🪷06🪷

416 86 19
                                    

Xiao Zhan

Meu coração está disparado enquanto carrego Yibo para a clínica, Langjiao logo atrás de mim. Normalmente sou calmo ao lidar com acidentes e emergências, mas hoje não. Algo sobre Yibo puxa as cordas do meu coração. Observá-lo sucumbir ao pânico, ver a cor desaparecer de seu rosto... não consigo me lembrar da última vez que me senti tão impotente. Com o passar dos anos, passei a me destacar em me separar dos meus pacientes, mas algo em Yibo é diferente. Senti sua dor como se fosse minha.
Langjiao corre ao meu redor para abrir a porta do meu consultório, e carrego Yibo com cuidado. Ele está quieto em meus braços, sua respiração regular e suas bochechas com uma linda cor rosada. Ele parece bem agora, mas meu coração ainda está em desordem. Estou preocupado. Sei que ele não está realmente ferido. Seus ferimentos são superficiais, mas não aguento. Acho que foi o olhar dele, a devastação que o consumiu momentaneamente.
Ele ainda está tremendo um pouco quando o coloco na maca em meu consultório, com os pés pendurados para fora da borda. Ele olha para mim, nossos olhos se encontram. Aqueles olhos ... eu poderia me perder neles se ele me deixasse.
— Posso desinfetar as feridas dele, Dr. Xiao.
Pisco, desviando meu olhar de Yibo. Esqueci que Langjiao estava aqui, e o olhar em seu rosto me diz que ela sabe. O olhar silencioso de advertência que ela lança para mim me faz hesitar, mas balanço a cabeça contra um melhor julgamento.
— Está tudo bem — digo a ela. — Farei isso sozinho.
Ela acena com a cabeça e caminha até o armário em meu consultório, claramente insistindo em não me deixar sozinho com Yibo. Mordo meu lábio enquanto pego o frasco de vidro dela.
— Não precisarei de ajuda — falo, sabendo muito bem que estou cometendo um erro ao pedir para ficar a sós com Yibo. Há algo nele que não consigo resistir. Sou um cara racional, e o aviso do tio dele ainda soa alto e claro em meus ouvidos, mas não é o suficiente para me fazer resistir à tentação, para me fazer desistir de uma chance de ter um momento a sós com ele .
Langjiao olha em meus olhos, e forço um sorriso profissional educado em meu rosto. Ela olha para mim por um segundo, então balança a cabeça.
— Não achei que ela fosse sair — diz Yibo logo que a porta se fecha atrás de Langjiao. Ele parece divertido, mas há uma pontada em seu tom. Uma que me enche de curiosidade.
— Nem eu — murmuro enquanto abro o frasco de desinfetante.
— Ela é bonita — diz Yibo, o seu tom estranhamente agravado.
Sorrio e olho para ele.
— É?
Ele franze os lábios, uma pitada de impaciência nos olhos. — Você não acha?
Eu me ajoelho na frente dele e olho em seus olhos enquanto minha mão paira sobre seu joelho arranhado. — Não tão bonita quanto você — digo, logo antes de pressionar o pano úmido em sua pele, distraindo-o. Ele sibila, mas seus olhos nunca deixam os meus. Quase desejo não ter que me concentrar em suas feridas, porque não quero interromper esse momento entre nós, e deveria.
Ele sorri para mim, e sorrio enquanto limpo o resto de suas feridas. — É a segunda vez que coloco você de joelhos na minha frente.
Sorrio e arrasto minha atenção para longe de seus joelhos ensanguentados.
— É verdade. Você está transformando isso em um hábito, Sr. Wang?
— Yibo — ele me corrige. — Eu disse para você me chamar de Yibo... e se eu estiver?
Coloco minhas mãos em cada lado dele, meus olhos nos dele.
— Acho que estarei à sua mercê, caindo de joelhos à sua disposição.
Ele ri, e meu coração pula a porra de uma batida. Ele é lindo. A forma como suas covinhas aparecem, a forma como seus olhos se estreitam quando ri, sim... ele é o ômega mais lindo que já vi.
Tirar meu olhar dele é uma batalha, e é uma batalha perdida. Não consigo parar de sorrir enquanto coloco curativos em seus joelhos, meus olhos subindo a cada poucos segundos.
— Você flerta com todos os seus pacientes?
Sorrio sem desculpas.
— Só os que gozam nos meus dedos.
Seus lábios se abrem, e então ele começa a rir.
— Você, Dr. Xiao, é simplesmente o pior.
Sei que estou indo longe demais, mas não consigo resistir a ele. Não consigo resistir a esse sorriso. Quero provocá-lo, fazê-lo rir. Eu não deveria, no entanto. Ele é um paciente. Um estudante. Sobrinho de Wang Ziteng.
