Tá tudo bem..

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"Por que estou bloqueada no seu telefone?", perguntava Cinthia. Eu me virei e continuei andando, fingindo que nem a vi. Cheguei em casa e mandei várias mensagens para Emma, mesmo sabendo que ela não responderia. Fiquei a noite toda chorando, ansioso, com saudade, um vazio enorme. Quando acordei, tinha uma ligação perdida de Susy. Pulei da cama e me arrumei correndo para ir à casa de Emma.

Quando cheguei lá, vi um carro de polícia e a policial estava na porta conversando com Susy. Meu coração disparou. Susy apontou para mim e a policial veio até mim: "Você é o namorado de Emma, certo?" Respondi: "Sim". Ela começou a me interrogar, fazendo perguntas como "Qual foi a última vez que você a viu?" e "O que vocês estavam fazendo antes dela sumir?". Contei à polícia tudo o que aconteceu. Ela sugeriu que, devido à situação anterior, Emma poderia estar chateada e talvez estivesse na casa de alguém. No entanto, tínhamos perguntado a várias pessoas que a conheciam, e nenhuma delas sabia onde ela estava. A polícia emitiu um mandado de busca para encontrar Emma.

Passaram semanas e nada. Até que um dia, enquanto eu estava na escola, a diretora me chamou para atender uma ligação. Era Susy, chorando muito, pedindo para eu ir ao lago da cidade. Não pensei duas vezes, peguei minhas coisas e fui. Chegando lá, vi vários carros de polícia e peritos criminais. Quando vi os peritos, soube o que havia acontecido. Eu a tinha perdido para sempre. Nas árvores ao lado do lago, estavam as coisas do nosso piquenique e o telefone de Emma, totalmente quebrado e resetado. Sua mãe, Susy, estava ao lado das coisas, chorando. Perguntei o que havia acontecido, e ela disse: "Ela se foi, Carter... se foi." Meu mundo desabou naquele momento, e minhas lágrimas inundaram meu rosto.

Vi um casaco molhado na mão de um policial. Era o casaco dela. Juntei os pontos: Emma se afogou. Susy culpava a si mesma: "Eu devia tê-la protegido. Ela estava cansada daquele monstro. Por que deixei aquilo acontecer?" O padrasto de Emma a abusava, e Susy tentava impedi-lo, mas ambas apanhavam. Tudo isso acontecia debaixo do meu nariz, e eu me sentia um monstro por não ter ficado ao lado dela. O pior é que não encontraram o corpo de Emma, o que achei estranho, mas estava tão devastado que não tinha forças para pensar. Acompanhei Susy até a delegacia para prender o monstro do padrasto de Emma. Ele já tinha uma ocorrência na polícia.

A polícia encerrou o caso como suicídio, mesmo sem encontrar o corpo. Susy quis fazer o velório mesmo assim: "O corpo dela não estará lá, mas seu espírito sim!" Eu estava mal, muito mal. A culpa era minha; ela não está aqui por minha culpa. O velório foi a pior parte, ver o caixão vazio, sem poder vê-la pela última vez.

Quanto a Cinthia, meses depois que Emma se foi, uma pessoa anônima criou um perfil falso no Facebook e revelou tudo sobre Cinthia e as coisas que ela fez, com provas. Ela teve a cara de pau de vir se justificar comigo, mas eu estava tão cansado e fraco psicologicamente que só fechei a porta na cara dela. Nunca mais a vi.

Os meses seguintes foram horríveis. Não conseguia ficar na escola sem lembrar dela. Não saía mais de casa, só ficava na cama, sem forças. Até que decidi ir ao psicólogo e fui diagnosticado com depressão. Comecei a tomar remédios, e embora me sentisse um pouco melhor, a dor ainda continuava.
Meu coração estava quebrado literalmente.

