POV Josh Beauchamp
— Hoje eu quero falar com vocês sobre alguns erros básicos que percebi que estão cometendo nas posições. Por causa disso, acabam entrando na guarda, tomando raspagem ou até mesmo finalizados.
Olho para o time de crianças à minha frente, que me encara atento.
Duas vezes por semana eu separo um momento do meu dia para vir ao projeto Acolher, que ensina vários esportes e artes a crianças da periferia. Como faixa preta em jiu-jitsu, sou o mestre desses pequenos. Eu e Noah, meu parceiro.
Já são mais de cinco anos sendo voluntário nesse projeto que só tem crescido a cada dia. Dá um orgulho imenso saber que estamos ocupando o tempo desses pequenos com coisas construtivas e os deixando cada vez mais distantes do mundo do crime.
— Então vou passar para vocês algumas dicas importantes para usarem, principalmente quando estiverem dentro da guarda do adversário.
Observo as doze crianças vestidas de quimono e todas sinalizam para mim em concordância. Elas me respeitam e ouvem com bastante atenção tudo o que estou disposto a ensinar.
— Noah! — chamo meu amigo em um gesto e ele se coloca ao meu lado.
Nos ajoelhamos no tatame e eu sinalizo para que ele se posicione abaixo de mim.
— Observem com atenção, porque tudo isso é muito importante para quem estiver passando a guarda, ok?
Todos assentem e eu continuo.
Ajoelhado, abro as pernas e me posiciono acima de Noah, segurando a lapela de seu quimono.
— Quando o Noah está com a guarda fechada aqui. — Neste momento, meu amigo cruza as pernas em minhas costas e me puxa pela lapela do quimono. — A intenção dele é me puxar para ele, onde meu quadril fica leve. — Para exemplo, Noah me puxa e eu caio em cima de seu corpo. — Mas, se eu resisto muito para trás, ele sobe e usa a minha própria força, me derrubando. Então aqui nós já temos dois erros.
Repetimos novamente os movimentos diante das crianças, para que elas absorvam todas as dicas.
— Um outro erro muito comum é colocar a mão acima do peito, na lapela do adversário. — Replico o movimento. — Aqui o meu braço está muito vulnerável. — Aponto para o membro esticado. — Então o Noah pode atacar os meus braços e fica muito difícil para que eu volte.
Fazemos todos os movimentos mais de uma vez para que elas consigam entender.
— Conseguem perceber? — indago e recebo um coro em confirmação. — Certo. Outro detalhe importante é a posição dos meus pés. Os dois polegares estão encostados no chão, conseguem ver? Dessa forma eu consigo me levantar com facilidade quando necessário. E os joelhos sempre abertos — reforço. — Eles não podem ficar fechados.
Explico com todo o cuidado e da forma mais didática possível a eles.
— Então aqui, pessoal, eu estou na postura ideal. Nem muito para a frente, nem muito para trás. Ok? Então, se o Murilo me puxar pela lapela e a minha mão estiver abaixo de seu peito, eu impeço a raspagem. Conseguem entender?
Quando todos assentem, eu repasso mais uma vez esses erros básicos e me levanto do tatame.
— Ótimo. Agora eu quero vocês treinando e evitando esses erros antes de prosseguirmos, ok?
Com a ajuda de Noah, acompanhamos as duplas e damos todo o suporte para essa turma que é iniciante na luta. Já temos outras avançadas, mas essas crianças de hoje estão tendo contato com o esporte há pouco tempo.
O treino corre de forma tranquila, só percebo meu amigo calado demais. E isso não é algo de seu feitio.
— Certo, pessoal. Por hoje é só — anuncio o término do treino. — Na semana que vem já vou passar para vocês algumas raspagens básicas, ok?
As crianças assentem animadas e eu recebo abraços calorosos de alguns. É sempre um momento muito gratificante que eu passo com cada um deles.
Quando deixamos o salão e seguimos para o vestiário, noto Noah seguir direto para o chuveiro ainda em silêncio. Espero para ver se vai me dizer qualquer coisa, mas, quando nos trocamos e nos preparamos para sair, eu o abordo.
— Está tudo bem, cara? Você mal trocou uma palavra hoje. Ele me encara e balança a cabeça negando.
— Foi mal, hoje não estou uma boa companhia.
— Quer conversar? Somos parceiros, sabe disso.
Noah acena e joga a mochila nas costas, seguindo-me até o estacionamento.
Quando paramos ao lado da minha moto, ele me encara parecendo um pouco constrangido.
— O que está pegando?
— Acho que a Sina está me traindo... — solta e eu arregalo os olhos.
— Como é que é? — Minha reação é de puro espanto, já que os dois estão juntos há mais de quinze anos e sempre se deram muito bem.
— Ela está muito esquisita, Josh — diz com a voz baixa. — Mal tem conversado comigo, olhado na minha cara... E agora deu para rejeitar qualquer contato físico.
— Caralho... — Esfrego as mãos na barba, negando-me a acreditar. — E isso foi do nada?
— Já faz uns dias que tenho notado seu distanciamento. Mas hoje vê-la se estremecer e recuar quando toquei nela acabou comigo.
— Que estranho isso, Noah...
— Porra, Josh. Eu faço de tudo por aquela mulher! Juro que não sei onde falhei para ter merecido isso.
— Calma, cara — falo, tocando o seu ombro. — Talvez não tenha sido isso. Talvez seja algum problema que ela está enfrentando...
— Problema nenhum nunca distanciou a minha mulher de mim, Josh. Ela só pode ter encontrado outra pessoa...
E a tristeza em seu semblante por falar isso em voz alta acerta o meu peito.
— Já tentou conversar com ela? — indago e ele nega.
— Sina não está nem falando comigo...
— Mas ela tem alguma amiga com que deve se abrir, não? Investiga isso, porra. Vê o que está acontecendo. Quem trai costuma agir na cara de pau mesmo e essa história está muito esquisita.
Noah corre as mãos pela barba e balança a cabeça, soltando um suspiro.
— Vou ver o que consigo descobrir.
— Pode ser que ela esteja tendo problemas, não se precipite. Vamos descobrir o que é.
— Está certo. — Dá de ombros. — Valeu, Josh.
— Você esteve comigo na pior, Noah — relembro e meu amigo assente. — Isso aí não é nada.
Ele balança a cabeça e se vira para sair.
— Vai ficar tudo bem, cara. Vamos resolver isso — garanto e Noah assente, virando-se para me deixar sozinho.
E aqui, parado, minha mente fervilha.
Meu faro não costuma errar e isso que meu amigo está me contando não me cheira a traição.
Não sei...
Alguma coisa está acontecendo e precisamos descobrir o que é.
Não vou descansar até que isso aconteça.
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To be continued...
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Hey amores, passando aqui só para lembrar que essa fanfic é uma adaptação, então se tiver alguma coisa errada, é só me avisar, pois pode ter passado despercebido. Não esqueçam da ⭐️ desse capítulo!
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Tudo o que eu não posso ter - B E A U A N Y
FanfictionO delegado federal Joshua Beauchamp não possui muitas ambições na vida, a não ser dar à sua filha tudo o que ela merece. Viúvo, nem sequer tem a intenção de se apaixonar novamente. Any Gabrielly perdeu a mãe recentemente e pensou que já estava no fu...