(5) ....o teu humor;

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O Cyno é extremamente irritante com aquelas malditas piadas.

Eu não o aguentava quando ele ainda estudava na mesma faculdade — graças aos arcontes, ele mudou de curso.

O pior foi que o loirinho maldito amava as piadas do outro e aprendeu com ele a ter o pior humor de todos. Bem, achava eu que era o pior humor de todos…

Quando eu conheci o Kaveh, ele era muito sério, talvez porque eu próprio não demonstrasse muita receptividade e confiança (eu quando digo que sou sério, não brinco, talvez o Kaveh tivesse razão para me chamar "sem sentimentos" ). Com o tempo, ele foi se soltando e o seu lado comediante também, em conjuntura com o lado nada humorístico do Cyno — Cyno, eu ainda te devo um soco pela piada da água ser presa.

O humor do Kaveh era camuflado com os seus traços de personalidade e ao início, ele dizia algumas que eu não entendia, e ficava idiota olhando para ele.

Culpa do Cyno, atenção.

O loirinho sentia-se mal, no início, especialmente por causa disso, porque eu não me ria e chegou a parar por um tempo de as fazer — na época isso gerou-me desconforto e fui obrigado a pedir-lhe para continuar, já que eu estava a gostar.

A reação dele?

Ele insultou-me em quinze línguas diferentes sendo que não sabia mais do que duas. E eu ri na sua tentativa de insultos…

Ah, não, agora eu não estava a ser irónico, eu estou a sério.

Ele foi ao tradutor, colocou uma lista de insultos, e foi traduzindo e repetindo conforme a voz robótica do tradutor dizia.

Eu, Alhaitham, um homem sério, que não brinca em serviço, estava a chorar de rir naquele momento, com o sotaque todo torto do loiro e com a sua expressão de dúvida sobre os sons. Ele até me mandou calar para ouvir melhor, sendo que já tinha o telemóvel colado ao ouvido!

O que eu fiz?

Ri mais.

Eu gargalhei tanto até me faltar o ar e, muito honestamente, eu acho que eu nunca ri tanto na minha vida.

Ele ficou sério, sempre, até conseguir dizer os insultos nas diferentes línguas e no fim ele olhou para mim, analisou o meu estado (que presumo que tenha sido caótico, aposto que eu estava como um tomate e o rosto molhado pelas lágrimas não ajudava) e gargalhou junto de mim, vindo me abraçar depois e… Bem, já sabem a parte de ele ser uma gato carente, não é?

Essa questão das línguas, na minha opinião, são a parte mais cómica do Kaveh.

Quando a gente estava no começo do namoro, ele procurava usar os termos carinhosos para se dirigir a mim… Isto era engraçado, mas um engraçado de fofo, sabem?

Ele tinha dificuldade com a colocação dos adjetivos e dos pronomes e isso ficava fofo, porque ele não sabia e ficava irritadinho quando eu o criticava. O vermelhinho de raiva nas suas orelhas e no seu rosto era adorável, eu ficava tentado a perder a minha postura.

E os projetos da faculdade que ele tinha que apresentar em outras línguas? Eu é que ficava encarregado de o ajudar, porque o loiro é bonito e talentoso em mil artes, mas tem dificuldade nas línguas e tudo bem! (já que eu nem sei a diferença das mil tintas que o loiro tem e os materiais… É, eu sou melhor na lógica.) Ele tentando repetir com a pronúncia certinha era lindo e cómico.

Ele era esforçado e empenhado, mas não deixava de ser adorável. Melhor ainda que isto! O dia de São Valentim…

No dia de São Valentim, eu dediquei-lhe uma obra, originalmente escrita por mim, e ele deu-me a coisa mais inacreditável possível.

Ele fez questão de nos pintar.

Numa viagem que fizemos até Inazuma, tínhamos tirado aquela foto e ele fez no seu estilo artístico.

Eu fiquei sem palavras quando vi aquilo, pois… Eu nunca vi aquela tela lá em casa, nunca pensaria que ele fazia tal coisa (PS. é um dos quadros que eu entorto na esperança de ele aparecer e reclamar). A verdade é que, quando ele me entregou tamanha beldade, ele disse-me “Toma seu presente do Dia dos Valentinos”...

Não, é sério, ele usou essas mesmas palavras.

E eu? Coitado de mim, eu fiquei roxo de tanto rir, eu aposto.

Ele sabia perfeitamente que eu iria rir daquilo, porque são esses pequenos detalhes que ele sabe me tirar a postura. Ele chegou a deixar o quadro de lado, vir até mim e abanar ar para eu respirar. Ele também começou a rir e ficamos os dois naquilo. Na tentativa de eu tentar agradecê-lo com um beijo, já depois de nós termos recuperado, eu comecei a rir de novo e ficamos nesse loop infinito.

Quando nos estávamos a aproximar e ele estava a passar por problemas familiares (foi na época que decidimos viver juntos), eu lembro-me de querer lhe transmitir toda a segurança possível naquele momento difícil e até lhe disse que ele não tinha que ter medo de vir para minha casa, ele tinha essa liberdade de se abrir comigo e ainda de escolher se queria vir comigo ou não.

Ele chamou-me de Estátua da Liberdade — quase lhe dei um soco, mas o moço estava fragilizado, tive cuidado nesse aspecto.

O verdadeiro humor dele está nas pequenas piadas do dia a dia e, apesar de no início elas não terem piada nenhuma, com o tempo eu aprendi a amar o humor dele.

Quem raios iria rir de Valentinos?

Eu. Nós dois.

E sinto falta disso… Aposto que se ele, neste momento, com todas as saudades que tenho dele, me contasse a piada da água ser presa, eu iria rir — ao contrário do Cyno.

Eu preciso do humor dele, sinto-me a ficar triste, merda.

10 razões porque te odeio || HaikavehOnde histórias criam vida. Descubra agora