Capítulo 2 (1/3)

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Dia 31 de dezembro. Dentro de algumas horas, o ano finalmente se conclui e mal posso acreditar porém, apesar do clima festivo e a sensação mágica de como hoje não fosse ser como qualquer outro dia comum, não sinto vibrar essa animação ardente mas a impaciência para um novo ano é inegável. Isso porque a casa sempre lota em qualquer comemoração porque meus pais são os melhores mestres de cerimônia anfitriões quando se trata das festanças e hoje nada surpreendentemente, não será diferente pelo visto. Ok, a parte de lotar talvez seja uma hipérbole para algumas visitas mas que ainda incomodam como se fossem uma galera.

Recém acordado e ainda no meu quarto, o local onde eu passo boa porção do meu dia, no meu refúgio, no meu pequeno esconderijo, estou na cama recuperando meus sentidos depois de um sono profundo. Ver meu rosto no reflexo logo de manhã é minha prova de auto amor mas logo parto para meu ritual de higienes e vaidades pessoais, dou um jeito ligeiro na minha cama e saio do quarto com a roupa que acordei mesmo por ouvir o carro estacionando, chegando da rua agora mesmo. Me pergunto o que esse pessoal foi fazer na rua uma hora dessas mas me recordo preguiçosamente que hoje é domingo e que provavelmente foi por conta dos comércios fecharem mais cedo, nem chego a sala direito e meus pais e minha irmã entram com as mãos fartas de sacola, já me prontificando a ajudar. Posso perceber que algumas têm carne, cerveja e carvão, provavelmente referente ao churrasco de mais tarde e eles põem o resto sobre a mesa, começam a desensacolar e só agora parecem dar atenção a minha presença de fato.

- Ai! - a Glendollyn arremessa algo e acerta a minha testa, que cai no chão e pego visualizando a barra de chocolate.

- Pra não dizer que nunca lhe dei nada.

- O quê? Um galo na cabeça?!

- Devia agradecer. Comprei porque lembrei de você. Dá uma olhada aí na data. - olho confuso para a embalagem mas entendo o que ela quis dizer. Essa vaca comprou a barra que expira a validade justo no dia do meu aniversário.

- Seu plano era me dar uma barra de chocolate mofada de presente? Claro! Obrigado, Sra. Wonka.

- Não há de quê, Senhorito Loompa. - minha mãe pede que eu guarde as carnes no congelador e os outros que ela tinha posto perto da geladeira, e vou organizar tudo nas prateleiras porque ela sabe que se ela não pedisse, eu mesmo faria por sempre gostar de guardar as compras, por mínimas que fossem. Talvez eu me saísse bem como repositor de produtos em um supermercado, pelo menos eu deixaria essa vida lamentável de desempregado difícil de bancar.

Agachado diante do sopro gelado pelas portas abertas, sinto um roçar de pêlos contra os meus e um miado tão preguiçoso tanto quanto meu piscar de olhos.

- Scary, meu amor! Você também acordou. - não pego ela no colo mas faço um carinho em sua cabeça que já faz seus olhos fecharem e seu ronronar típico ser acionado, ela parece roncar também e atraída pelo cheiro da carne.

- Infelizmente, isso aqui não é para você mas tenho que pode te animar. - finalizo minha tarefa e renovo a ração no seu potinho, ela se convence de comer e bebe um pouco de sua água. Ela limpa seu bigode úmido enquanto acaricio seu queixinho, limpo o muco de seus olhos e observo como sua cicatriz no olho tem melhorado bastante. Inclusive, a origem de seu nome não tem nada de assustadora, apenas emotiva mesmo. Acontece que a Scary foi resgatada por mim da rua, ainda filhote, com esse ferimento que cruzava seu olho esquerdo, cujo parecia um ataque de garra, perdida e debilitada. A Scary é uma american shorthair, de pelugem que tendenciam do cinza para o preto, com o contraste de seus olhos claros, felinos e cativantes. Lembro daquele miado desesperado que me atraiu, talvez não era quem ela esperava que viesse mas a fui socorrer, não me contenho em atender a um chamado imediato de clemente que sou e sem recuar amedrontada ou agressiva, me permitiu que eu a tocasse com sua mansidão. Percebia sua ingenuidade, sua vulnerabilidade e desejo de uma nova vida, alguém que a acolhesse, a seguro com jeito e ela transmite confiança, a aproximo do meu peito e removo do seu pêlo os resquícios de mato, espinhos e tudo aquilo que ela pudesse carregar daquela solidão agora extinguida.

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