Capítulo 1

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                           Austin POV

Se definir esse meu recesso em uma palavra fosse minha primeira atividade escolar ao voltar seria tédio, prostração e todo tipo de sinônimo cabível. Primeiramente, a escola nos deu uma trégua de caos que foi esse primeiro trimestre, recheado de trabalhos, em geral apresentações, avaliações e etc., e mais do que merecido, voltamos às aulas no mês de janeiro, um pouco das comemorações adequadas.
Na verdade, a diretoria bateu o martelo que seria em meado de dezembro ou antes, porém devido aos estudantes que viajaram ou que folgariam por conveniência, como outros funcionários também, nos foi dado essa regalia de um pouco mais de descanso para o nosso corpo mental.

Pouca coisa aproveitei se comparar aos outros adolescentes que foram passear, colocaram a matéria perdida em dia ou se reuniram com os amigos em qualquer rolê aleatório; ao invés disso, alimentei meu vício insaciável que não descansa as engrenagens se não investiga e desvenda algo novo. Como é do meu feitio, boa parte desse intervalo fiz descobertas do que amizades, pelo menos eu acumulava mais conhecimentos do que desilusões, por mais superficiais e triviais que elas fossem. A não ser aos fóruns que tenho acessado online que me conecta a outros perfis literalmente, diferentes do meu, porém unidos por interesses em comum. Enfim, uma rede onde rostos tímidos e opiniões expressivas até demais interagem por um propósito maior. Pelo menos, posso ter essa distração sem o compromisso de viver uma vida com essas pessoas ou que ambos precisem conhecer o íntimo do outro, apenas concordâncias e discordâncias que se alinham em parágrafos resumidos.

Afinal, relações interpessoais eram um pouco complexas, particularmente não sei a finalidade de se criar laços onde a curto prazo eles se afrouxam ou atam nossos pescoços como forcas, quando eram para nos aproximar ou nos firmar como bons parceiros. Meu círculo social prova isso, só passou meu tempo com duas pessoas na escola e outras que interajo em momentos pontuais, porque não é como se eu quisesse me abster de comunicação, e minha família que me atura sem muita saída. E não é como se eu fosse introvertido, tímido ou reservado, eu que propositalmente opto pela minha companhia e não me incomodo em ficar sozinho, nada como ouvir meu álbum favorito e ter meu momento de paz, de lealdade comigo, de cumplicidade própria.

Enfim, não acho que minha mente precise ser entendida, nem compreendida. É como se ela precisasse de um mapa, tamanha a complexidade, que me perco pensando sobre ela. Dentro dela. Mas eu evito, porque nesse passeio inofensivo, tudo se torna um grande capotamento e até que tudo se estabilize, eu já não estou mais ileso. É um looping sem volta que se alavanca e catapulta o pior dos piores gatilhos, e nesse caso, apenas nesse, a dor que traz relembrar e tentar entender não instiga nem um pouco o prazer do descobrimento, que tanto me impulsiona.

Pelo menos no âmbito social, talvez seja um problema de envolvimento. Para bastar, as pessoas que tenho comigo hoje não me fizeram ter a necessidade de me aventurar em busca de novas amizades e me pouparam da preguiça dos jogos de interesse, dos fingimentos, das farsas. Sem dúvidas, o que temos, o que cultivamos, é especial e único para mim, somos de verdade quando estamos juntos ou quando estou com um deles. Quanto aos outros, talvez minhas borboletas adormeceram, minhas faíscas não se atiçaram e meu olhar e sorriso não se excitam mais. Tem coisas que a juventude aviva e outras que modera e eu estou em um claro desequilíbrio desses, mas eu nem me importo, tampouco quero soluções para isso agora.

Na verdade, tenho um senso de simpatia e irreverência, singular e peculiar, que me deixam longe de der ranzinza e rabugento, confesso que meu humor não é o mais lidável, quem me conhece, sabe. É mais por uma questão de não cobrança. Um abandono conformativo, eu diria. Estou longe de me sentir amargurado por isso, curto seguir por aí e ouvir meus próprios pensamentos, sem a inconveniência de uma companhia tagarela, me atentar às paisagens inspiradoras e melhorar o entrosamento do meu eu comigo mesmo. Afinal, se me querem mais sociável, preciso me entender para entender o outro, sem isso, sou um tolo desconhecedor de sentimentos e da empatia. E se não gostarem, azar o deles.

No fim das contas, sou eu por eu mesmo: confiança traída, paz interna arruinada e a perturbação de todo o caos causado. Eu me reconstituo, me curo e cuido das minhas próprias ataduras, largadas por quem não soube cuidar e não devia ser assim, entupir minha sanidade de preocupações secundárias e simplesmente levar a vida como se meu coração não andasse a base de muletas. Eu ainda vou dar de cara com um momento em que uma ajuda profissional vai ser a exclusiva saída para resolver toda essa bagunça com uma grande faxina emocional. Me chama do que quiser mas sou inacessível o suficiente para me prender e me entreter ao que é meu, ao que sou e me convenço de ser incompatível quanto a posses, habilidades e aquisições quanto personalidade alheia. Eu acabo me destacando inevitavelmente e todos se tornam irrelevantes, secundários, figurantes e suplementares a minha própria história, quando me desafiam ou se sentem competidores ao meu páreo.

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