PRÓLOGO

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POV Josh Beauchamp 

Quatorze anos antes

— Papai, pode pegar o Pluto?

— Claro, girassol.

Levanto-me da cama e busco seu cãozinho de pelúcia no móvel, acomodando-o ao seu lado.

— Tudo certo agora, princesa?

Confiro seu cobertor, apalpo o travesseiro, e minha filha me olha com o semblante triste.

E isso esmaga o meu coração.

Já não basta a dor que eu carrego no peito por ter perdido alguém que eu amava por minha culpa, ainda preciso ver a tristeza nos olhos de uma criança de quatro anos de idade por ter perdido a mãe.

Toco os cabelos macios de Joalin e faço um cafuné, vendo a pequena soltar um suspiro baixo.

— Posso pedir só mais uma coisinha? — a sua voz baixa apunhala o meu peito.

— Pode o que você quiser, meu amor.

— Papai, dorme comigo hoje? Eu não quero ficar sozinha.

E aquele medo em seu olhar me golpeia mais uma vez, porque ele não deveria estar ali.

Ela deveria estar sorrindo, se divertindo, e não vivendo o luto de uma forma tão precoce.

— Mas vai ter que dormir abraçadinha comigo, se não o papai não vai caber na sua cama — sugiro, tentando aliviar um pouco a tensão.

Ela concorda de pronto e isso faz o meu coração bater um pouco mais calmo.

— Eu prometo ficar quietinha.

Tiro os chinelos e apago a luz do quarto, deixando apenas o seu abajur aceso.

Acomodo-me ao seu lado na cama e entro nos cobertores, vendo minha pequena se aconchegar em meus braços, agarrada ao Pluto, seu fiel companheiro.

— Pode dormir, Lin. O papai vai ficar aqui com você.

Beijo seus cabelos e encosto a cabeça na dela, acariciando os fios macios e cheirosos.

Só o cheirinho da minha filha para me trazer um pouco de conforto agora.

— Papai... — sua voz infantil surge, após um longo silêncio. — Por que o Papai do Céu levou a mamãe?

E essa pergunta estilhaça o meu coração.

Em milhares de pedacinhos.

— Filha... — Beijo seus cabelos mais uma vez e penso numa forma de responder isso para uma criança de apenas quatro anos. — Eu não sei... Dói muito, não é? — pergunto e ela acena, balançando a cabeça devagar. — O papai também está sentindo muita falta dela. Está doendo muito...

Fecho os olhos e luto contra a vontade de chorar, porque não quero fraquejar perto dela.

Eu não posso fraquejar perto dela.

Preciso engolir a dor e ser forte pela minha filha.

Ela precisa de mim.

— E um dia ele vai devolver ela pra gente?

Comprimo os lábios e sinto um bolo se formar em minha garganta.

— Infelizmente não, girassol. A mamãe não vai voltar... Mas nós vamos encontrá-la um dia, sabia?

— Nós vamos?

— Sim... — Continuo acariciando os seus cabelos e, mesmo com a iluminação baixa, vejo o quanto ela me observa atenta. — Quando chegar a nossa hora, nos encontraremos todos lá em cima.

— Ah... E será que demora muito?

— Não sei, filha. Mas ainda temos muitas coisas incríveis para fazermos juntos antes disso.

A pequena assente, aconchegando-se mais em meu peito. — Eu tô com saudade dela.

Ah, filha...

Eu também estou...

Você não faz ideia do quanto.

Porra...

São só três dias desde que o meu mundo desabou e parece que foi uma eternidade.

É uma dor sufocante, uma sensação de impotência...

Caralho!

— Eu também, princesa. O papai sente muita falta dela. Mas olha, de onde ela estiver, ela vai sempre cuidar da gente.

— É mesmo? — pergunta, erguendo os olhos azuis para mim.

— Claro que sim, girassol. A mamãe vai cuidar de você lá de cima. E o papai vai cuidar de você por aqui, combinado? Eu nunca vou sair do seu lado.

Afasto-me dela um pouquinho e toco seu rosto lindo, vendo-a assentir um pouco mais relaxada. Sei que está devastada, sei que ainda sente uma dor dilacerante, assim como eu, mas estou tentando dar o meu melhor para que ela não se sinta sozinha.

Temos um longo caminho pela frente, mas farei de tudo para preencher um pouco do vazio em seu coração que a ausência de sua mãe trouxe.

— O papai vai cuidar de você, Lin — prometo, acolhendo-a em meus braços mais uma vez.

— E eu posso pedir só mais uma coisinha?

— Claro que pode.

— Não quero que o Papai do Céu te leve com ele. Não quero ficar sozinha.

O seu pedido, ainda que inocente, apunhala a minha alma.

Porra...

— Eu sei que não, meu amor. Mas o papai está aqui com você, não está? — pergunto e ela faz que sim. — Então pronto. Eu sempre farei o impossível para não sair de perto de você, combinado?

To be continued...

Tudo o que eu não posso ter - B E A U A N YOnde histórias criam vida. Descubra agora