05

63 8 0
                                    

POV Any Gabrielly 

— Já fechei o cronograma mensal da churrascaria, Gaby — é Sabina, a responsável pelo planejamento de conteúdos, que me avisa.

— Certo. O cliente já aprovou? — indago e minha colega de trabalho confirma. — Ok, eu vou só acabar o material da papelaria e já os pego na sequência.

— Fechou!

Balanço a cabeça e me concentro cem por cento neste trabalho. Estou desenvolvendo um design lindo para uma papelaria fofa que é cliente da agência onde trabalho. Delicado, em tons pastéis, exatamente como pediram. Embora eu trabalhe muito e seja um tanto cansativo, eu amo o que faço. Passo horas dos meus dias mergulhada no Photoshop entregando sempre o meu melhor.

E, durante esse tempo, acabo esquecendo um pouco como minha vida é completamente sozinha.

Trabalhar é a melhor distração que eu poderia ter.

Quando finalizo o trabalho e salvo todos os arquivos, decido tomar um café antes de seguir para o próximo cliente.

Faço a minha rotineira medição de glicemia e sinto um alívio por saber que está tudo bem. Sirvo-me de uma caneca de café preto sem açúcar e dou um gole quando vejo Sabina adentrar a cozinha.

— Ai, Any, está armando um chuvão lá fora...

— Em Curitiba? Jura? — ironizo e ela faz uma careta antes de se servir de um pouco de café também.

— Mas agora parece que é bem forte.

— O que também não me surpreende — rebato e ela suspira, despejando um pouco de açúcar em sua bebida.

— Eu só queria viver em uma cidade onde fizesse sol o ano inteiro, é pedir muito?

— Mude-se daqui então — sugiro, dando de ombros.

— Quem dera se fosse fácil...

— Eu gosto daqui — falo, indo até a janela para ver o tempo fechado. — Gosto da chuva, apesar de tudo.

— Você não se imagina morando em outro lugar? — Lorena me pergunta e eu penso por um instante antes de responder.

— Acho que não... Eu posso não ter ninguém aqui mais, Lore — falo, sentindo meu peito se apertar. — Mas nasci aqui. Curitiba é o meu lar.

— Pois eu, no seu lugar, já estaria a quilômetros daqui. — Suspira e eu rio baixo.

É bem verdade que eu não tenho nada que me segure em uma das cidades mais chuvosas do Brasil, mas ainda assim...

Esta cidade é linda, aconchegante, é o meu lar... Para onde mais eu iria?

— Quer rosquinha? — oferece, despertando-me de meus pensamentos.

— Não, Saby. Obrigada!

Ela assente e enfia a mão no pote de vidro, pegando algumas para comer.

Logo adentramos no assunto de trabalho, distraindo um pouco a minha mente até que outros colegas chegam à sala.

Aqui trabalhamos em oito pessoas no total. Cada um com sua responsabilidade aqui dentro. Eu sou do setor de desenvolvimento de artes e, além de mim, temos mais dois designers. Embora a agência não seja a maior da cidade, temos uma boa cartela de clientes e atendemos não só na capital, mas em cidades do interior do Paraná.

Consegui esse emprego quando ainda cursava Publicidade e Propaganda e só eu sei o quanto me ajudou. Ainda que eu tivesse minha mãe comigo, não era uma missão fácil para ela manter a casa e arcar com o meu tratamento de diabetes.

Tudo o que eu não posso ter - B E A U A N YOnde histórias criam vida. Descubra agora