Cartas

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Pov Carol

Minhas mãos suavam e não sabia o que fazer. Minha vontade era só ligar pra Natália e falar que eu a amava, que sentia o mesmo, que ela não estava sozinha com tudo que sentia, que eu só tinha sido covarde demais.
Olho para o celular em minhas mãos, passo para a próxima foto e era uma nova carta. O segundo mês, foi quando parei de ligar e mandar qualquer mensagem. Tinha sido duro pra mim também, mas não aguentava mais ligar e ouvir a caixa postal, doía em mim.

"Jamais vou me acostumar a não ter a sua presença e acho que você já não se importa mais em não me ter ao seu lado. Fica confuso, eu sei. Mas não recebo mais as suas mensagens e não vejo mais nada da sua vida. A segunda parte é minha culpa, mas a primeira... uma coisa pela qual jamais vou te perdoar."

Era claro que eu me importava, jamais deixei de me importar com querer falar com ela. As lágrimas que antes tinha cessado, agora caiam livremente pelo meu rosto, sentindo toda a dor das suas palavras. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria, sem nenhum problema, mas já tinha causado tudo aquilo e não tinha mais o que fazer, apenas lidar com as consequências dos meus atos.
Meu coração fica mais calmo quando leio o que escreve sobre as meninas, eu realmente tinha pedido pra elas tomarem conta, me avisarem e cuidarem por mim, mesmo sabendo que as cinco jamais deixariam a Natália de lado. Ela era tão parte do grupo como qualquer outra, não importa o que tinha acontecido no passado.
Eu fiquei feliz com cada conquista dela, vibrei, torci e mandei as melhores energias possíveis, até mesmo as flores... não deixaria passar um momento tão importante sem uma parte minha ali. Era tão bom poder ler e sentir a Natália do meu lado, se eu fechasse os olhos poderia até sentir o cheiro do seu perfume e ouvir a voz no meu ouvido.
Passo para a carta três e dou um sorriso, agora já existia uma mistura de sentimentos com alegria, ciúmes, tristeza, saudade... era uma mistura linda e triste ao mesmo tempo. Era tão bom ver o quanto ela cresceu e isso sob o seu próprio olhar. É até melhor do que quando você vê acontecendo ou só sabe pela boca dos outros. Agora eu estava ali vendo tudo pelo próprio jeito da Natália.

"Conheci uma modelo que é super legal, estou expandindo meu núcleo social e até que não foi tão ruim quanto eu pensei que seria. Tudo bem que não foi ótimo, mas a Lana tem um jeito meio maluquinho e divertido, bem parecida comigo até. De todas ela e a que eu mais convivo. "

CIÚMES. Era essa palavra que me definia no momento, mas tentei não me abalar e continuar só nas coisas boas. Espero que ela não tenha beijado e nem feito nada com essa desquerida.
Resolvo parar ali e pegar um copo de água na cozinha ou era capaz de ter um treco a qualquer momento, tinha até medo do que eu poderia ler mais pra frente.
Pego umas das canecas que infinitas vezes a Natália já tinha tomado quando estava em casa e volto pro sofá. Pego uma coberta que tinha ali e me cubro, ficando mais confortável. Volto a carta que estava lendo e logo me lembro, se estiver certa, foi em uma das minhas crises de ansiedade sem falar com a fotógrafa, a saudade bateu, a vontade de falar também e com isso veio a crise. Agradeço muito pela Adriana não ter comentado nada com ela e já salvo uma nota mental pra ligar e agradecer por isso.
Não tinha nem pelo o que desculpar a Natália, eu tinha ido embora e ela estava lidando da forma como conseguia. Não tinha desculpas e nem perdão a ser dado.
Respiro fundo e sigo pra próxima, quarto mês.

"As modelos cismam que eu tenho que me apaixonar, porque é impossível uma pessoa com a sensibilidade que eu tenho pra arte não ser apaixonada. ALGUÉM AVISA??? Eu sou simplesmente a pessoa mais apaixonada nesse mundo? Ok que não é correspondido, ok não né, porque eu choro as vezes, mas tá tudo bem."

