capítulo dois

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Dor



   Abaixo de nossos pés, a névoa que sempre vejo rodear Gabriel se faz presente, formando um tipo de suporte que me levita. Sinto um abismo gelado se instalar em meu peito, o que me faz soltar a mão de Gabriel e me apoiar inteiramente em seu ombro direito. Ouço sua risada suave.

Sua mão gélida toca minha pele quente, em um ponto da cintura que minha blusa não cobre.

Gabriel nos leva para uma parte alta do telhado de sua casa. Ele desce primeiro, mantendo a "nuvem" sob meus pés.

— Pode vir, é seguro — ele diz, estendendo a mão para mim.

Olho para ele, e a confiança em seu perfil imortal se espalha por mim. Seguro sua mão e cedo à descida, observando a névoa se dissipar.

Um toque quente se encontrando com um toque frio, quase como o encontro da vida e da morte. O último suspiro vivo, a existência eterna.

O pequeno sorriso que resistia em meu rosto desaparece.

Meus olhos percorrem da mão fria e pálida ao braço, coberto pelo tecido negro e brilhoso de sua jaqueta. Sigo o caminho até o rosto dele. Seus olhos, de um vermelho escarlate, brilham sob a luz laranja da grande lua cheia. Seu sorriso pontiagudo, com presas que oscilam entre o ameaçador e o fofo, carrega um brilho inigualável.

Um brilho que eu não entendo, algo que não consigo compreender.

— É... — murmuro, soltando sua mão. Ele me olha, confuso.

— O que houve, Lucas? — pergunta, imitando meus gestos, e nos sentamos juntos no telhado.

— Me desculpe por tudo que o Renan fez hoje — digo, vendo o olhar confuso de Gabriel sobre mim —, desculpe mesmo.

Gabriel ergue as sobrancelhas, fazendo uma careta enquanto se senta rapidamente sobre as telhas. Se ele pudesse respirar, tenho certeza de que suspiraria alto.

— Sente aqui — ele bate na telha ao seu lado. Sem protestar, faço o que ele pede. — Olha só como o céu está lindo, cheio de estrelas...

Eu o observo, mas logo desvio minha atenção para o céu. Ele tem razão, está realmente maravilhoso, sem nuvens sorrateiras, apenas pequenos pontos de luz espalhados.

— Não foi sua culpa o que seu amigo fez — Gabriel diz, olhando para o céu. — Eu não sabia que me conhecer poderia afetar os sentimentos amorosos dele por você.

— O Renan? — pergunto, fingindo surpresa. — Não, o Renan não tem sentimentos por mim...

Olho para o vampiro à minha frente. Ele me encara com um olhar de tédio, como se dissesse: "Você mente, mas não para mim." Me calo, pois ele está certo. Renan nem sempre foi assim comigo.

O silêncio se prolonga mais do que eu gostaria. Algo dentro de mim se sente desconfortável com esse abismo silencioso entre nós, enquanto os sons dos pequenos animais ao redor preenchem o ar.

— Renan nem sempre gostou de mim, ele nem sempre foi assim — digo, encarando Gabriel. Seus olhos brilham, esperando o que vem a seguir.

— Estou ouvindo — responde Gabriel, com uma suavidade reconfortante.

— Conheço o Renan desde que me entendo por gente. Somos amigos de infância e passamos por muita coisa juntos — começo, percebendo que ele está realmente prestando atenção. — Sempre estávamos rindo, procurando confusões, mas tudo mudou no ensino médio. Foi quando comecei a perceber que não me interessava só por garotas. — Dou um sorriso pequeno, e Gabriel me acompanha com um leve movimento de lábios. — Quando Renan descobriu, ficou enojado. Disse que era estranho, que meninos deviam ficar com meninas, e o contrário também. A partir daí, comecei a sofrer muito bullying, grande parte vindo dele. Me afastei por um tempo e me tornei alvo dos "valentões". Mas acabei conhecendo outras pessoas, que me aceitaram, e formamos o grupo que temos hoje.

Meu encosto é um vampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora