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POV Any Gabrielly 

Sento-me na cama e corro as mãos pelo lençol branco, sentindo mais uma vez aquela vontade de chorar me tomar.

Ainda não acredito que perdi tudo...

Que fui mesmo embora, deixando tudo para trás.

Olho para o quarto de hóspedes da casa da minha amiga e sinto um nó na garganta.

É um cômodo muito bonito e limpo, onde fui acomodada. Aqui há uma cama, mesinha de cabeceira, uma cômoda de madeira e um banheiro anexo a ele.

Quando minha amiga me acomodou aqui, ela trouxe consigo algumas coisas suas que eu pudesse usar e me disse mais de uma vez que eu ficasse à vontade em sua casa.

Que essa seria a minha agora...

Só de pensar nisso, uma lágrima solitária me escorre.

Ainda bem que tenho Joalin comigo, senão eu estaria perdida...

A uma hora dessas, certamente estaria em algum abrigo público, passando a noite com inúmeras pessoas desabrigadas.

Desabrigada...

Só de pensar nessa palavra, já sinto aquela dor no peito mais uma vez me invadir.

Estico a mão e toco o porta-retratos na mesinha de cabeceira com a única foto que consegui trazer de lá.

Dentre todas as recordações, de todas as lembranças, só ela...

Ah, mãe...

Me perdoa por não ter conseguido salvar a nossa casa, salvar as nossas memórias.

Me perdoa...

Quando a chuva passar e escoar toda a água do bairro, quero voltar lá para ver se há algo mais que eu consiga recuperar ou se realmente perdi tudo.

Solto um suspiro e encaro tudo ao meu redor mais uma vez. Deus...

Ainda não acredito que isso tenha acontecido comigo.

Logo comigo...

Como vou recomeçar?

Como vou reconstruir uma casa? Se meu salário cobre apenas as minhas despesas mensais?

Pensar em tudo isso me sufoca, me traz mais uma vez aquela vontade de chorar.

Chorar de soluçar.

Decido não pensar mais nisso por hoje, caso contrário ficarei maluca.

Levanto-me da cama e começo a me preparar para dormir. Busco um pijama na pilha de roupas que Joalin me emprestou. Visto-me e vou até o banheiro da suíte para fazer a minha higiene noturna. Quando volto, sento-me na cama para a última medição de glicemia do dia e vejo que está estável.

Estou terminando de fechar a bolsinha, quando ouço uma batida leve à porta.

— Pode entrar — falo e a imagem do pai da minha amiga surge à minha frente.

Seu semblante sério e olhar intenso me faz engolir em seco.

Josh...

Eu ainda nem sei como lhe agradecer por tudo o que me fez hoje. Quando Lin me contou que foi ele que se lembrou da minha casa e movimentou tudo para o meu resgate, eu fiquei com o coração agitado aqui dentro.

Ele não é nada meu, mas ainda assim fez tudo...

— Oi... — a voz grossa me arrepia inteira.

— Oi... — respondo, baixando o olhar por um momento.

Tudo o que eu não posso ter - B E A U A N YOnde histórias criam vida. Descubra agora