Passou algum tempo e eu terminei o ensino médio. Entrei na faculdade, e tudo parecia bem, mas a dor ainda persistia. Ela se foi, mas meu amor por ela não. Tudo me lembrava dela. Todo fim de semana, meus pais e eu íamos à casa de Susy para passar um dia com ela. Ao mesmo tempo que gostava desses momentos, eu os odiava, pois tudo lembrava Emma, até mesmo o cheiro. Eu não conseguia pensar em outra mulher além dela. Meus amigos tentavam de tudo para me fazer esquecê-la, mas eu não queria.

Concluí a faculdade de medicina e entrei no ramo de estética. Ganhei bastante dinheiro e abri minha própria clínica. Oito anos se passaram, e eu ainda lembrava dela. Conheci uma mulher chamada Vanessa. Ela era legal e conversava bem, mas eu ainda pensava em Emma. Precisava dar o primeiro passo, então pedi Vanessa em namoro. Depois de alguns meses, descobrimos que estávamos grávidos. Fiquei muito feliz, mesmo sendo cedo. Sempre quis ser pai, e isso também era um sonho de Emma. Casei-me com Vanessa, e nossa filha nasceu, o nome dela é Riley.

Hoje fazem 15 anos, e estou bem. Tenho uma casa, uma esposa e uma filha...

A psicóloga encara Carter e diz:

- Está bem mesmo, senhor Carter? - perguntou a psicóloga.

Carter balançou a cabeça positivamente.

- Bom, eu acho... - a psicóloga foi interrompida pelo alarme.


- Bem, nosso horário acabou. Até sexta.

Na verdade, não estou nada bem. Meu relacionamento com Vanessa esfriou tanto que às vezes até esqueço que ela é minha esposa. Recentemente, descobri que ela me traiu com um colega de trabalho, mas a perdoei para evitar mais problemas. Além disso, meus pais estão se divorciando. Enfim, fazer o quê?

Saí do consultório e fui para casa. Ao abrir a porta, percebi que não havia ninguém lá, exceto meu cachorro. Riley deve estar na escola, e Vanessa, no trabalho. Quando estou sozinho, gosto de desenhar. Tenho um caderno de desenhos onde alguns são sobre Riley, mas a maioria é sobre Emma.

O interfone toca, e era Vanessa e Riley.

- Querido, somos nós! - gritava Vanessa do lado de fora da casa.

Carter abriu o portão e recebeu um abraço de Riley, que logo correu para o quarto. Vanessa se aproximou para cumprimentá-lo com um selinho, mas Carter virou o rosto, transformando-o em um beijo na bochecha.

- Como foi na nova psicóloga? - pergunta Vanessa.

- Foi normal. - Respondeu Carter .

- Aposto que você falou o tempo todo sobre Emma. - Vanessa falou em tom irônico.


Carter fechou o semblante, mostrando que não gostou do jeito que ela falou.

- Não entendi. Qual o problema de falar sobre ela? - respondeu Carter em tom alterado.

- Ela morreu! Você precisa esquecer, já faz 15 anos, Carter! - disse Vanessa.


Carter engoliu em seco e saiu do cômodo em silêncio, voltando para seu escritório.

Passou-se algum tempo e já estava tarde. Na hora do jantar, Carter ainda estava em seu escritório quando Riley o chamou para jantar. Enquanto Carter se dirigia para baixo, ele avistou um caminhão de mudança pela janela, mas não deu muita importância e continuou descendo para a refeição.

Na manhã seguinte, ouviram-se batidas na porta. Carter desceu para atender, mas Vanessa já havia atendido. Quando Carter se aproximou para ver, não conseguiu enxergar muito bem. Era uma moça de pele escura e cabelos lisos, bem vestida.

- Aquele ali é meu marido. - disse Vanessa, apontando para Carter.

Quando Vanessa saiu da frente da moça, ele conseguiu vê-la completamente. Espera aí, Emma?

A garota inesquecível Onde histórias criam vida. Descubra agora