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POV Any Gabrielly 

A tempestade cai lá fora e eu a acompanho pela janela do meu quarto, vendo a correnteza se formar na rua. Houve um tempo da minha vida em que eu tinha medo de chuvas fortes, mas hoje simplesmente me acostumei com elas. Aprendi a lidar com meus próprios fantasmas desde que passei a morar sozinha.

Não tive outra escolha, afinal.

Quando o nível da água sobe na rua e começa a entrar pelo portão, me sobe um sinal de alerta.

Será que vai entrar dentro de casa?

Dou um pulo da cama e calço os chinelos, seguindo pela minha casa até a porta principal. Já é noite e os raios que estalam o céu fazem um enorme clarão. A chuva cai cada vez mais forte, intensa, sem dar nenhuma trégua.

Estou abraçada ao meu corpo, vendo o nível da água subir de uma maneira assustadoramente rápida, até tocar meus pés.

Ai, meu Deus...

Será mesmo que isso vai acontecer logo comigo?

Quando começa a subir na altura dos calcanhares, eu desperto do transe e começo a agir.

Eu preciso sair daqui.

Atravesso a casa correndo e vou direto para o meu quarto. Troco o pijama e chinelos por calça jeans, camiseta, jaqueta e galocha nos pés.

Abro o guarda-roupa e puxo uma mala lá de cima, abrindo sobre a cama para pegar o que consigo de mais importante. Roupas, calçados, cosméticos e meus itens de dia a dia. Busco meu estoque de insumos para diabetes e a pasta onde guardo meus laudos e exames médicos.

A água já está chegando ao meu quarto quando atravesso os corredores e vou até a sala, pegar todos os porta-retratos que encontro sobre o rack. A sensação que eu tenho é de que vou perder tudo neste lugar, então tento salvar o máximo de coisas que são importantes para mim.

A casa está inundada até a altura da minha panturrilha quando me lembro dos gavetões da estante onde havia vários álbuns antigos da minha infância. Recordações lindas com a minha mãe, que estão simplesmente ensopadas.

Tento pegar o que consigo, a água batendo na perna, e a sensação de desespero começa a tomar conta de mim.

O nível da enchente está cada vez mais alto e eu preciso sair daqui.

Sigo para a cozinha, pego algumas sacolas para colocar os álbuns molhados e procuro por uma caixa térmica. Subo em um banquinho para buscar no alto do armário e encontro lá exatamente o que preciso.

Quando piso no chão, sinto a água quase chegando na altura do meu joelho e corro para abrir a geladeira a fim de pegar minhas canetas de insulina. O movimento enche o eletrodoméstico de água e eu lamento por perder os alimentos guardados ali.

Dentro do freezer, busco bolsas de gelo e acomodo na caixa térmica para proteger e conservar as insulinas.

Estou voltando para o quarto, quando ouço o meu celular tocar em cima da cama, e o nome da minha amiga surgindo na tela é um alívio para mim.

Em toda essa correria para juntar o que preciso, acabei me esquecendo de ligar para pedir ajuda.

— Amiga, você está bem? — ela me pergunta logo que atendo sua ligação.

— Estou, Lin. Mas minha casa está toda alagada. — Meu Deus, Gaby! Já estamos indo te buscar!

— Obrigada, amiga. Já tem água no meu joelho. — Não vamos demorar, eu prometo!

Tudo o que eu não posso ter - B E A U A N YOnde histórias criam vida. Descubra agora