Primeiro mês

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Faz 1 mês desde que você foi pro Canadá. Não sei mais o que sentir, já senti tanto, tanto, Carol. Já chorei, já fiquei trancada em casa e já deixei de ir almoçar com as meninas na casa da Lara, só por saber que você não estaria lá. Já parei na porta do seu prédio e interfonei pro seu apartamento, mesmo sabendo que ninguém iria atender.
Desculpa. Desculpa por não ter ido na sua despedida, por não estar presente no aeroporto e nem nessa sua mudança. Mas a vida já foi e continua sendo tão dura comigo que preciso proteger o resto que sobrou de mim. Não que seja muita coisa, a vida não tem tanta graça sem você ao meu lado.
A Lígia me aconselha, me escuta e diz pra eu voltar pro nosso círculo de amigas, mesmo sem eu de fato voltar a responder as suas infinitas mensagens. Inclusive, obrigada por não ter desistido de mim, por ainda ficar, mesmo que tão longe. Mesmo que a mais de 9mil quilômetros.
Eu não sei por que escrevo se não vou te enviar, acho que é pra manter por perto, pra não responder as suas mensagens... é tudo tão vago, né?
As meninas tentam não falar sobre você, tentam me animar e me deixar a vontade nos poucos encontros que eu vou. Estou fotografando a Tais, ela tem me dado um pouco mais de força por morar lá em casa e ficar todos os dias comigo. Inventamos uma nova coleção de fotos, acho que ela nem precisava tanto. Na verdade, tenho certeza que ela só fez isso para me tirar de casa e me levar em parques e ensaios fotográficos.
O bom disso tudo é que ando conhecendo várias pessoas no meio artístico, várias modelos sem graça, fotógrafos maravilhosos e tenho recebido muitos feedbacks pelo meu trabalho.
A galeria tá mais cheia que o normal por conta disso, foi parar até num programa de televisão devido a uma equipe de artistas que vieram comprar uns quadros.
Ah antes que eu me esqueça, Bruno não voltou mais e acho que a terapia já me fez superar isso, tenho um problema a menos agora.
Acho que chega por hoje, não quero te contar as bombas que tão acontecendo sem poder entrar pelo seu apartamento da forma mais abrupta possível, fazendo você se assustar um pouquinho e me olhar com aquela carinha curiosa e linda.
Espero que esteja feliz com a sua decisão, Ana Carolina. Por que se me perguntarem, eu estou arrasada e com o coração quebrado até hoje.
Não vou me despedir, porque não vai chegar até você mesmo. E gostei, gostei de poder escrever coisas que eu realmente só diria a você. Afinal, de todas elas, você é a única que realmente me importa. E sei que não deveria falar isso, a Lígia já brigou comigo diversas vezes. E sou idiota de pensar isso, afinal elas estão aqui pra mim e você não. Acho que isso por si só já diz tudo.

Cartas para Ana CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora