Cartas para Ana Carolina

Quarto mês

Oi, Carol! Desde a última carta tenho perguntado um pouquinho mais de você pra Adriana. Realmente fiquei preocupada em você ter crises frequentes de ansiedade, sei bem como isso é ruim. Ela tem me dito que você conseguiu se sair bem e que começou na terapia. Agora somos duas maluquinhas, mas com responsabilidade.
Como tem sido seu projeto? As vezes sinto que eu falo tanto de mim nessas cartas que esqueço de perguntar o óbvio. MAS agora estou parecendo mais maluca que o normal!!!!! Vou parar com isso que até eu estou me intimidando comigo mesma?!
Por isso, voltando a falar de mim... as meninas estão com passagem comprada já, vão chegar em alguns dias pra minha exposição nova e eu to ansiosa, mas um tipo bom de ansiedade. Aquele que você sente que fez tudo certo, que pode trazer frutos incríveis futuramente.
Ah, tem uma artista da Alemanha que me mandou mensagem dizendo que gostou de umas fotos, que assim que vier ao Brasil vai fazer questão de vir visitar a exposição. Sério, to animada demais! Sinto como se agora eu fizesse algo bom, algo certo, sabe?
Bom, claro que você sabe, é apenas uma das maiores cientistas que esse mundo já viu. E não estou exagerando.
Tirando o trabalho, a minha viagem e tudo que eu já te falei na outra carta, não tem mais nada acontecendo. As modelos cismam que eu tenho que me apaixonar, porque é impossível uma pessoa com a sensibilidade que eu tenho pra arte não ser apaixonada. ALGUÉM AVISA??? Eu sou simplesmente a pessoa mais apaixonada nesse mundo! Ok que não é correspondido, ok não né, porque eu choro as vezes, mas tá tudo bem.
Meu humor oscila muito quanto a isso, mas na maior parte do tempo, está tudo bem. Só aquela mesma questão de sempre... ter ou não ter você na minha vida? Vale a dor de uma amizade longe e amor não correspondido do que apenas lidar com a falta que a pessoa faz? Muitos questionamentos que a Lígia me faz...
Ela até que tem razão em muitas coisas, mas no momento estou tentando entender e aprender a gostar do rumo que as coisas levaram. É bem difícil se eu for ser sincera, mas estou aprendendo.
Claro que eu tenho saudade, né? Só que é bem confuso quando se sente deixada de lado. As vezes só sinto que você escolheu seu trabalho ao invés de mim, ao invés da minha companhia. Só que se você não me ama, realmente não faz sentido você deixar uma oportunidade incrível de trabalho de lado pra ficar ali com uma AMIGA.

"Ser amigo é aceitar o outro do jeito que ele é e respeitá-lo em suas escolhas. Vai muito além de concordar com tudo o que o amigo faz. Um amigo te resgata de um dia mais vazio, te impulsiona para frente. Um amigo divide com você os momentos bons assim como os ruins, tanto os seus quanto os dele."

Isso é o que a maioria das pessoas falam sobre amizade e aí que entra todo o meu questionamento. Se eu não posso ser feliz com a sua decisão, se eu não posso respeitar a sua escolha sem ficar MUITO chateada, não posso ser sua amiga. Não quero te colocar pra baixo toda vez que a gente conversar.
Tem sido uma grande chance de eu poder me descobrir como Natália Cardoso, apenas eu. Me questionar, duvidar e entender, sem Bruno, sem Carol, sem ninguém. E eu tenho gostado dessa minha versão. Mesmo que oscilando entre sentir muito, sentir nada, quedas bruscas de felicidade, tem sido bom saber que sou só eu e mais ninguém.