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                                                          –  Luke


           Nesta geração estamos hipnotizados e viciados em objectos que, muito provavelmente, não nos irão trazer nada para a vida. Perdemos horas do nosso tempo a teclar no computador, a digitar no telemóvel, a trocar mensagens com alguém próximo, ou não, de nós. A nossa vida é a tecnologia. Porém, podemos fazer algo contra isso. Não vou mentir... Sempre me deu algum jeito usar o telemóvel ou o computador como meio de informação, mas, às vezes, penso que todos exageramos. Existe mais para além destes objectos. Existe um mundo lá fora, cheio de coisas más... (e boas, talvez). Vou ser honesto, existem imensas coisas e pessoas más, mas nem tudo deve estar perdido. (Bem... Para mim, está...)

           Não sabia se devia logo ter saltado daquele penhasco, mas a verdade é que a rapariga perante mim me tinha impedido. Seria isto uma amostra do destino? Esperava bem que não.

           A rapariga, cujo nome era a única coisa que eu sabia dela, estava sentada ao meu lado. Os seus cabelos lisos e acastanhados longos, – não muito, – caíam sobre os seus ombros direitos. Não vou mentir, os olhos que lhe pertenciam eram castanhos, mas tinham uma beleza única. Eu sempre tive uma queda por olhos castanhos, de qualquer das formas. Todos os achavam normais, completamente banais, mas, eu, pelo contrário, via algo nessa cor. Nesta rapariga, via pureza.

           "Então... Wendy" – comecei por falar – "Costumas trazer estranhos a tua casa regularmente? Eu podia ser um violador..." – encolhi os ombros, focando o meu olhar nela, que, automaticamente, ficou tensa.

           "Bem... Agora sei mesmo que não o és..." – riu-se baixinho – "Se fosses um violador já te tinhas aproximado" – olhou para baixo, não tendo a certeza do que estava a dizer. Aproximei-me imediatamente dela. Encostei os nossos joelhos e pousei a minha mão na sua perna, delicadamente. Queria testá-la. Queria desesperadamente sentir algo, alguma emoção. O meu rosto ficou a milímetros do dela. Não me movi, a partir daí. Wendy ficou sossegada. Encarei os seus olhos enquanto ela fitava os meus, ambos tentando ler o que estes aparentavam transmitir. Nenhum de nós disse uma única palavra.

           "Como me irás dar razões para viver, se não me conheces?" – murmurei, sabendo que ela provavelmente não me ia ouvir.

           "Podemos sempre resolver isso, Luke" – sorriu tristemente – "Quando foi a última vez que te sentiste genuinamente feliz?" – não esperava esta questão. Continuei na posição onde me encontrava, mas tentei rebobinar a minha vida toda até um momento...

           "Dois anos" – respondi, sinceramente – "Nos meus dezasseis anos fui feliz, penso eu. Sempre que saía da escola, ia até casa e metia-me sobre o telhado. Era um hábito meu. Levava o meu telemóvel comigo e ouvia música" – sorri à lembrança da memória – "E, depois, via o pôr-do-sol. E isso fascinava-me. A forma como a cor do céu mudava tão rapidamente e o sol desaparecia. Sentia-me feliz nesse momento. Essa era a única parte do dia em que me sentia verdadeiramente feliz" – senti-me confuso de súbito com este meu discurso. Coloquei uma expressão indescritível no rosto e Wendy esboçou um sorriso.

           Olhou para a janela e a minha confusão aumentou ainda mais. Engoli em seco. Tinha acabado de contar algo ligeiramente importante a uma estranha, mas não me sentia minimamente arrependido com isso. As conexões ainda existiam?

           "Vem comigo" – a rapariga morena disse. Pegou na minha mão, e, por mais cliché que isto soasse, senti um ligeiro calor a pairar entre as nossas mãos. E eu não fui o único a senti-lo. Quem diria que o Nicholas Sparks tinha razão?

           "Para onde?" – a minha curiosidade fez-me perguntar. Wendy não me respondeu. Fez-me subir para o seu sotão por umas escadas velhas de madeira e eu limitei-me a segui-la. E, por fim, sentámo-nos sobre o parapeito de uma janela grande, que conseguia suportar ambos. Levantei uma sobrancelha e a rapariga ao meu lado fez-me um sinal para eu me manter calado, agarrando a minha mão. De novo. Aquela sensação esquisita... Demasiado cedo.

           Olhei em frente e um som de admiração escapou dos meus lábios quando dei por mim a sentir uma sensação que não tinha sentido há anos. Felicidade.

           À minha frente encontrava-se o céu, antes meio nublado, e agora de tons rosados e alaranjados. O sol estava a pôr-se. Senti uma leve apertadela na mão e um pequeno sorriso curvou-se nos meus lábios assim que ouvi a doce voz de Wendy.

           "Aqui tens a razão número um"

Faible ➤ Luke Hemmings [Short Story]Onde histórias criam vida. Descubra agora