Entre Acasos Correspondentes

Capítulo 8- Se você não errou, você não irá se arrepender

   Arrependimento. Era tudo o que eu conseguia pensar no momento. Era tudo o que deveria estar sentindo, era o correto. Mas não tinha nenhum resquício de arrependimento ou remorso dentro de mim. Nada. Minha consciência só conseguia pesar para uma questão: Eu deveria ter me arrependido de ter beijado Viola e traído Francesca. Porém, para meu espanto eu não sentia nada além de desconforto. Aquele desconforto que sentimos quando não sabemos que caminho seguir. Eu estava sem rumo.

   Junto desse desconforto estava também o cansaço. Fazia um tempo que meu corpo tinha se adaptado a minha rotina de acordar cedo e dormir tarde, mas virar a madrugada e dormir por pouquíssimas horas não estava em meu cotidiano. O analgésico que tinha tomado parecia estar fazendo efeito, mas eu ainda precisava de tempo para repor as energias.

   Dezenas de mensagens não lidas no meu celular decoravam ao redor do meu papel de parede preto simples que já vinha instalado no celular, onde antes havia a foto de Francesca sorridente no nosso noivado. Marco me aconselhou a trocar para que o resto do grupo não visse e perguntasse. Meus amigos podiam ter defeitos e me acobertar em minhas mentiras era um deles. 

   Infelizmente nenhuma dessas mensagens eram de minha noiva, todas tinham sido enviadas por Artur, após eu lhe enviar: "Problemas. Qualquer coisa te aviso." enquanto estava no elevador. Isso foi definitivamente um erro, o qual motivou um leve desespero do meu então advogado, que tinha até se oferecido para vir ao Monte Carlo e resolver tudo. Sua insatisfação era visível enquanto teclava os xingamentos mais apelativos possíveis tentando me explicar de que não era responsabilidade da minha parte o atentá-lo e logo depois sumir. "Se ele soubesse o tanto que eu estou sendo irresponsável nessa viagem."

   O pensamento espontâneo fez com que eu soltasse uma breve risada nasal, que chamou a atenção de meus amigos. Adam me lançou um olhar repreensivo e acenou levemente para a morena ao lado da piscina, que conversava animadamente no seu celular. Era claro o que aquele olhar queria transparecer, mas preferi ignorar. Meu amigo acreditava que o motivo de minha risada era consequência de minha conversa com Francesca, mas para seu engano, minha noiva tinha decidido me ignorar pelo resto do final do semana, como fazia com todas as nossas brigas. Infantilidade era uma característica bem acentuada na garota, uma que meu pai gostava de apontar.

   Era meu aniversário de 25 anos e minha mãe decidiu que me daria um relógio Rolex novo, que eu já queria a um bom tempo. Francesca tinha me dado um perfume importado da França, com o valor um pouco inferior em relação ao Rolex, porém continuando exorbitantemente caro. Mesmo assim Fran se sentiu ofendida por eu ter colocado o presente maternal para poder ir para minha festa, onde a mesma chorou e me acusou de não ter dado importância o suficiente para seu perfume (mesmo depois de eu ter me afogado de tanto borrifar a fragrância). A feição de desgosto de meu pai e minha irmã Laura enquanto eu me despedia deles para levar minha noiva para a casa sempre se fazia presente quando nós brigávamos e ela tinha a mesma atitude.

-O que vamos fazer hoje á noite?- Adam me tirou de meus devaneios com sua pergunta e antes que eu pudesse formular uma resposta, Lino tinha sido mais rápido.

-Como as meninas nos levaram para uma noite delas, nada mais justo que nós apresentarmos uma noite dos rapazes.- O rapaz soltou sem pestanejar. Eu concordaria com sua sugestão se não tivéssemos tão acabados da madrugada anterior.

 -Não podemos ficar aqui comendo e relaxando? Eu estou muito cansada.- Cristiana grunhiu em insatisfação ao receber um aceno negativo vindo de Marco.- Cris, viemos curtir. Nada de relaxar.

- Eu adoraria subir agora e dormir o resto da noite até amanhã.- Adam jogou sua cabeça para trás, apoiando sua nuca na cadeira e lançando um olhar incentivador para mim. - O que você acha? Subir ou ficar aqui.