A mensagem

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A madrugada pairava calmamente sobre o céu, um manto de escuridão pontilhado por estrelas distantes. Hoje, optei por dormir no sofá. Não pretendo voltar a dividir a mesma cama que Gabriel, nunca mais. Havia algo desconcertante em compartilhar um espaço tão íntimo com ele, por mais que nossa convivência tenha se tornado estranhamente... normal.

Acordei no meio da noite com sede, e caminhei até a cozinha, tomando cuidado para não tropeçar em Gabriel, que estava em sua espécie de imitação de sono. Ele permanecia ali, imóvel, deitado em um colchão logo abaixo do sofá onde eu estava. Ainda não me acostumei com essa visão: ele não respira, não se mexe.

Ele tinha feito ajustes na casa, tentando deixá-la confortável para mim em minhas eventuais visitas. No entanto, mesmo após um mês de convivência, ainda era surreal pensar que eu tinha um vampiro como "amigo". Por mais que tentasse normalizar isso na minha cabeça, minhas dúvidas sobre nossa convivência eram muitas, e sempre retornavam nas horas mais solitárias da noite.

De volta da cozinha, segurando o copo d'água quase vazio, eu caminhava distraidamente, lutando contra o sono que pesava em meus olhos. A luz tênue da lua se filtrava pelas cortinas recolhidas, revelando a janela fechada. Do lado de fora, a escuridão parecia impenetrável, como um vazio que se estendia além dos limites da minha percepção.

De repente, no último gole de água, meus olhos captaram algo que me fez congelar. Uma sombra densa passou rapidamente pela janela, tão rápida que eu quase questionei se havia visto mesmo alguma coisa. Meu coração deu um salto involuntário. Engoli em seco, tentando entender o que havia acontecido.

Aquela sombra não parecia natural. Algo dentro de mim sabia que não era apenas minha mente pregando peças. Algo — ou alguém — estava lá fora. A sensação de alerta tomou conta de mim, enquanto meus olhos permaneciam fixos na janela, como se esperassem pela próxima aparição daquela figura estranha.

Com o susto, meus pés tropeçam no próprio chão, e sinto minhas costas baterem com força contra a entrada da porta da cozinha. A dor é imediata, mas não tanto quanto o pânico que pulsa em meu peito. Demoro alguns segundos para me recompor, mantendo-me de pé por puro reflexo, e, quando finalmente abro os olhos, vejo Gabriel despertar, meio atordoado. Ele ergue a cabeça lentamente, seus olhos vermelhos brilhando intensamente na penumbra, até se fixarem em mim.

— Lucas? — sua voz soou calma, mas atenta, enquanto ele olhava em volta, claramente tentando entender a situação. — Você caiu?

— N-não é isso... — minha voz treme, ainda ressoando com o susto. — Eu vi... algo passar rápido lá fora, ao lado da janela. — As palavras mal saem direito, mas consigo apontar para a janela iluminada pela luz fraca da lua.

Os olhos de Gabriel, antes fixos em mim, desviam para a janela com um olhar afiado, a vermelhidão em seu olhar parecendo intensificar. Ele permanece em silêncio por alguns segundos, observando o exterior com uma expressão que não consigo ler direito — talvez vigilância, talvez curiosidade, ou algo mais sombrio. Um frio percorria minha espinha, como se a atmosfera da casa tivesse mudado de uma vez, tornando-se pesada, sufocante.

Ele se levanta devagar, seus movimentos fluidos e precisos, contrastando com o momento anterior em que parecia vulnerável em seu "sono". Gabriel caminha até a janela, seus passos silenciosos, e eu o sigo com o olhar, meu coração ainda acelerado. Algo naquele instante parecia congelar o tempo.

— Não há nada lá fora agora... — ele finalmente murmura, sem tirar os olhos da escuridão além da janela. — Mas algo esteve aqui. E você fez bem em acordar.

Minhas mãos suadas apertam o copo vazio, e, embora a tensão no ar fosse palpável, não consigo evitar perguntar, com a voz vacilante:

— O que... o que acha que era?

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⏰ Última atualização: Sep 23 ⏰

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Meu encosto é um vampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora