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if you ever leave me, baby
leave some morphine at my door.
— It Will Rain, Bruno Mars

A sensação se igualava à sair da montanha russa após passar por uns três loopings numa velocidade absurda, com a adrenalina no talo. Suas pernas estão bambas, seu coração tropeça em si próprio, sua garganta está seca e há dezenas de cacos de vidros no seu pulmão quando respira. Mas existe um sentimento repentino de vazio; instantes antes, você estava no topo do mundo, gritando, com todos os seus sentidos aguçados ao limite, e então você voltou ao chão, se sente tonto, e aquele sentimento enlouquecedor que te preenche tão perfeitamente que nem consegue pensar em nada mais, vai embora.

Tudo ao redor estava inerte e cinza.

Eu me levantei, sentado na ponta da cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e segurando minha cabeça entre as mãos. Buzinas e sons distintos e falas desconexas soavam do outro lado da janela, na rua; sinal de que tudo tinha voltado ao seu lugar. Com exceção de mim, que acordava agora, como se eu tivesse o privilégio de poder acordar tarde, e desejava voltar para cama.

Louis tinha partido, e eu nem o vi sair. Peguei o meu relógio de pulso em cima da mesinha de cabeceira e chequei as horas. Era quase meio dia, e eu só levantava agora. Louis estava indo almoçar, e eu nem tinha fome pro café da manhã.

Esfreguei os olhos, tentando achar alguma parte de mim que estava muito motivada a levantar da cama e me agarrar a ela. Eu precisava levantar, finalmente sair... Ah, sim, hoje eu poderia sair e andar por aí. Então eu sairia, precisava sair... E procurar um emprego. Tinha algumas horas até minha primeira aula começar, até lá eu teria que arrumar algo para fazer que não fosse socar minha cabeça contra a parede.

Peguei meu celular, desligando o despertador que tocava mais tarde que o normal. Haviam poucas notificações, agora que eu não trabalhava e ninguém precisava de mim, uma mensagem da minha mãe e um post compartilhado de minha irmã. Eu lancei o celular nos lençóis da minha cama e me levantei. Abri a janela, deixando a brisa fria entrar, vendo a rua movimentada e um vislumbre dos carros passando na rodovia do outro lado. Me lembrei de quando eu e Louis olhamos a rua ontem, quando ela pareceu pertencer a nós somente.

Fui para o banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e penteei os cabelos, pensando em passar um café enquanto procurava meu maço de cigarro. Eu andei até a cozinha, passando pela geladeira e parando ao perceber algo: o maço de cigarro estava no topo, mas ele sumiu da minha visão quando meus olhos encontraram o pedaço de papel preso por um imã de submarino amarelo na porta.

Oi! Bom dia. Eu ia te acordar, mas não consegui, você fica muito lindo dormindo. Me liga quando acordar. A tempestade foi embora, mas a neve ainda tá por aí. Se agasalhe, por favor.
,
Louis.

Eu li o bilhete mais uma vez, e então li de novo, controlei o sorriso; Li de novo, e esqueci de conter o sorriso. Li mais uma vez, dessa vez já sabendo qual seria a próxima palavra, e fiquei com o papel na mão.

Encostei na bancada ao lado da geladeira, um sorriso bobo no rosto. Meu peito estava quente, assim como minhas bochechas. O quão fofo era imaginar Louis escrevendo um bilhete? Com um curativo no queixo, vestido em roupas formais e justas demais, com seu topete bem alinhado e seu biquinho de concentração. Eu ergui o papel para ler o "Se agasalhe, por favor" de novo, e senti meu coração errar uma batida. Ele fez meu estômago borbulhar mais do que o "você fica muito lindo dormindo".

Eu passei o café, segurando o papel em uma das mãos e o lendo mais uma vez de vez em quando. Me sentei no sofá com uma caneca quente e coloquei o papel na mesinha de centro, o encarando de longe embora a minha miopia não me permitisse ler. Liguei a Tv, mas só para fazer companhia, nem prestava atenção; repassava as palavras do bilhete na minha cabeça, me perdendo no jeito que Louis escreveu.

meet me in the hallway  * l.s *Onde histórias criam vida. Descubra agora