Viagem

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Minha casa costuma ser barulhenta, mas hoje está ainda mais agitada. Algumas irmãs da minha mãe estão aqui, ajudando-a a preparar suas malas. Enquanto isso, estou com Breno, ajudando-o a organizar a dele. Como ele é uma criança, cada item que vai na mala precisa ser cuidadosamente calculado e revisado várias vezes, para garantir que nada seja esquecido.

Paulo foi revisar o carro, verificando se está realmente em condições de enfrentar a viagem, por mais curta que seja. Afinal, como minha avó sempre diz: "O seguro morreu de velho."

Vejo minha mãe andando rapidamente pela casa, procurando o que mais colocar na sua mala e na de Paulo. Suas irmãs tentam acalmá-la, assegurando que tudo importante já está tudo dentro e devidamente guardado.

— Pronto, rapazinho — digo, fechando a mala de Breno e bagunçando seus cabelos. Guido, seu bichinho de pelúcia, está preso em seus braços, envolvido no abraço apertado que meu irmãozinho lhe dava.

— Você não vai mesmo, Lu? — Breno me pergunta com aqueles olhões de filhote abandonado.

— Dessa vez não, amigão. Mas come muita coisa gostosa e brinca bastante, por nós dois, tá bom? — sorrio para ele, enquanto puxo sua mala para a sala e o ajudo a se sentar na cadeira.

— Tem certeza, meu amor, de que você vai ficar bem? — minha mãe me pergunta, visivelmente preocupada.

— Tenho, mãe — tento tranquilizá-la. — Relaxa, coroa, estou de boa. Vocês podem curtir a viagem despreocupados. Vai ser bom pra mim, vou ter um tempinho pra mim também e...

— E um tempinho a mais na casa do seu c-o-l-e-g-a, né? — minha mãe pisca para mim, lembrando da forma como falei de Gabriel para ela, antes de se afastar. Não consegui segurar a risada.

Tudo isso aconteceu pela manhã. Esperei a partida deles e, depois, aguardei a hora do almoço. Antes de voltar para casa, bem cedo, de ontem para hoje, Renan acordou eufórico, dizendo que tinha sonhado com "o idiota do Gabriel, jogando alguém contra a parede da casa". Engoli em seco e apenas respondi que foi só um sonho. Gabriel estava escondido e, sem que Renan percebesse, vi o sorriso malicioso em seu rosto diante da descrição do "sonho".

Vejo Pandora, que se esfregava nas minhas pernas em busca de atenção. Sério, ela está crescendo rápido e, a cada dia, fica mais bela.

Mais uma vez, estou aqui, na casa de Gabriel. Agora são uma da tarde. Estou com meu celular, e meu fone de ouvido está conectado, tocando uma música de um dos meus cantores favoritos. Às vezes, tenho a impressão de que as letras falam por mim e pela minha vida.

Me ouço cantarolar enquanto a caneta desliza no papel. Estou fazendo algumas anotações para revisar mais tarde, quando estiver no notebook, trabalhando.

Gabriel está sentado no parapeito da janela da sala, seus olhos vermelhos perdidos em algo do lado de fora. A luz do sol banha a pele fria do morcegão. Admito que estou olhando fixamente para ele, só para ver se ele realmente brilha ou não, como naquele filme de vampiros e lobos. Enquanto observo, acabo notando mais do que apenas sua pele. Seu cabelo está mais longo, o suficiente para ser preso em um pequeno rabo de cavalo. Sua camisa cinza de botões está parcialmente aberta, revelando parte de seu peito. Em filmes ou livros, diriam que ele expôs uma das partes mais "sensíveis" de um vampiro — ou de qualquer um, na verdade.

Enquanto o observo, uma das músicas que mais gosto começa a tocar nos fones. Estranhamente, parece que foi escolhida a dedo para esse momento.

Desvio o olhar quando percebo que Gabriel está me observando. Vejo de relance ele sorrir e se aproximar. Finjo que continuo escrevendo e cantarolando a música.

Meu encosto é um vampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora