DUO

5 1 0
                                    

- Mãe? - Vigílio arregalou os olhos assim que a viu. A sua postura petulante foi derrubada no ato de entrada de Marínia.

Era a segunda vez que ele estava ali para falar com as autoridades competentes. Na primeira vez foi decidido a falar alguma coisa, mas ficou calado quando viu o vídeo porque estava lidando com algo maior. Combinou com Marília de voltar depois e dizer tudo o que sabia. Não voltaria. No entanto, então, lá esteve ele em outra cena de crime. Estava atolado em uma poça de merda e precisava tomar uma decisão urgente e em prol de si mesmo.

A senhora, muito vivida e esperta, sentiu as primeiras nuances de tristeza atingindo seu coração. O abafamento impossível de lidar. Mesmo assim, quis se convencer, em silêncio, de que tinham chamado seu filho ali para ser seu apoio. Porque era um dos poucos cenários existentes onde Vigílio seria inocente e mesmo assim estaria lá. A não ser que ele fosse a vítima.

- Por quê você está aqui? - Marínia disse com autoridade seca, apesar de seus olhos estarem marejando.

Ele abaixou o olhar, sem coragem de contar que era garoto de programa e dançarino erótico, sendo esse o motivo primordial de estar ali. A mãe pensava que ele levava uma vida de retidão moral, mas, por ambição, ele escolheu um caminho mais lucrativo. Estaria tudo bem se não fossem os demais segredos que vinham com ele. Vigílio só não entendeu o porquê de a vizinha estar lá também.

Cassandra puxou uma cadeira para a senhora sentar. O cachorro tinha ficado com um dos colegas de trabalho, que demonstrou grande prazer em cuidar de Perigoso. Eles amaram aquela presença VIP.

- Diga, meu filho. Por quê você está aqui? - Marínia perguntou outra vez com a voz estrangulada enquanto se sentava devagar.

Marília e Cassandra assistiram em silêncio enquanto ele confessava um de seus pecados.

- Desculpa, mãe... Eu não sabia como contar que eu sou... dançarino noturno e garoto de programa. Então, na festa de ontem...

Cassandra ergueu as sobrancelhas e trocou olhares com Marília. Já tinha até se esquecido daquele não tão pequeno detalhe. Rezou para que a pobre mulher suportasse tudo aquilo que estava por vir. Achava que ela lidaria bem com a profissão, mas teria um problema com a mentira do filho, pois a senhora fazia das tripas coração para ajudá-lo.

Havia decepção imediata no olhar dela. E a pior parte nem tinha chegado. Ela ficou em silêncio por algum tempo, encarando o jovem que tinha saído de seu ventre, apertando os lábios em uma linha fina e absorvendo aquilo que foi dito.

- Eu fiz de tudo para ajudar você, meu filho. Tudo o que eu tinha de melhor, eu te dei. Eu dediquei meu dinheiro e esforço, pensando que você estava sofrendo. Eu te poupei e você nem teve a decência de me ajudar em casa quando eu mais precisava. - Era nítido que ela se sentia traída e preterida. - Por quê você fez isso comigo?

- Eu estava acostumado a ter tudo isso... Não sei. - Ele deu de ombros e desviou o olhar. No fundo, em casa era o único lugar onde ele dominava.

Cassandra sentiu a fúria queimando em si quando viu aquela cena grotesca. Então interferiu.

- Eu sou a investigadora Cassandra e essa é a delegada Marília. Queremos esclarecer alguns fatos, se possível. Vocês podem manter silêncio se quiserem. E, se precisarem e quiserem, podem chamar advogados. Estamos em uma conversa amigável, caso queiram colaborar conosco. - Introduziu. - Claro, também vamos mostrar para a senhora o vídeo que temos da noite em que o Fubá foi assassinado.

Vigílio olhou para Cassandra, rapidamente, em pânico.

A mãe lançou sobre ele um olhar decepcionado e mordaz. Ela queria ir até o fim. Não poderia conviver com incertezas.

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora