Capítulo 6 - Sem explicação, apenas sinto

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É possível algo dessa forma acontecer? Destino? Coincidência? Bom, eu não sei, mas admito que eu estava adorando. A forma como Viola pousou naquele quarto foi o melhor acaso possível que poderia ter acontecido comigo. Em apenas algumas horas que ela e seus amigos estiveram comigo, eu pude esquecer toda a tensão que antes pairava sobre mim, como carniceiro persegue um animal morto.

Eram exatas quatro horas da manhã, todos do iate estavam tão bêbados que me espantava a forma como conseguíamos ficar de pé. Tudo tinha acontecido naquela madrugada, Marco e Cristiana já tinham se beijado diversas vezes, Carlos havia pedido Lúcio em casamento quatro vezes, Adam ligou para sua namorada chorando e se declarando e Viola tinha rasgado seu vestido, obrigando Lino a lhe dar sua camisa, se não todos veriam sua lingerie. Eu não poderia oferecer a minha, uma vez que a mesma estava jogada pelo chão da cabine do capitão junto com a de Adam, depois de eu e meu amigo começarmos um pequeno strip-tease no andar de cima para todos. Nós arrancamos nossas peças de cima, mas o capitão (que provavelmente estava mais alucinado que todos ali) tirou a calça. Meus sapatos ficaram perdidos no banheiro juntos com os de Viola, após a tentativa de ajuda-la a limpar suas pernas molhadas de champanhe que Cristiana tinha deixado cair, ela tentava colocar suas pernas dentro do lavatório pequeno, e eu sustentava seu corpo para que não caísse. Infelizmente os dois estavam bêbados demais para notar que havia um chuveiro no banheiro, o que ocasionou na torneira quebrada, inundando o banheiro e nossos sapatos. A maioria dos convidados de Lúcio e Carlos tinham ido logo após o iate retornar ao cais, mas não desembarcamos e pagamos a tripulação para ficar mais um pouco.

Eu nunca tinha feito algo assim antes, beber até cair e fazer besteiras insanas com meus amigos. As festas que frequentávamos, em sua maioria, eram jantares ou leilões beneficentes, onde sempre se mantinha um ambiente familiar. As outras vezes que conseguíamos beber sem a supervisão dos olhares alheios, era na casa de Lino, quando a temporada de fórmula 1 começava e podíamos ficar torcendo por nossas equipes favoritas, sem a preocupação de que alguém ouvisse nossos xingamentos e piadas infantis.

Os rapazes estavam se sentindo confortáveis de agirem como eles mesmos perto do grupo de Viola, Adam tinha tomado Lúcio como seu melhor amigo, visto que ele tinha contado praticamente toda sua história de vida para o rapaz de óculos, como uma sessão de terapia voluntária. Marco conseguiu adquirir uma personalidade muito mais sensível depois de algumas horas de convívio com Cristiana e Viola, logo que elas o repreendiam a cada comentário ofensivo e bobo e explicavam porque ele não podia falar aquilo, como se educassem uma criança de cinco anos. O mais cômico dos fatos era que tudo isso ocorria enquanto todos estavam bêbados, ou seja, as repreensões eram acompanhadas de falas emboladas e falta de equilíbrio.

Eu também estava mudado, não tinha pensado um minuto sequer sobre minhas preocupações, apenas estava aproveitando a carta branca auto doada e me liberando um pouco do estresse das últimas semanas. O Thomaz estranharia a forma como o Lorenzo é mais solto e leve. Foi difícil manter a minha nova identidade, algumas vezes os garotos me chamavam pelo nome de Lorenzo e eu simplesmente não os atendia, pois esquecia que estavam se referindo à mim. Meu noivado se esvairia da minha mente todas as vezes que Viola vinha falar comigo. Depois de vários shots, nossas conversas se tornaram piadas, e de piadas foram para flertes. Ela percebia que eu a olhava e sorria sem pretensão alguma de querer me fazer parar. Não era algo maldoso ou forçado, apenas estávamos gostando bastante da companhia um do outro.

Agora com o dia amanhecendo e as músicas um pouco mais calmas, todos se sentaram e decidiram aproveitar o resto de comida que tinha sobrado e se hidratar, pois a ressaca que nos aguardava iria ser certeira. Me sentei na parte da frente do iate, ao lado de Adam, que estava com sua aparência completamente desgrenhada. Cabelos bagunçados e calçados trocados, olhos pequenos e as maçãs do rosto um pouco avermelhadas, era a imagem absoluta da embriaguez, eu deveria estar igual ou até pior. Olhei para minha frente e aproveitei a bela vista: O nascer do sol. Ainda não podia ver com clareza, mas iluminava o céu com raios alaranjados e suaves.

Entre Acasos CorrespondentesOnde histórias criam vida. Descubra agora