Já posso matar uma modelo hoje? Não sei o que elas tanto tem com a Natália, sério. Ela é a mulher mais linda desse mundo, gostosa, com uns braços... uma mulher que dá tesão só de olhar. Sinto uma quentura passar pelo meu corpo e resolvo parar de pensar nisso, já era tortura tá longe e ainda ter que sentir tesão sem poder fazer nada com ela já era demais.
Continuo lendo e na hora que leio a palavra "amiga" sinto todo meu corpo borbulhar e um enjoo vindo, será que era isso que ela sentia quando eu afirmava isso? Se duvidar era ainda pior.
No meio de todos esses sentimentos, eu sentia um puta orgulho dela. Era uma mulher incrível, talentosa, maravilhosa, inteligente, linda, gostosa, agora sabia e sentia tudo isso. Natália Cardoso é uma mulher que acima de tudo merecia se sentir ela mesmo, ela por ela.
Passo para o quinto e último mês. Último mesmo, porque depois te tudo que eu venho passado e tudo que li, vou tentar voltar pra casa pra ONTEM. Pois não dá pra passar mais nenhum dia sentindo a falta do meu amor.

"Hoje depois de cinco longos meses, tenho que te agradecer. Estranho, eu sei. Só que eu sou estranha e você mais do que ninguém, sabe disso. Eu passei a minha vida inteira ligada as pessoas, tinha um sério problema em não me achar sozinha e finalmente consegui."
E por fim, eu posso me sentir grata? Por ela ter crescido como pessoa e estar na sua melhor versão? Por que eu me sentia. Eu era quebrada e a Natália também, não pode dar certo uma coisa assim, né? Hoje eu me entendo muito mais do que antes, tenho menos medo e mais certeza. Ela agora se sente bem sozinha, tem as amigas e pode ser a melhor Natália pra ela mesma. E se no final de tudo eu não tenha feito a pior coisa do mundo?

"Talvez algumas chamadas de vídeo? Não conheço sua casa e nem o seu trabalho, acho que valeria a experiência.
Por mais que você não saiba de tudo que aconteceu até agora por mim, espero um dia desses criar coragem e mandar uma mensagem. Sinto sua falta.
Um beijo,
Natália Cardoso."
Se ela não tinha certeza, eu agora tinha. Talvez não, pois eu estava prestes a fazer algo que sinto vontade a três meses e dessa vez espero ouvir o "Oi, Carol" que eu mais sinto falta. Salvo as fotos das cartas na minha galeria e finalmente ouço o áudio do Marcos.
"Eu achei essas cartas misturadas numas pastas de fotos da minha tia. Ela não ia te enviar, então acho que fiz bem em fazer isso. Não conta pra ela de início, mas liga. Ela sente sua falta mais do que todos nós e acho que você também. Para de ser cabeça dura e ouve seu coração um pouquinho. Deixa a razão só pra ciência e quando o assunto for a minha tia, usa a emoção. Já estamos em casa, ela tá no banho. Espera uns vinte minutinhos e pode ligar. Beijo, Carol."
Olho o relógio e já tinha se passado os vinte minutos. Encaro o quadro a minha frente, olho a estante que tinha ao lado cheia de livros e algumas fotos. Uma de todos nós na casa da Serra, uma minha e da Natália no casamento da Lara e do Mário e outra só minha. Respiro fundo e fecho os olhos, estava com medo. Medo de ligar e ela rejeitar a ligação. Contra todos os pensamentos negativos do meu cérebro, abro os contatos e vou direto na letra N. Aperto o número do contato e já estava chamando, sentia todo o meu corpo afundar no sofá e uma ansiedade bater no peito.
- Alô? - a voz calma e gostosa soa em meu ouvido e perco a fala, não sabia o que dizer - alô? Pode me responder, por favor? - ouço ela bufar do outro lado e uma risadinha escapa dos meus lábios, realmente não existia paciência nela.
- Oi... - falo com a voz baixa e ouço a respiração ficar mais pesada do outro lado. - agora você que não vai dizer nada?
- Eu...
- Sou eu Natália, a Carol.
- Eu sei. - a voz sumiu, mas ainda conseguia ouvir sua respiração.

*Chegou a parte mais esperada (por mim) da fic, a reação da Carol com todas as cartas e uma ligação dela com a Natália. O que será que vai acontecer nessa ligação, hein? O que estão achando?? Me contem!!

Cartas para Ana CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora