, Breno? Precisa de algo? - questiono, sem sair da minha pose relaxada e muito menos tirar os olhos do meu celular.
Era tarde, meio dia talvez, e esse guri estava comigo por pura vontade mesmo e companhia, já que nossa mãe já havia voltado do trabalho e nosso padrasto estava em casa hoje.
Sei que há muitos relatos sobre padrastos e madrastas, porém eu e Breno tivemos a sorte do nosso realmente ser bonzinho, sem jogos, sem disfarces, apenas um homem que quis ser um pai para mim e Breno.
Mamãe sempre nos deixou alerta sobre qualquer coisa, independente de quanto tempo ou anos passe ao lado de Paulo, nosso padrasto. Mas mesmo assim, disse que qualquer coisa que falássemos a respeito dele ela realmente acreditaria, pois para ela primeiro nós, segundo ela e último algum companheiro seu que chegasse a ter.
Nunca ocorreu nada estranho ou traumático, apenas brincadeiras, companheirismo. Às vezes eu mesmo, agora maior de idade, tomo responsabilidade sobre Breno quando ambos estão trabalhando. Eu trabalho também de meio período e pelo notebook em casa que, com muito esforço e economias, a minha mãe me ajudou a comprar para meu uso.
- Você pode vir brincar comigo? Tem muitas pecinhas e dá para brincarmos juntos, olha - ele passa a mão pelas pecinhas espalhadas à sua volta e faz aquele leve som de plástico.
Suspiro, desligo a tela do meu celular e o coloco no bolso. Escorrego da cadeira e ouço meu irmão rir de como vou deslizando da cadeira até o chão. Sento de frente para ele, com minhas pernas juntas e uma por cima da outra, começo a montar casinhas e castelinhos com ele.
- Meninos? Brincando juntos? - minha mãe ri ao passar de roupa limpa e de uso diário, com uma toalha na cabeça, enrolada para secar seus cabelos castanhos escuros e ondulados.
- Fazer o que né, Dona Claudete, milagres às vezes acontecem! - ironizo a ela. Ouço minha mãe rir e ir em direção ao seu quarto e de Paulo.
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Meu encosto é um vampiro
VampireLucas Martins é um jovem de 20 anos que não é muito de se envolver em farras e bebedeiras. Porém, seu grupo agitado de amigos o convence a ir para uma noitada em uma velha cabana no meio da montanha, na cidade do interior do nordeste onde moravam. A...