Sexta feira/ 14:34 pm
(Uma semana depois.)
Pandora corria de um lado para o outro, enquanto eu mexia sua bolinha de lã de um lado para o outro com as minhas mãos.Estou na casa do Gabriel. Já estou começando a achar que isso se tornou um hábito. A nossa comunicação está mais leve e fluida. Final de semana passado saí com o pessoal, que me bombardeou com várias perguntas, e eu tentei ao máximo me esquivar de todas que eu conseguisse. Renan mencionou sua observação da "coruja branca", mas ficou chateado que quando ele iria tirar uma foto mais ampla dela, ela alçou voo.
"Coitado" foi o que minha voz mental proferiu em minha cachola.
Estou deitado no chão, quando deixo de fazer Pandora de boba e a deixo atacar a bolinha. Com seu jeito de filhote, ela a ataca, o que me arranca um riso. Pandora está começando a pegar peso. Estava muito magrinha para a idade dela, está esperta. Gabriel me disse que ele brinca muito com ela e, se ele a deixar sozinha por segundos, ela deixa o cômodo onde está de cabeça para baixo. Isso também me arrancou risos.
Ele está sentado em uma das janelas da sala, cabeça baixa, enquanto dedilha seu violão. O som está desregulado, mas logo se torna uniforme e harmônico. Sinto uma calmaria com o dedilhar do por enquanto humano/vampiro ali.
— Não sabia que tinha um violão — digo, apoiando minha cabeça em uma das minhas mãos, enquanto permaneço de barriga para baixo, deitado — e muito menos sabia tocar.
Ele me olha, seu olhar temporário em tons de preto recai sobre mim. Seu sorriso se alarga em seus lábios. Me desaponto por ver poucas presas. Acostumei-me a vê-las; é estranho não as ver tanto.
— Há umas décadas aí, eu aprendi com um conhecido — ele ri baixo e retorna a dedilhar o violão novamente.
Fecho os olhos e deixo o dedilhar fluir em meus ouvidos. Deixo-me deitar de costas no chão. Demora um pouco e sinto um peso em meu peito. Abro levemente meus olhos e vejo Pandora subir ali e começar a cheirar antes de se aconchegar e deitar.
A música ainda flui em meus ouvidos, o dedilhar é bom, as cordas envolvendo o som. O suave trocar do "mi" ao "si". A suavidade em que a sinfonia desprende do objeto e soa ecoando na sala, harmonizando com a tarde simples e fresca de hoje.
O dedilhar me traz uma sensação de lar, de carinho e amor. É suave e acalentador, com uma pouca pitada de nostalgia.
Porém, mesmo assim, mesmo com uma semana, a sensação de que alguém me observa de longe não passa. E sei que não é Gabriel. Não sei explicar, mas o olhar do vampirão possui uma energia diferente.
— Achou o que procura? — o vejo sorrir, seus dentes se mostrando um pouco, mas consigo ver suas presas retornando ao que era. Estão pequenas, mas é nítido as presas vampíricas ali.
Repentinamente dou-me conta do que Gabriel disse e percebo que estou olhando para ele sem ao menos piscar. Notando isso, ergo-me rapidamente do chão, segurando Pandora. Deixo-me sentar, encostando minhas costas no sofá. Algo ao meio do meu peito errando as batidas. Obviamente sei o que é: meu coração que, infelizmente, faz o fluxo do meu rosto aparecer.
— N-não procuro nada, e você é con-convencido! — ele ri ao final de minha fala.
"Maldito morcegão!" Exclama o Lucas hamster com sua voz fininha em sua rodinha, em minha mente.
— Acho que já posso tomar isso como meu — ele diz se aproximando, andando já que seus poderes estão retornando aos poucos. Ele se joga no sofá atrás de mim.
— T-tomar? — deixo meu rosto virar levemente ao lado, na tentativa falida de o ver.
— Tomar seu rubor — ele ri. — Toma-lo pra mim. Você se desconcerta com facilidade, logo se torna um hábito te desconcertar — o ouço rir baixo. O conhecendo pouco, mas já sei que deve estar sorrindo largo, com seu sorriso estreitando seus olhos.
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Meu encosto é um vampiro
VampireLucas Martins é um jovem de 20 anos que não é muito de se envolver em farras e bebedeiras. Porém, seu grupo agitado de amigos o convence a ir para uma noitada em uma velha cabana no meio da montanha, na cidade do interior do nordeste onde moravam. A...