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– Luke


    Finalmente começava a sentir-me parte de algo. Como se a minha existência importasse para alguém. Wendy tinha a intenção de me ensinar o simples facto de que não precisamos de nos sentir necessitados para nos sermos felizes. De certa forma, ela tinha razão. Porém, eu não me via capaz de viver uma vida sozinho. Depois de tantos anos envolvido em extrema solidão, acabei por ficar o contrário de feliz.

    Viajávamos no seu carro há mais de uma hora pelo menos. A morena rapariga pretendia mostrar-me um sítio onde tinha ido há alguns meses. De dois em dois minutos repetia a frase "vais adorar aquilo" enquanto sorria largamente. E se Wendy dizia que eu ia adorar aquilo, então, com certeza eu iria.

    Pensamentos menos alegres não me tinham passado pela cabeça ultimamente. Talvez fosse porque andava distraído, com coisas para fazer ao invés de ficar em casa o dia todo enquanto a melancolia me possuía. Não podia dizer que me sentia melhor comigo mesmo, mas se continuasse neste caminho, isso provavelmente ia acontecer, -- o que era como um milagre para mim.

    Era impressionante acreditar que tinha chegado àquele ponto. E parte de mim tinha medo que pudesse acontecer de novo.


*


    "Ora bem, já chegámos" - a sua voz soou, misturada com o leve som que o vento fazia ao embater nos nossos rostos. Estacionou o carro num sítio aleatório e saiu do mesmo num abrir e fechar de olhos, pedindo-me para fazer o mesmo. Wendy era muito energética, por vezes.

    "Onde, mesmo?" - perguntei, depois de pisar por completo a relva húmida por baixo de mim. Observei o local onde estávamos, deparando-me pura e simplesmente com a Natureza.

    "Ao paraíso, tolo" - Wendy deu-me uma leve palmada nas costas, começando depois a andar em frente. Eu limitei-me a segui-la, -- como sempre.

    "Acho que levas o teu nome demasiado a sério" - suspirei, sabendo que ela perceberia a referência ao filme Peter Pan.

    "Rude" - soltou pequenas gargalhadas, mostrando-me o seu sorriso lindo e cheio de alegria. (Nem eu acreditava que poderia ser capaz de apreciar algo.)

    "Já te dei duas razões, certo?" - parou por completo em frente a uma cascata que corria água quase transparente. Inclinou a cabeça para o lado, e com dois passos em frente coloquei-me ao seu lado.

    "Sim, mas não precisas de continuar a fazê-lo, Wendy" - proferi, sem tirar o meu olhar da pequena mas bela água que corria pelo lago.

    "Preciso sim. Eu prometi a mim mesma que o faria" - saiu do seu estado pacífico, voltando a fitar-me - "Quero fazê-lo" - disse, firmemente. Um sorriso pequeno delineou-se nos meus lábios, e apenas assenti. Era bom saber que alguém tinha esperança em mim.

    Ficámos num confortável silêncio durante uns curtos minutos, a ouvir os sons que a Natureza emitia a cada segundo, até que Wendy decidiu beliscar o meu ombro, voltando ao seu estado de espírito normal.

    "Então?" - apenas perguntei, sabendo que ela tinha tido uma ideia.

    "Música" - afirmou, sorridente - "Gostas de música?"

    "Muito" - cruzei os braços - "Costumava até ter uma guitarra onde praticava imenso, mas desisti disso"

    "Música é uma boa razão para viver, não achas, Luke?" - Wendy pousou o queixo nas costas da sua mão, enquanto me observava com um olhar suspeito.

    "Concordo plenamente" - não pude evitar soltar uma gargalhada espontânea.

    "Aqui tens a tua terceira razão" - colocou a sua pequenina mão sobre o meu ombro, orgulhosa pelo que tinha dito.

    Wendy assustava-me imenso, mas também acalmava a minha mente. Talvez fosse isso que procurava e precisava, -- uma contradição que, afinal, até era equilibrada.







Faible ➤ Luke Hemmings [Short Story]Onde histórias criam vida. Descubra agora