Eu me levanto, meu sorriso caindo. Yibo não é alguém com quem eu possa flertar. Nunca fui antiprofissional ou inapropriado com um paciente, nem mesmo quando eles estavam descaradamente a fim de mim. Por que é diferente com ele? Por que ele, quando é alguém com quem nunca poderei me envolver.
Eu forço meu sorriso educado de médico em meu rosto e dou um passo para trás.
— Você teve um ataque de pânico hoje, Yibo. Isso é algo que ocorre com frequência?
Ele desvia o olhar, o humor mudando instantaneamente.
— Não. Eu não tenho um há anos. Também me surpreendeu. Eu... houve um gatilho. Acabei de receber uma mensagem de texto de alguém de quem não ouvia falar há anos, e meus pensamentos começaram a girar. Não conseguia entender por que ele entraria em contato comigo agora e perdi o controle sobre minhas emoções.
Ele? Involuntariamente cerro os dentes. Quem a contatou deve ter causado dor suficiente para ele responder da maneira que fez hoje, e isso faz com que todos os meus instintos protetores entrem em ação.
— Posso encaminhá-lo a um psicólogo — digo, querendo ajudar da maneira que puder.
Yibo faz uma careta.
— Ainda estou vendo um — fala, com voz suave. Ele olha para mim, seus dedos roçando meu braço brevemente.
— Não é o que você pensa. Não há nada maluco ou excessivamente preocupante acontecendo, Dr. Xiao. A mensagem... era meu pai.
Relaxo involuntariamente. Nem percebi que estava tão tenso. Yibo desvia o olhar, seus braços envolvendo-se. O pai dele, hein? Deduzi das fofocas intermináveis de Langjiao que o pai de Yibo os deixou anos atrás, forçando seu mama a voltar para casa, para seu irmão Wang Ziteng depois que ele o deserdou, mas isso é tudo que sei.
— Não tenho notícias dele há anos e não consigo entender por que ele entraria em contato comigo agora. Comecei a pensar demais nas coisas e a me preocupar com meu mama. Sobre ter que dizer a ele que meu pai me contatou. Ele não responderá bem. Posso ter exagerado, mas meu mama facilmente me envergonharia.
Eu me aproximo dele involuntariamente e balanço a cabeça.
— Não achei que você exagerou, Yibo. Nem mesmo por um segundo. Há claramente dor aí, e você é apenas humano — murmuro, tirando o cabelo de seu rosto suavemente. — Deve ter sido avassalador e inesperado. Não consigo nem imaginar como você deve ter se sentido.
Ele acena com a cabeça, uma pitada de surpresa nos olhos. — Obrigado — sussurra. — Obrigado por estar lá, por me ajudar. Não sei se poderia ter saído daquela sensação sufocante se você não estivesse lá.
Balanço a cabeça.
— Você teria.
Yibo desvia o olhar, um olhar assombrado nos olhos. Meu coração aperta quando ele pega sua bolsa ao lado dele. Não quero que  vá.
— Tomei muito do seu tempo hoje, Dr. Xiao. Pagarei sua consulta, é claro, mas queria me desculpar.
Balanço a cabeça. — Não há necessidade. Eu arrastei você até aqui, afinal. Esta é por minha conta.
Ele se levanta e caminha até a porta, virando-se para olhar para mim com um olhar brincalhão nos olhos. Fico feliz que ele tenha conseguido se livrar da tristeza que a cercava momentos atrás, mas não posso deixar de sentir que tudo não passa de bravata. Eu sou excelente em colocar uma fachada. Ele não está me enganando.
— Tive você de joelhos duas vezes agora. Eu realmente deveria retribuir o favor em breve — diz ele, seus olhos caindo para minha calça, e então ele se afasta, deixando-me louco.
Esse ômega é um enigma e, a cada interação, ele se consolida ainda mais em meus pensamentos.
Balanço a cabeça enquanto caminho para minha mesa, meus olhos caindo para a foto dos meus pais. Eu daria o mundo para falar com eles mais uma vez. Sei que nem todos os pais são iguais e que Yibo deve ter seus motivos..., mas de onde estou, ter pais que querem fazer parte da sua vida é melhor do que não ter nenhum.
Levanto a moldura com as mãos trêmulas, meu coração doendo. Eu me lembraria deles sem as fotos? Todos os dias, a memória deles desaparece um pouco mais. A dor nunca diminui, mas começa a ficar mais difícil lembrar a sensação dos braços da minha mãe, o sorriso no rosto do meu pai.
Daria qualquer coisa para ter mais um momento com meu pai, e espero que Yibo não se arrependa de ter ficado longe do dele.

Doutor Xiao Onde histórias criam vida. Descubra agora