Ato III: Os Novos Rye Five

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(23 de setembro de 2009, Rye, Sussex, Reino Unido)

Lorenzo Bianco corria como se o diabo o perseguisse. Atrás dele, também dando tudo de si, corria o capitão do time de lacrosse, Ethan Cavannaugh. Ambos os dois tentavam escapar da chuva porém não deu tempo sequer de chamarem seus pais para buscá-los. O único prédio ainda iluminado era a biblioteca municipal, onde sem pensar duas vezes, os dois entraram correndo.

A biblioteca era gigantesca, com lustres pendendo do teto e com salas cheias de luzes e lâmpadas pequenas perto das mesas para ajudar na leitura noturna dos livros e alguns sofás espalhados para a ala de crianças. Ambos se posicionaram no tapete próximo das portas duplas enquanto esperavam para que a água de suas roupas escorresse para o chão.

— Você tem certeza que secretamente não é do time de lacrosse? — perguntou Ethan, recuperando o fôlego — Você definitivamente é mais atleta que eu correndo desse jeito.

Lorenzo torceu os cabelos e sacudiu o rosto.

— Se eu não parasse agora acho que meu coração iria parar — brincou.

Ethan enfiou as mãos nos bolsos e checou o celular.

— A previsão diz que a tempestade vai piorar... sem previsão de melhora em menos de três horas.

Lorenzo caminhou até a janela de vidro e espiou pelas persianas, abrindo um espacinho com os dedos. Suspirou e encarou o céu escuro e tempestuoso que derramava brutalmente uma chuva torrencial.

— Cara, vamos ficar aqui por um bom tempo.

Lorenzo tomou um assento em uma poltrona suja vermelha e Ethan se sentou no primeiro sofá marrom; seus olhos caíram em algo bem distante, coisa que o fez chamar ao amigo. O puxou violentamente pela camiseta, quase rasgando o tecido.

— Bro... se liga naquilo — apontou Ethan para um ponto que Lorenzo não percebia — eu tô vendo coisas?

Lorenzo quase caiu, mas se recompôs em seguida. Corou um pouco, soltando ruidos de protesto.

— Eu sei lá, cara, eu sou míope e você aponta pra uma prateleira a uns vinte metros de distância de mim, aí é foda — resmungou.

Ethan revirou os olhos.

— Não é isso, eu tô falando daquele cara na mesa do saguão principal — sussurrou — e fala baixo.

Lorenzo revirou os olhos.

— E por quê?! — rosnou.

— Aquele é o garoto do funeral — constatou Ethan. Seu rosto era pálido e seu tom era inquisitivo, como alguém que vê um fantasma — o que estava na frente do irmão de Ryan quando ajudou a levar o caixão pra sepultura.

Depois de muito tentar focar a visão, Lorenzo finalmente o reconheceu: era um rapaz de estatura mediana, cabelos presos em um coque frouxamente atado, jeans desfiados com os joelhos completamente abertos e uma jaqueta de uma das mais perigosas gangues de Birmingham. Ele tinha as bochechas vermelhas e estava claramente chorando, mas fora interrompido por uma bibliotecária. Estavam longe demais para ouvir, mas com certeza ela mandou que ele retirasse sua jaqueta, porque ele silenciosamente assentiu e a embolou em seu colo. Assim que aquele desconhecido levantou o olhar do livro que lia, Ethan percebeu que ele estava chorando; secou suas lágrimas com o interior dos pulsos, tirou a jaqueta revelando uma visão úncia: uma camiseta desbotada de banda, uma extremamente puída e manchada. Até o buraco de traças feito perto da gola era o mesmo.

— A-aquela camisa — apontou Lorenzo — é a mesma...

— É a camisa do Ryan — gemeu Ethan — esse cara... Ele é muito, muito suspeito. É por isso que a gente vai lá.

O diário esquecido de Artemis Onde histórias criam vida. Descubra agora