06. Continuar dançando

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AGORA

Dirijo meu carro até a rua da casa de Eduarda. Quando estaciono, vejo que ali há apenas o carro de Simone e da sua irmã na garagem. Fico aliviada por sermos as únicas aqui. 

Eduarda e o marido tiveram seu primeiro filho ontem a noite. Um parto muito esperado por todos da família Tebet, incluindo a mim. É o primeiro neto da senhora Fairte e do senhor Ramez Tebet. 

Eduarda é a única irmã de Simone. Casou-se com André dois anos após o meu casamento com Simone. Ela cursou relações internacionais e por esse motivo está quase sempre viajando, assim como Karine. No último ano decidiu, juntamente do marido, que iria dar uma aliviada na carga de trabalho e se dedicar um pouco a família. 

Diferentemente de mim, Eduarda conseguiu engravidar rapidamente e já está com seu bebê nos braços. 

Durante a gravidez, Simone e eu fomos as tias mais presentes possíveis. Nunca vi minha esposa tão entusiasmada com algo. A cada ida ao shopping, ela chegava em casa com várias sacolas da loja de itens infantis. Mandou personalizar várias camisetas e macacões com as frases clichês de "sou o príncipe da minha tia" ou "não me paquere porque tenho uma tia ciumenta que vai te pegar".

Eventualmente, nesses momentos me deixo sonhar um pouco e imagino como Simone seria uma boa mãe. Me pego sorrindo com o pensamento dela correndo pela casa, atrás de uma mine cópia sua. Mas tampouco deixo que a minha infertilidade macule a felicidade da sua família com o nascimento do pequeno Arthur. 

Visto o meu maior sorriso e garanto a mim mesma que não vou deixar a tristeza manifestar-se em nenhum momento. Arrumo o batom no retrovisor e ensaio, como sempre, o sorriso que devo mostrar a todos. 

Na festa
No bar
Na lapa
Na praia

É sempre o mesmo sorriso ensaiado

Quando chego à porta da frente, fico no impasse de tocar a campainha ou simplesmente entrar. Noto que por detrás da porta há um grande silêncio. Imagino que Eduarda ou Arthur devem de estar dormindo e me sentiria péssima se eu fosse a causa de um sono interrompido. Decido então por empurrar a porta lentamente e silenciosamente. 

Na sala de estar não encontro ninguém, apesar de encontrar diversos embrulhos com papel de presente variando de ursinhos a pirulitos coloridos. Vou até a pilha de presentes e deixo outra roupinha que eu e Simone compramos juntas.

Me dirijo até a cozinha e novamente encontro o cômodo em completo silêncio. O único lugar que me faltava olhar era o reino do bebê Arthur, forma carinhosa que a minha esposa incrível teve de apelidar o quarto com decoração de castelos e príncipe.

Estou quase lá, mas paro no meio do caminho quando vejo pela porta entreaberta Simone. Ela está com o sobrinho no colo, olhando para o rostinho do bebê com um semblante de mais pura adoração. A ponta de seu nariz está vermelhinha de emoção. 

Se nossa situação fosse diferente, esse seria o momento que eu iria me aproximar e admirar o quanto minha esposa é bela, exercendo o ato mais puro de ninar o sobrinho. Entretanto, o que sinto é uma dor que comprime meu peito por dentro.

Já vi furacões fortes. Tempestades duradouras. Mas nada disso me consumiu como esse momento.

Me questiono o que ela deve estar sentindo e se está pensando que dificilmente será nós. 

Será que lá no fundo Simone se ressente por eu não ser uma mulher completa pra ela?

Ah Soraya, mas por que Simone não gera o bebê?

Simone teve complicações na adolescência e foi preciso realizar a retirada do útero. Quando nos casamos, nossos planos sempre foram de que eu iria ser a casinha do nosso filho.

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⏰ Última atualização: May 12 ⏰

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Com amor, Simone.Onde histórias criam vida. Descubra agora