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POV Any Gabrielly

— Amiga, você não vai comer nada mesmo? — Joalin me pergunta logo que fechamos nossos pedidos com o garçom.

Eu pedi apenas um drinque com suco de frutas e ela, uma porção de petiscos, além de sua bebida.

— Eu já comi antes de sair de casa, Lin — explico a ela, um pouco alto demais devido ao som do barzinho onde estamos. — Prefiro apenas beber uns drinques com você.

— Então, se você já está alimentada, tudo certo!

Minha amiga sorri para mim e eu penso na sorte de ter alguém tão incrível na minha vida. Quando perdi a minha mãe, meu mundo desabou e foi essa garota aqui que esteve ao meu lado segurando as pontas para mim, não me permitindo desistir.

Enquanto eu crescia, éramos apenas eu e minha mãe no mundo e perdê-la foi algo muito difícil para mim. Continua sendo, na verdade, mas tenho vivido um dia de cada vez. Tem sido um pouco menos difícil a cada dia.

— Gaby, você já tem planos para amanhã? — ela me pergunta logo que nossos drinques chegam, e tomamos um gole pelo canudinho.

— Ver seriados o dia todo. — Dou de ombros e ela ri.

— E você poderia mudar esses planos caso surgisse uma ideia melhor? — Sua sobrancelha arqueia e ela me dá uma piscadinha.

— O que tem em mente, dona Joalin?

— Amanhã meu pai vai estar de folga e eu pedi para ele fazer um churrasco pra gente. Você topa?

— Claro que eu topo! A que horas eu posso ir?

— Ah... Como vamos chegar em casa tarde hoje, não precisaremos acordar cedo amanhã. Pensei em meio-dia, pode ser?

— Perfeito, Lin. Assim dá tempo de eu me organizar para ir.

Minha amiga bate palmas de empolgação e eu sorrio.

Sei o quanto ela tem se esforçado para me distrair nesses últimos meses e só consigo me sentir grata por tudo isso.

— Meu pai ia adorar essa música — diz quando a banda começa a tocar "Epitáfio", de Titãs.

— Ele gosta? — pergunto, bebendo mais um pouco do meu drinque.

— Da banda não muito, mas dessa música sim.

— Ele não quis vir hoje? — indago e ela faz uma careta.

Embora sejamos amigas de longa data, conheço mais de seu pai pelo que ela fala, já que convivo muito pouco com ele.

Josh Beauchamp é um cara de poucas palavras e eu sempre me senti um meio intimidada em sua presença. 

— Tirar meu pai de casa é quase um fenômeno da natureza, Bá — ela solta e eu rio baixo. — Às vezes ele sai com a turma do trabalho para um happy hour depois do serviço, mas hoje não é um desses dias.

— É o jeito dele, Lin. Não pode forçá-lo a algo que não queira.

— Eu sei. — Ela faz um biquinho fofo. — É só que me preocupo com ele, sabe? Meu pai é muito novo para ser tão sozinho.

A porção de petiscos dela chega e minha amiga começa a beliscar, enquanto ouvimos a música ao vivo.

— Ele só tem quarenta e três anos — retoma o assunto e eu me inclino para ouvi-la melhor. — E quase não se diverte, não sai com os amigos... Nem sei se meu pai se encontra com mulheres — ela fala mais baixo agora.

— Pode ser que ele faça e não deixe que você fique sabendo. — Dou de ombros.

— É... Pode ser. Mas ainda assim... Não namorar ninguém? Nunca mais? Ele é viúvo há quatorze anos, Gaby. Já deu tempo de encontrar uma nova pessoa.

Tudo o que eu não posso ter - B E A U A N YOnde histórias criam vida. Descubra agora